Como é o telescópio montado em avião que ajudou a descobrir água na Lua
A descoberta contou com a contribuição fundamental do telescópio Sofia
Encontraram água na Lua! Bom, isso nem é uma novidade, a gente já sabia há alguns anos que as regiões eternamente encobertas por sombra na Lua continham um pouco de gelo. A descoberta é surpreendente por outro motivo: dessa vez, encontraram água em áreas que recebem luz solar diretamente. Como diz o pesquisador Casey Honniball, líder do trabalho, “sem uma atmosfera espessa, a água em áreas iluminadas deveria ser perdida para o espaço. Algo está gerando água, e algo a deve estar prendendo lá.”
O resultado é inesperado, e levanta questões interessantes sobre a origem da água no sistema solar e em outros corpos na galáxia. Como a água é processada geologicamente durante a formação de planetas e satélites?
Um telescópio voador
A descoberta contou com a contribuição fundamental do telescópio Sofia. Único no mundo, ele está instalado em um Boeing 747, que voa periodicamente a cerca de 40 mil pés para investigar o cosmos.
A instalação de um telescópio em um avião a jato comercial foi uma solução engenhosa para um problema físico: a radiação infravermelha é em grande parte bloqueada por nossa atmosfera. Para poder observar algo fora da Terra, precisamos estar acima dessa camada de ar, como um nadador que nada próximo à superfície da água (mas ainda dentro dela) para poder ver o que está acontecendo ali fora.
O mais complicado talvez seja estabilizar o telescópio, afinal qualquer pequeno movimento pode arruinar as observações. E o avião está em movimento! Então a solução é (1) montar o telescópio em um rolamento pressurizado, (2) modificar o lado do avião de modo a desviar o vento (lembrem que a porta do avião deve estar aberta para o telescópio!) e (3) estabilizar o movimento do sistema com três giroscópios. É uma engenharia e tanto, de dar inveja a qualquer câmera de celular.
Não seria mais simples usar um telescópio em órbita? Bom, depende do que você chama de simples. Do ponto de vista de eficiência científica, claro, a contaminação é bem menor. Ao mesmo tempo, devemos lembrar que o custo é muito mais alto. Dessa forma, o Sofia apresenta uma relação custo-benefício extremamente vantajosa.
Mas será que isso tudo é tão importante? É sim, porque é justamente no infravermelho que podemos detectar sinais de água. As moléculas nunca estão paradas, e em particular a molécula de água tem um “movimento” característico em que os dois átomos de hidrogênio estão vibrando em relação ao átomo de oxigênio.
Essa vibração emite uma energia característica: os fótons de radiação infravermelha detectados pela equipe de astrônomos, uma assinatura inconfundível da presença de água na superfície investigada.
Colônias lunares?
A descoberta também animou os aficionados pela exploração espacial, com a possibilidade de usarmos as reservas de água para o estabelecimento de colônias e terraformação da Lua.
Mas calma lá, gente. É importante lembrar que a quantidade de água encontrada é de apenas algumas centenas de partes por milhão, ou 100 vezes menos que a quantidade de água no deserto do Saara. Ou seja, dificilmente é suficiente para sustentar qualquer colônia ou vida no satélite, pelo menos até que sejamos capazes de desenvolver novas tecnologias para extrair a água de forma muito eficiente.
Por enquanto, acho que o mais importante é o ineditismo científico da descoberta. Uma nova possibilidade de formação e captura de água por corpos em sistemas planetários.