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Como os usuários de esquerda e direita se comportam nos aplicativos de relacionamento

Tentando dimensionar se a polarização política vivenciada no Brasil afetava os relacionamentos amorosos, um estudo…

Tentando dimensionar se a polarização política vivenciada no Brasil afetava os relacionamentos amorosos, um estudo desenvolvido pelo Grupo de Políticas Públicas para Acesso à Informação da USP investigou a presença de marcas de identidade política, como Lula Livre e B17, em usuários de um aplicativo de relacionamentos. A conclusão aponta que os usuários de esquerda deixam o posicionamento político mais explícito que os de direita.

O estudo investigou 48 mil perfis de pessoas entre 18 e 54 anos de diversas regiões da cidade de São Paulo e separou as marcas de identidade por sexo, idade e bairro. Os dados foram recolhidos de maneira anônima.

Alguns resultados surgiram de forma mais surpreendente para os pesquisadores, entre eles, a desproporção entre as aparições das marcas de direita e esquerda. Pablo Ortellado, professor de políticas públicas da USP, pontua que não é possível precisar a motivação por trás desse resultado, mas que algumas hipóteses podem ser levantadas:

— Não esperávamos desproporção grande entre a esquerda e a direita. É um achado importante e surpreendente. O mais simples é que pessoas de esquerda rejeitam mais o relacionamento com apoiadores do presidente, mas podem ser outras coisas. Talvez, pessoas de direita não usem tanto o aplicativo por serem mais conservadoras, ou então não se manifestam com mensagens explícitas, como as que procuramos (B17, Ele Sim), mas através de fotos, por exemplo.

O estudo pontua que a conjuntura política não é suficiente para explicar esse resultado, uma vez que os dados foram recolhidos em um período no qual os índices de rejeição e apoio ao presidente estavam equilibrados — entre os dias 14 de julho e 10 de agosto.

A maior frequência das marcas de esquerda conversa com um outro dado apontado pelo estudo: a geolocalização. As marcas de identidade política são quase duas vezes mais frequentes nos bairros centrais do que nos bairros periféricos. Ortellado pontua que a diferença era esperada, uma vez que diversos estudos pontuam que o engajamento político normalmente cresce com a escolaridade — maior nos bairros centrais de São Paulo, onde um em cada 15 usuários deixa seu posicionamento registrado.O estudo também descobriu que as mulheres aparecem com mais marcações de identidade política do que os homens.— Muitos estudos já mostraram que as mulheres têm um comportamento mais seletivo. Nos aplicativos de relacionamentos, os homens marcam todas as mulheres para ampliar as chances, enquanto elas dão o “match” de forma mais seletiva, determinada — explica Ortellado.