Contas externas têm déficit de US$ 11,8 bi em janeiro
É o maior nível para o mês desde 2015, segundo o Banco Central
As contas externas registraram saldo negativo de US$ 11,879 bilhões, em janeiro, informou hoje (21) o Banco Central (BC). Em janeiro do ano passado o déficit em transações correntes (contas externas), compras e vendas de mercadorias e serviços e transferências de renda do Brasil com outros países, era menor: US$ 9,045 bilhões. O déficit de janeiro deste ano foi o maior para o mês desde de 2015, quando foi registrado saldo negativo de US$ 12,010 bilhões.
Segundo o BC, o aumento do déficit no início deste ano decorreu do saldo negativo da balança comercial (exportações e importações de mercadorias), chegando a US$ 2,563 bilhões. Em janeiro de 2019, houve superávit comercial de US$ 1,056 bilhão.
De acordo com o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, o resultado da balança comercial foi impactado pelo recuo de 19,5% nas exportações de bens, que totalizaram US$ 14,501 bilhões em janeiro de 2020, contra US$ 18,023 bilhões, em igual mês de 2019. Segundo ele, geralmente, as exportações são menores em janeiro, mas neste ano foram afetadas pela crise argentina que reduziu a demanda por manufaturas brasileiras, pelos impactos do desastre de Brumadinho e pela desaceleração da economia chinesa.
Rocha disse ainda que não há dados suficientes para confirmar que o coronavírus esteja impactando as exportações brasileiras, mas há sinais de que isso acontece por efeito da ampliação do feriado na China e fechamento de fábricas. “A gente não tem ainda informações para comprovar ou refutar essa hipótese. É provável que tenha tido uma diminuição da demanda chinesa”, disse.
Rocha acrescentou que o maior pagamento de juros para investidores estrangeiros também contribuiu para o crescimento do déficit em transações correntes. Em janeiro, as remessas de juros chegaram a US$ 4,002 bilhões contra US$ 4,617 bilhões no mesmo mês do ano passado.
No total, a conta renda primária (lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários) ficou negativa em US$ 6,766 bilhões no mês, contra US$ 7,272 bilhões, em janeiro de 2019.
A conta de renda secundária (renda gerada em uma economia e distribuída para outra, como doações e remessas de dólares, sem contrapartida de serviços ou bens) teve resultado positivo de US$ 108 milhões no mês, acima do resultado de igual período do ano passado, que ficou em US$ 12 milhões.
A conta de serviços (viagens internacionais, transporte, aluguel de investimentos, entre outros) apresentou saldo negativo de US$ 2,659 bilhões no mês passado, contra US$ 2,841 bilhões, em janeiro de 2019.
Viagens internacionais
Em janeiro, as despesas de brasileiros em viagem ao exterior totalizaram US$ 1,438 bilhão, resultado menor do que em igual mês de 2019, de US$ 1,689 bilhão. Ao serem consideradas as receitas de estrangeiros no Brasil e as despesas dos brasileiros no exterior, a conta de viagens registrou déficit de US$ 857 milhões, em janeiro, o menor déficit para o mês desde janeiro de 2016 (US$ 190 milhões).
A redução dos gastos de brasileiros no exterior, e por consequência, do saldo negativo da conta de viagens internacionais, é explicada pelo dólar mais caro: em janeiro de 2019, a taxa média estava em R$ 3,74, enquanto no mês passado, chegou a R$ 4,15, com alta de 10,9%. “Isso torna os gastos dos turistas brasileiros maiores e com isso há uma tendência de redução nas despesas”, Rocha.
Segundo Rocha, a previsão é de que a redução nas despesas dos brasileiros e do saldo da conta de viagens continue a ocorrer neste mês. Em fevereiro, até o último dia 19, as receitas de estrangeiros em viagem no Brasil chegaram a US$ 316 milhões e as despesas totalizaram US$ 678 milhões, com saldo negativo em US$ 362 milhões. “Estamos caminhando para ter uma redução adicional no déficit de viagens internacionais no mês de fevereiro”, disse. Segundo Rocha, a vinda de estrangeiros para o carnaval no Brasil afeta o resultado da conta de viagens, mas o “efeito da despesa [de brasileiros no exterior] é mais forte”.
Investimento estrangeiro
Em janeiro, o investimento direto no país (IDP) chegou a US$ 5,618 bilhões, contra US$ 5,828 bilhões em igual mês do ano passado.
Quando o país registra saldo negativo em transações correntes, precisa cobrir o déficit com investimentos ou empréstimos no exterior. A melhor forma de financiamento do saldo negativo é o IDP, porque os recursos são aplicados no setor produtivo.
No mês passado, o IDP não foi suficiente para cobrir o déficit em transações correntes, mas Rocha afirmou que a forma mais adequada de fazer essa comparação é com períodos mais longos. Ele destacou que em 12 meses, o IDP chegou a US$ 78,4 bilhões (4,26% do Produto Interno Bruto – PIB – soma de todos os bens e serviços produzidos no país), enquanto o déficit em transações correntes ficou em US$ 52,3 bilhões (2,85% do PIB).
“Os investimentos diretos ainda superam por larga margem as transações correntes e garantem um financiamento estável do balanço de pagamentos”, disse. Rocha explicou que esses investimentos são importantes para o país por contribuir para ampliar a capacidade produtiva e também por melhorar a eficiência.
Para fevereiro, a previsão é que o IDP chegue a US$ 6,1 bilhões. Neste mês, até o dia 19, o IDP estava em US$ 4,4 bilhões. E o déficit em transações correntes deve ficar em US$ 4 bilhões, neste mês.