Coronavírus já estava no esgoto de Florianópolis em novembro, diz pesquisa
Trabalho da UFSC e da Universidade de Burgos, da Espanha, descobre que Sars-CoV-2 circulou no Brasil dois meses antes da primeira confirmação oficial de Covid-19 nas Américas
Um estudo do Laboratório de Virologia Aplicada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), realizado em parceria com a Universidade de Burgos (Espanha), concluiu que o coronavírus Sars-CoV-2 pode ter começado a circular no Brasil muito antes do primeiro caso de Covid-19 no país e nas Américas. O trabalho, que ainda não passou pela revisão de pares e foi publicado na última segunda-feira no portal de artigos científicos medRxiv, encontrou o RNA do patógeno no esgoto de Florianópolis em amostras de novembro de 2019.
Isso significaria que o Sars-Cov-2 estaria circulando na cidade pelo menos dois meses antes do primeiro contágio registrado nas Américas, já em 21 de janeiro deste ano, nos Estados Unidos. No Brasil, o primeiro caso de Covid-19, de um morador de São Paulo que havia viajado à Itália durante o surto da doença no país europeu, foi confirmado em 26 de fevereiro. E em Santa Catarina, somente em 4 de março, 97 dias após a primeira amostra positiva coletada pelo laboratório da UFSC as autoridades locais reportaram o primeiro doente.
Foram avaliadas amostragens de esgoto bruto obtidas mensalmente entre 30 de outubro de 2019 e 4 de março deste ano. A coleta é feita regularmente para outros estudos em virologia e foi aproveitada nas investigações sobre a Covid-19. Por meio de testes RT-qPCR, que quantifica a quantidade de cópias do genoma viral, o novo coronavírus foi encontrado a partir do dia 27 de novembro.
O trabalho foi confirmado por testes interlaboratoriais independentes e utilizou vários marcadores que confirmam a assinatura genética do Sars-CoV-2, informa a autora do estudo, a virologista e professora da UFSC Gislaine Fongaro.
— Nós quantificamos as cópias do genoma do vírus. Temos certeza de que é o Sars-CoV-2 pois existem alguns marcadores no genoma do vírus. Nós utilizamos marcadores independentes, ou seja, o método partiu da proteína S (spike) do vírus, outro utilizando a porção do genoma que codifica o envelope viral e também para a enzima RdRp (envolvida na replicação viral) — afirma Gislaine. — E nós confirmamos os resultados através de testes interlaboratoriais no Laboratório de Biologia Molecular, Microbiologia e Sorologia da UFSC.
A virologista afirma ainda que a descoberta não significa que o novo coronavírus surgiu no Brasil e prevê que, se outros países e até mesmo estados mais afetados no país, como São Paulo e Rio de Janeiro, seguirem o roteiro, terão conclusões similares:
— Acredito que se todos nós conseguirmos acessar esgotos retroativos, a grande maioria vai encontrar o coronavírus. Não significa que foi no Brasil o primeiro lugar em que ele apareceu. Foi um dos primeiros países que avaliou e achou.