Corregedoria da PF investiga suposta recusa de agentes em prender bolsonaristas em Goiás
A Corregedoria-Geral da Polícia Federal investiga suposta recusa de policiais em realizar diligências que resultariam na…
A Corregedoria-Geral da Polícia Federal investiga suposta recusa de policiais em realizar diligências que resultariam na prisão de empresários bolsonaristas envolvidos na promoção da “picanha mito” a R$ 22 e no anúncio em jornal de caminhonete a R$ 222.222,22 —em referência ao número de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas.
Segundo a Procuradoria Regional Eleitoral de Goiás, eles são suspeitos de praticar crimes eleitorais, como propaganda irregular, boca de urna e aliciamento de eleitores.
A Superintendência da Polícia Federal informou que recebeu o pedido do Ministério Público Estadual para apuração dos faltos e realizou diligências que instruirão os inquéritos policiais, mas não se posicionou sobre as acusações contra os policiais.
“Uma vez que a investigação esteja em curso, pela política da Coordenação Geral de Comunicação Social da PF, neste momento, ficamos impossibilitados de fornecer pormenores e/ou detalhes sobre os referidos expedientes”, informou a superintendência, em nota.
De acordo com o documento da Promotoria encaminhado à PF na última terça-feira (25), o primeiro caso ocorreu em 2 de outubro, data do primeiro turno das eleições.
O órgão identificou suspeitas de crimes eleitorais supostamente praticados pelo Frigorífico Goiás, que naquele dia comercializava carne nobre, chamada de “picanha mito”, a R$ 22.
A promoção foi realizada nas cidades de Goiânia e Aparecida de Goiânia, na região metropolitana. No mesmo dia, segundo a Promotoria, os procuradores pediram que a PF agisse por causa da suspeita de crime eleitoral, como boca de urna, que é considerada ilegal.
Na primeira vez, de acordo com o MPE, a equipe da PF informou que não havia sido identificado qualquer tipo de irregularidade na ação.
No entanto, os procuradores constataram que a promoção continuava sendo feita de forma irregular e, pela segunda vez, chamou a PF para que realizasse a prisão em flagrante dos empresários responsáveis pelo frigorífico.
Logo depois, uma equipe da PF teria ido até a Procuradora Regional Eleitoral de Goiás para tentar fazer os procuradores desistirem das prisões em flagrante.
Segundo o documento, o grupo era formado por “número de quatro ou cinco” policiais. Os nomes deles não foram divulgados. Por isso, a reportagem não conseguiu identificar seus advogados.
Um dos policiais federais teria tentado dissuadir os outros policiais federais e os membros do Ministério Público da ação contra os empresários.
“De forma emocional, ultrajante e insistente, levantou diversos argumentos estranhos à lei penal (tais como: diligência geraria desemprego, ‘porque a empresa iria fechar’; o frigorífico estava no livre exercício da atividade comercial; estava havendo politização dos procuradores do MPE etc.) para não realizar a diligência, inclusive a prisão dos envolvidos em flagrante delito”, diz o documento.
Em seguida, os procuradores teriam insistido na necessidade de a equipe da PF ir até a empresa, mas já eram 15h, e a ação promocional havia acabado, o que, segundo o Ministério Público, impediu a efetivação do flagrante.
No último sábado (22), a procuradoria solicitou à PF de Goiás a instauração de inquérito para apurar crimes eleitorais em uma ação publicitária das concessionárias de veículos Navesa e Ciaasa, que naquele dia anunciaram veículos do modelo Ranger pelo valor de R$ 222.222,22.
Mesmo assim, de acordo com a Promotoria, a PF informou que não verificou a veiculação da promoção.
Logo depois, os procuradores mandaram uma equipe própria realizar uma diligência na concessionária para confirmar se a versão dos policiais era verdadeira.
“Novamente, fomos surpreendidos por fotografias da sede da aludida empresa em Goiânia, onde diversas caminhonetas Ranger apresentavam ostensivamente o valor de oferta de compra da ordem de ‘R$ 222.222,22‘. E, de novo, não se teve notícia da realização da prisão em flagrante dos responsáveis”, registrou um trecho do ofício enviado à corregedoria.
De acordo com o Ministério Público, o caso do Frigorífico Goiás é mais grave por ter ocorrido no dia da eleição, o que pode configurar propaganda boca de urna, entre outras ilegalidades.
Segundo o órgão, as concessionárias poderiam ser denunciadas pelo crime que proíbe a utilização de estabelecimento comercial para propaganda e aliciamento de eleitores.
A Folha de São Paulo ligou para o Frigorífico Goiás e para as concessionárias de veículos, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.