Corrupção e ditadura: o que as campanhas de Lula e Bolsonaro preparam para o debate da Band
As campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Jair Bolsonaro (PL) têm traçado estratégias semelhantes para…
As campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de Jair Bolsonaro (PL) têm traçado estratégias semelhantes para o primeiro debate deste segundo turno da campanha presidencial, marcado para o próximo domingo, na Band. Tanto a equipe do petista quanto a do atual presidente afirmam que a ideia é mesclar a apresentação de propostas com ataques ao adversário. Para isso, preparam um arsenal para ser usado caso o programa se transforme no mesmo pugilato visto em encontros anteriores.
Em viagem pelo Nordeste até esta sexta-feira, Lula terá o sábado e o domingo para se preparar para o primeiro confronto direto com Bolsonaro na Band. Petista afirmam esperar do presidente um tom ainda mais agressivo do que nos dois encontros anteriores, e a orientação ao candidato será a de responder a provocações.
O time de Lula já deixou pronta uma série de respostas para Lula ter em mãos para poder rebater Bolsonaro. Uma delas, por exemplo, é se o presidente apontar que o petista apoia ditaturas de esquerda na América Latina. Pelo script, o ex-presidente deverá responder que o próprio adversário já defendeu publicamente o período da ditadura no Brasil e ressaltará seus movimentos em prol da democracia do país. Na hipótese de Bolsonaro falar sobre aliados de Lula envolvidos em escândalos do passado, o petista vai devolver falando de auxiliares polêmicos do mandatário, como Valdemar Costa Neto, presidente do PL, o ex-presidente Fernando Collor e Roberto Jefferson.
O objetivo é manter o “bateu, levou” visto no debate da Globo, mas dessa vez com um tom mais baixo. Os estrategistas querem que Lula se apresente com uma postura serena e não responda nenhum ataque com agressividade, para que se estabeleça uma diferença clara entre o perfil dos dois candidatos ao eleitor indeciso.
Outra estratégia será fazer perguntas incômodas de políticas públicas a Bolsonaro, como corte da Farmácia Popular e sua gestão durante a pandemia. A ideia é também pontuar propostas de futuro, se dirigindo ao telespectador dizendo o que ele espera do Brasil para os próximos quatro anos. Será menos “eu fiz e vou fazer de novo”, como adotado no primeiro turno, e mais mensagens olhando para frente. Aliados consideram o primeiro e o segundo bloco decisivos para essas falas devido à maior audiência do programa.
O ex-presidente focará em indecisos e na classe média e deve fazer a fala inicial agradecendo aos 57 milhões de votos, com discurso que vai reforçar que ele venceu o primeiro turno e recebeu a maior votação da sua carreira política. A preparação de Lula ficará a cargo do marqueteiro Sidônio Palmeira, da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, do coordenador do plano de governo, Aloizio Mercadante, e dos assessores Ricardo Amaral e José Chrispiniano.
Rompantes são desafio para equipe de Bolsonaro
Na equipe de Bolsonaro, o principal desafio será, mais uma vez, tentar controlar o temperamento do presidente e rompantes que poderão custar caro para quem precisa conquistar eleitores indecisos. No primeiro turno, o debate da Band ficou marcado pelo ataque que o candidato do PL fez à jornalista Vera Magalhães, colunista do GLOBO.
A reunião final da estratégia para o debate acontecerá na tarde desta sexta-feira. O entendimento entre integrantes da campanha é de que neste momento da disputa a população quer ver menos virulência e mais informação sobre o programa de governo, pouco detalhado até agora.
Bolsonaro, porém, não deixará de partir para cima de Lula, repetindo acusações sobre casos de corrupção nas gestões petistas, chamando de “ladrão” e insistindo no discurso de que o ex-presidente não foi inocentado nos casos envolvendo a Operação Lava-Jato — as condenações do petista foram anuladas. A ideia é irritar o ex-presidente.
— Ele está preparado para reagir às agressões injustas que ele vai acabar sofrendo do Lula, que mente sem parar — afirmou o coordenador da campanha, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente.
Embora Bolsonaro costume dizer que recusa o treinamento com profissionais para os debates, integrantes da campanha costuma “mastigar” toda a estratégia nos dias que antecedem o encontro. No encontro da Globo, por exemplo, o candidato tinha em mãos papeis com setas direcionando para quem deveria perguntar e os assuntos.
A equipe de marketing da campanha também faz um levantamento dos temas a serem abordados e dos pontos sensíveis que devem ser explorados por Lula. Dias antes da preparação, Bolsonaro já começa a ler o material.
O time que acompanhará Bolsonaro nos estúdios da Band em São Paulo ainda será definido. No debate da Globo, no fim de setembro, o presidente teve a companhia de um dos filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). A ele, foi atribuído a performance mais agressiva. Dessa vez, a presença do filho “Zero Dois” não está confirmada, mas Flávio diz que o irmão ajudará a definir a melhor estratégia.
Outra mudança em relação ao encontro anterior é que Bolsonaro não poderá mais contar com a ajuda de Padre Kemon, então candidato do PTB, que atuou em “dobradinha” com o presidente ao protagonizar intenso bate-boca com o petista. Na ocasião, o candidato do PL evitou confrontar diretamente o adversário e, quando teve chance, optou por perguntar a Luiz Felipe D’ávila (Novo).
Além dos filhos, alguns integrantes da campanha são escalados para irem aos poucos discutindo as estratégias, como o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o ministro das Comunicações, Fábio Faria.