De cada dez crianças e adolescentes brasileiros, uma está fora da escola, aponta Unicef
Trabalho infantil e dificuldades de aprendizagem são os principais motivos da evasão
O Brasil tem mais de uma em cada dez crianças e adolescentes (11%) de 11 a 19 anos fora da escola, aponta pesquisa do Ipec encomendada pelo Unicef. Segundo o levantamento, divulgado nesta quinta-feira (15), isso representa cerca de 2 milhões de brasileiros nessa faixa etária.
Entre quem não está frequentando a escola, metade (48%) afirma que deixou de estudar porque “tinha de trabalhar fora”. Dificuldades de aprendizagem aparecem em segundo lugar, com 30% afirmando que saiu “por não conseguir acompanhar as explicações ou atividades”.
Em seguida, 29% dizem que desistiram pois “a escola não tinha retomado atividades presenciais” e 28% afirmam que “tinham que cuidar de familiares”. Aparecem na lista, também, temas como falta de transporte (18%), gravidez (14%), desafios por ter alguma deficiência (9%), racismo (6%), entre outros.
Na classe AB, o percentual é de 4% e, na classe DE, chega a 17% – ou seja, quatro vezes maior. O levantamento foi feito em agosto com 1.100 entrevistas presenciais, com autorização dos pais dos respondentes menores de idade.
“A gente estimava que antes da pandemia a gente tinha um milhão de alunos fora da escola. Quando chega essa projeção de dois milhões de crianças entre 11 e 19, é muito grave. Até porque, como entrevistamos diretamente os jovens, não ouvimos aqueles de 4 a 10 anos. Então, o número total é maior ainda”, afirma Mônica Dias Pinto, chefe de Educação do Unicef no Brasil.
O órgão da ONU lançou neste ano a campanha #VotePelaEducação, em parceria com a Agência Artplan, mobilizando a sociedade para que cobre de candidatas e candidatos que priorizem a Educação na hora do voto.
“Temos crianças que precisam ficar em casa para cuidar dos seus familiares se agravou. Crianças que perderam pai, mãe ou os dois. Ou alguma pessoa na família que tinha um papel de cuidadora. Muitas vezes é a menina que assume esse papel”, diz a representante do Unicef.
Um em cinco alunos pensa em desistir
Entre os estudantes que estão na escola, a evasão é um risco real. Segundo a pesquisa, nos últimos três meses, 21% de quem está na escola pensou em desistir dela. Entre os principais motivos está o fato de não conseguir acompanhar as explicações ou atividades passadas pelos professores – item citado por 50% dos que pensaram em desistir.
“Apesar dos enormes desafios, a maioria dos estudantes está feliz por ter voltado presencialmente para a escola”, diz Mônica.
Depois do longo período de fechamento das escolas, que impactou profundamente a vida de alunos, estar na escola é um fator de esperança. Segundo a pesquisa, entre quem está frequentando a escola, 84% dizem estar interessados nos estudos, 71% se sentem animados e 70% estão otimistas com o futuro.
Ao comparar a escola de hoje com a de antes da pandemia, os estudantes apontam pontos positivos. A maioria diz que a escola está mais preocupada com cuidados de higiene (66%), que aumentou o nível de exigência dos professores (56%), que aumentou o quanto aprende nas aulas (55%) e a frequência escolar (52%).
Os estudantes também destacam o esforço da escola em fazer avaliações do que cada um aprendeu durante a pandemia e suas dificuldades (79%) e afirmam que a escola está desenvolvendo atividades que favorecem um bom relacionamento entre os estudantes (71%).
“Os dados mostram a importância da escola pública na vida de meninas e meninos em todo o Brasil. Os estudantes confiam na escola como espaço de aprendizagem e de interação com seus pares. Eles valorizam o esforço dos educadores e estão dispostos a retomar seu direito de aprender”, afirma Mônica.
Quando perguntados sobre questões relacionadas a saúde mental, a grande maioria dos estudantes (80%) dizem que é necessário que a escola ofereça atendimento de profissionais para apoio psicológico aos estudantes, e espaços em que eles possam falar sobre os sentimentos (74%). Esses dois itens, no entanto, nos últimos três meses, só foram oferecidos por 39% e 43% das escolas, respectivamente.
Por fim, a pesquisa mostra que ainda há escolas fechadas, apenas ofertando aulas remotas, no País. Enquanto 92% dos estudantes dizem que sua escola só tem aulas presenciais, ainda há 5% que afirmam ter aulas presenciais e remotas, e 3% que tem apenas aulas remotas. A região Norte é a que apresenta o cenário mais desafiador, com apenas 82% das escolas totalmente presenciais e 11% apenas com aulas remotas.
“Não se pode mais aceitar que escolas continuem fechadas no Brasil em meados de 2022. É urgente tomar as medidas necessárias para que cada criança e adolescente possa estar presencialmente na escola, sem exceção”, defende Mônica.