MAL-ESTAR

Decisão de relocar delegado em inquérito de interferência causa imbróglio na PF

Ministro do STF mandou caso ficar nas mãos de policial que agora está em setor que não investiga

Ministro do STF mandou caso ficar nas mãos de policial que agora está em setor que não investiga (Foto: Agência Brasil)

A decisão de Alexandre de Moraes de recolocar o delegado Felipe Leal no comando da apuração sobre interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal gerou um imbróglio no órgão. Leal deixou o caso em abril, quando foi trocado de cargo em meio a um desentendimento com a atual direção da PF.

O despacho do ministro do STF foi lido por quem acompanha o caso como indicativo de que ele quer que a linha investigativa que vinha sendo adotada pelo delegado seja mantida.

Leal propôs diligências novas para aprofundar o inquérito antes de sair.

Desde que ele deixou o caso, nenhum outro delegado assumiu a investigação. A apuração seria redistribuída para outro policial nas próximas semanas, mas a decisão de Moraes cortou os planos da PF.

A apuração está desde setembro de 2020 no Supremo, que precisa decidir o formato do depoimento de Bolsonaro –pessoalmente ou por escrito.

Leal era chefe da área que investiga políticos com foro. Ele saiu após afirmar ao Supremo que não era possível confirmar a autenticidade das mensagens da Vaza Jato, abrindo a primeira crise da gestão de Paulo Maiurino.

A direção da PF considerou o documento assinado por Leal demasiadamente opinativo e fora de propósito. Como se tratava de um laudo pericial, o entendimento era que o delegado deveria apenas encaminhar o resultado, sem fazer comentários a respeito. De acordo com pessoas da diretoria, havia previsão de troca no setor, abreviada pelo episódio.

O embate das mensagens estava no contexto da movimentação política e jurídica que busca usar os diálogos vazados para punir integrantes da força-tarefa da operação de Curitiba. O ministro Gilmar Mendes, do STF, se incomodou com a manifestação do delegado e reclamou publicamente.

Leal agora está em um cargo na Academia Nacional de Polícia, onde não há inquéritos. Ele não tem equipe no local, por exemplo, para análise de documentos.

A investigação sobre interferência sempre foi conduzida por uma equipe de delegados, nunca por um só.

Desde a mudança de diretoria, houve uma debandada nesse setor de inquéritos especiais, que é um dos mais sensíveis do órgão –cinco delegados deixaram o grupo.

Nos bastidores, as saídas foram atribuídas a desconfortos com a nova gestão. Todos que participaram da apuração da interferência foram embora.

Bernardo Guidali e Wedson Cajé foram os últimos a deixar o setor.

O primeiro saiu depois do desgaste com a cúpula da PF após pedir uma investigação sobre o ministro do STF Dias Toffoli com base na delação do ex-governador do Rio Sérgio Cabral. O outro foi ocupar um cargo de chefia no Pará.

Após as baixas, a nova direção da PF começou a recrutar delegados de sua confiança para repor a área. O primeiro a chegar foi Willian Tito.

Assim que se apresentou, ele ficou incumbido de dois importantes casos, o da suposta prevaricação de Jair Bolsonaro na compra da Covaxin e um dos inquéritos de Ricardo Salles.

Como mostrou o Painel, a nova direção da Polícia Federal definiu três temas para chamar de prioridade na área de investigação: milícias e facções criminosas, corrupção e crimes ambientais.