Com sua delação premiada, o senador Delcídio do Amaral conseguiu agradar todo mundo desagradando todo mundo. E vice-versa. Não entendeu?
Repara:
– ele agradou a oposição porque colocou lenha na fogueira contra o PT, Luiz Mercadante (ministro da Educação), Lula e a presidente Dilma;
– agradou o PT porque enrolou também o presidente do PSDB, Aécio Neves;
– desagradou geral o PMDB porque colocou corda no pescoço de gente graúda como Renan Calheiros (presidente do Senado), Eduardo Cunha (presidente da Câmara) e Michel Temer (presidente do partido e vice-presidente da República;
– desagradou o Senado por envolver outros colegas;
– agradou a gente, que quer tudo bem explicado, nos mínimos detalhes, sem direcionamentos partidários, sem proteções estratégicas e estranhas de nomes pontuais, e sem acobertamentos inexplicáveis.
E desconfia-se que, tentando se agradar (livrar-se de uma cassação e da prisão), também desagradou: sua delação, se era peça de salvação, pode resultar em cassação sumária.
Não dá para saber o que vai acontecer com a delação do Delcídio. Mas dá pra dizer que foi o tipo de coisa que tira rugas: por tão abrangente, e ‘ecumênica’ nos envolvimentos políticos (oposição e situação junto), acabou dando ao momento vivido pelo País um sentido pouco visto de clareza.
Sim, porque não há como ficar mais claro que uma coisa é o jogo político em curso entre governo e oposição. Todos querem o poder e estão lutando com suas armas por isso.
E outra coisa é a corrupção. Enfim, infelizmente, corrupção não é patrimônio de ninguém. É mal de tentáculos múltiplos.
Isso não é desculpa para ninguém ir às ruas. Mas é razão suficiente para, nos protestos e nos pensamentos bem íntimos, cada um saber separar uma coisa da outra. E lutar a luta necessária, jamais a luta com a qual querem nos iludir – ou seja, luta alheia, não nossa verdadeiramente.
Acabar com a corrupção é vê-la onde estiver. E ela está em todo lugar, inclusive no espelho.
Por onde começar o combate? Você decide.