Delcídio revela desvios de Belo Monte para PT e PMDB, diz revista
Informação consta da delação premiada de senador Delcídio, afirma IstoÉ.De acordo com Delcídio Amaral, o grupo desviou recursos, por meio de superfaturamento em todas as etapas, tanto de contratos para a realização das obras civis
Em delação premiada firmada com o Ministério Público Federal no âmbito da Operação Lava Jato, o senador Delcídio Amaral (PT-MS) apontou aos investigadores um esquema de desvio de dinheiro nas obras da Usina de Belo Monte que abasteceu campanhas eleitorais. Segundo o senador, o esquema era encabeçado pelos ex-ministros Erenice Guerra (Casa Civil), Antônio Palocci (Fazenda) e Silas Rondeau (Minas e Energia).
Juntos, os ex-ministros do “triunvirato” teriam movimentado cerca de R$ 25 bilhões e desviado R$ 45 milhões destinados para as campanhas eleitorais do PT e do PMDB em 2010 e 2014. Os partidos estavam coligados na chapa que elegeu a petista Dilma Rousseff como presidente e o peemedebista Michel Temer como vice. As informações foram divulgadas na última sexta-feira (11) no site da revista IstoÉ, que já havia revelado outros trechos do depoimento do senador petista.
De acordo com Delcídio Amaral, o grupo desviou recursos, por meio de superfaturamento em todas as etapas, tanto de contratos para a realização das obras civis – que teriam custado R$ 19 bilhões -, quanto nos acordos para compra de equipamentos para viabilizar a construção da usina, que atingiram os R$ 4,5 bilhões.
Outros delatores da Lava Jato já haviam citado as propinas das obras de Belo Monte. Delcídio, no entanto, foi o primeiro a detalhar como funcionava o esquema. O senador relatou aos investigadores que o arranjo para o desvio de recursos da usina começou a ser desenhado na escolha do consórcio para construir a hidrelétrica, ainda em 2010. Na época, Dilma era ministra da Casa Civil e Erenice, sua secretária executiva.
Erenice sempre foi vista como um braço direito da presidente Dilma desde antes de ela ser eleita. Segundo a revista, os procuradores que tiveram acesso a delação estão convictos de que ela era a principal operadora do esquema já que, antes de trabalhar com a presidente na Casa Civil, esteve ao lado de Dilma também no Ministério de Minas e Energia, responsável pelas obras da hidrelétrica.
Segundo a reportagem, Delcídio afirma que Erenice armou um esquema para que, no leilão de escolha do consórcio responsável por tocar as obras de Belo Monte, ganhasse aquele que permitisse as grandes empreiteiras do País – que haviam desistido de participar do certame – de continuar comandando as obras de forma indireta e sem se submeter às regras de licitações.
O ex-líder do governo no Senado também informou ao MPF que, durante a campanha eleitoral de 2014, o atual ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, “esquentou” doações provenientes da indústria farmacêutica com notas frias e o orientou a fazer o mesmo para saldar R$ 1 milhão de dívida de sua campanha, usando a ex-sócia de Duda Mendonça, Zilmar Fernandes, e a FSB Comunicações, que receberiam o dinheiro do laboratório EMS. Edinho foi tesoureiro da campanha de Dilma no último pleito.
Os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Renan Calheiros (PMDB-AL) também foram citados no depoimento do ex-líder do governo, segundo a publicação semanal.
Delcídio Amaral foi preso no dia 25 de novembro de 2015 por determinação do Supremo Tribunal Federal após ser flagrado em conversas com Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobrás, Nestor Cerveró.
DEPOIMENTOS
Belo Monte – O esquema de corrupção atuou, segundo relato do senador Delcídio Amaral, nas obras da usina de Belo Monte, a começar pelo leilão, em 2010, para escolha do consórcio que tocaria o projeto, até o início do ano passado. O senador disse que os desvios de recursos vieram do pacote de obras civis e da compra de equipamentos – em todas as etapas do processo houve superfaturamento, afirmou.
‘Triunvirato’ – Segundo Delcídio, um “triunvirato”, formado pelos ex-ministros Erenice Guerra (Casa Civil), Antônio Palocci (Fazenda) e Silas Rondeau (Minas e Energia), desviou pelo menos R$ 45 milhões dos cofres públicos para campanhas do PT e do PMDB nos anos de 2010 e 2014.
Campanha – Em relação a dinheiro irregular na campanha de 2014, o ex-líder do governo mencionou o ministro Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma naquele ano. Segundo Delcídio, Edinho “esquentou” recursos provenientes da indústria farmacêutica usando a contabilidade das campanhas para governador e forjando falsas prestações de serviço. O senador disputou o governo de Mato Grosso do Sul em 2014. Edinho nega.
Lula – Delcídio já citou o nome do ex-presidente Lula. O senador afirmou que um dos temas que “mais afligem” o ex-presidente é a CPI do Carf, que apura esquema de compra de medidas provisórias no governo do petista para favorecer montadoras e o envolvimento do seu filho no esquema.
Dilma Rousseff – O senador ainda acusou a presidente Dilma Rousseff de atuar três vezes para interferir na Operação Lava Jato por meio do Poder Judiciário. “É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover a soltura de réus presos na operação”, afirmou Delcídio. Dilma criticou, na ocasião, a “suposta” delação do ex-líder do governo.
PSDB e PMDB – O senador Delcídio também teria citado em depoimento o senador tucano Aécio Neves e peemedebistas como o presidente do Senado, Renan Calheiros, e os senadores Edison Lobão, Romero Jucá e Valdir Raupp. Todos os parlamentares citados pelo ex-líder do governo no Senado negam participação no esquema de corrupção.
OUTRO LADO
A defesa de Delcídio do Amaral afirmou que o teor da reportagem da revista IstoÉ não é verdadeiro e que os documentos que a ilustram não são autênticos porque, segundo os defensores, não têm conexão com depoimentos ou manifestações do senador.
Segundo a defesa, esses documentos não podem e não devem ser considerados como idôneos e configurar provas ou indícios contra qualquer pessoa.
A defesa disse ainda que repudia a “espetacularização criminosa e indecente” da investigação federal, “em matéria que mescla mentiras e maledicências, com a finalidade deliberada de envenenar consciências e estimular na sociedade um ambiente de apreensão, fomentando, ainda, o descrédito das instituições, atingindo a honra e a imagem das pessoas”.
O advogado da ex-ministra Erenice Guerra também afirmou que o conteúdo da reportagem e da delação é “absolutamente inconsistente” e não é verdadeiro.
A defesa de Antonio Palocci rechaçou o que chamou de “falsas informações” e negou que o ex-ministro tenha solicitado “contrapartidas para campanhas eleitorais de quem quer que seja”.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, disse que as declarações são “mentirosas”, que jamais manteve o citado diálogo com Delcídio ou qualquer contato com as empresas mencionadas.
A FSB Comunicação afirmou que nunca recebeu recursos, nem assinou contrato com a EMS. A FSB também declarou que não recebeu pelos serviços prestados em 2014.
A EMS declarou que nunca firmou contrato com a FSB ou doou qualquer valor para Zilmar Fernandes, nem para o senador Delcídio do Amaral.
O advogado de Zilmar Fernandes disse que não comentaria vazamento de conteúdo de delação premiada.
A assessoria do PMDB disse que o partido nunca participou de qualquer esquema de desvio de dinheiro do setor elétrico ou de qualquer outra área do governo.
O senador Eunício Oliveira disse que apenas apoiou a indicação de um funciojário de carreira da Anvisa, sobre o qual não pairam dúvidas profissionais ou éticas.
O senador Valdir Raupp informou que desconhece indicações para o setor elétrico.
A assessoria do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que ele está fora do país.
A assessoria do PT informou que todas as doações recebidas pelo partido aconteceram estritamente dentro da legalidade e foram posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral.
O senador Jader Barbalho afirma que Delcídio do Amaral “cometeu um exagero” e que não se sente “influenciando” o governo “há bastante tempo”.
A assessoria do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, disse que, ao contrário do que foi dito, ele não despachava com o senador Renan Calheiros.
O advogado de Edison Lobão classificou a afirmação de que ele faz parte de um arco de influência amplo no governo como “totaltamente desconectada” e informou que não há imputação de crime.
O senador Aécio Neves classificou as citações como “absurdas”. Disse que elas não se sustentam porque, na época da CPI dos Correios, ele não atuava no Congresso Nacional. Sobre Dimas Toledo, Aécio Neves disse que trata-se de uma requentada tentativa de envolver, sem qualquer comprovação, diversos políticos de oposição.
O banco Rural foi extingo depois do processo do mensalão. O advogado dos ex-dirigentes do banco disse que não acredita que a afirmação de Delcídio seja plausível.
O Instituto Lula disse que não comentaria falatórios. E que, quem quiser levantar suspeitas em relação ao ex-presidente, deve fazer diretamente com a apresentação de provas.
O Palácio do Planalto não se manifestou.
A assessoria do vice-presidente Michel Temer informou que as citações do senador Delcídio são “equivocadas” e não procedem. Disse ainda que Temer não tem qualquer relação de proximidade com o ex-diretor da BR Distribuidora João Augusto Henriques. (Com agências de notícias)