Conflito

Delegado da Receita no Rio relata interferência de ‘forças externas’ no órgão

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em mensagem a colegas, o delegado da alfândega do Porto de…

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em mensagem a colegas, o delegado da alfândega do Porto de Itaguaí (RJ), José Alex Nóbrega de Oliveira, fez uma acusação de pressões e interferências políticas na Receita Federal.

Itaguaí, região metropolitana do Rio de Janeiro, tem sido palco de uma crise entre auditores da Receita e o governo. “Venho relatar o que está ocorrendo, pois existem forças externas que não coadunam com os objetivos de fiscalização da RFB [Receita Federal do Brasil], pautados pelo interesse público e defesa dos interesses nacionais”, escreveu Oliveira.

Ele declarou ter sido surpreendido há cerca de três semanas, quando o superintendente da Receita no Rio de Janeiro, Mario Dehon, o teria informado que havia uma indicação política para assumir a alfândega do porto.

Dehon, contudo, não teria concordado com a pressão do governo do presidente Jair Bolsonaro para substituir Oliveira por um auditor com pouca experiência para o cargo. Por isso, o superintendente, agora, corre o risco de ser exonerado do posto “em represália a essa atitude”, diz o comunicado.

Bolsonaro tem reclamado publicamente da atuação da Receita Federal e teria partido do próprio presidente o pedido para substituição na delegacia da alfândega do Porto de Itaguaí e outros postos da Receita.

Procurado, o Planalto ainda não se manifestou sobre o caso.

O auditor conta ainda que a Receita Federal tinha dificuldades em encontrar quem quisesse assumir a função. O cargo está ligado a investigações de ilícitos praticados por milícias.

O porto, relata Oliveira, é um local de entrada de mercadorias vindas da China e exportação para a Europa.

A Receita Federal está sob pressão e, por isso, o governo estuda até uma reestruturação no órgão.

O Sindifisco (sindicato nacional dos auditores-fiscais da Receita) reagiu e cobrou uma defesa do ministro Paulo Guedes (Economia).

“A possível exoneração de um superintendente [Dehon] por tal razão é algo jamais visto, ao menos desde o período de redemocratização do país. Essa medida, somada aos ataques vindos do STF [Supremo Tribunal Federal], do TCU [Tribunal de Contas da União], às recentes declarações do presidente da República e à omissão do ministro Paulo Guedes na defesa do Fisco Federal, tem potencial de formar no órgão uma tempestade perfeita, tornando-o totalmente ingovernável”.

Integrantes da Receita querem que o STF reveja decisão que suspendeu a investigação contra 133 pessoas, incluindo ministros do Supremo.