Depois de 54 dias internada, vítima de atentado em escola recebe alta em Goiânia
Isadora de Morais, com seu olhar tímido, aos 14 anos, desceu a rampa do Centro…
Isadora de Morais, com seu olhar tímido, aos 14 anos, desceu a rampa do Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (Crer) trazida por um maqueiro. Ela estava sentada a uma cadeira de rodas doada pelo hospital em parceria com a Organização das voluntárias de Goiás (OVG). A menina já via de longe as luzes de câmeras da imprensa que lhe esperavam. Ansiosos, jornalistas se emocionaram quando a viram com um sorriso faceiro. Ela não esperava que o ídolo sertanejo estivesse ao pé da rampa, lhe esperando, para cantar exclusivamente o sucesso Vai Entender, em voz e violão.
Ídolo sertanejo da menina, Israel Novaes aceitou o convite para fazer a surpresa. A voz potente ecoava pelos corredores. Isadora, que ainda passa por um período de adaptação à nova vida, se emocionou ao ouvir a música. A canção dizia “…eu sei/ Que quando eu te encontrar/ A garganta vai secar/ E tudo que eu pensei/ Eu não vou lembrar…”. Segundo o sertanejo, a música fala de superação e que as felicidades dependem de coisas simples. A cena foi de arrepiar.
As amigas da jovem estudante, que acompanharam a saída do hospital, levaram flores e presentes. Isadora, agradecida, dizia a todo instante não acreditar que teria essa surpresa.
Pai da menina, o jardineiro Carlos Alberto de Morais, disse que a casa já está sendo adaptada, aos moldes do poder aquisitivo da família, para que Isadora, que ficou paraplégica após receber três tiros, tenha uma melhor qualidade de vida. “Já adaptamos algumas portas, agora é preparar um novo banheiro e rampas para ela, que merece”.
Isadora continuará o tratamento como paciente do Crer. Ela fará sessões de fisioterapia três vezes por semana na unidade. Ao total foram dias entre as duas internações — 20 dias no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) e 34 dias no Crer.
ATENTADO
Eram 9 da manhã de 20 de outubro de 2017. O dia jamais sairá da memória dos goianienses, que viram todo o desastre ser transmitido ao vivo pelos canais de televisão local. Um adolescente de 14 anos, usando a arma (pistola, calibre .40) da mãe, uma policial militar, efetuou mais de 20 disparos contra os colegas do 8º ano do Ensino Fundamental. Tudo aconteceu na Escola Goyases, que fica na Região Leste de Goiânia. Dois meninos, João Pedro Calembo e João Vitor Gomes, ambos de 13 anos, não resistiram aos ferimentos e morreram no local.
Os corpos foram enterrados no dia 21 de outubro, em cemitérios da Capital, em cerimônias distintas. Outros quatro estudantes, da mesma faixa etária de autor e vítimas, foram internados; uma em um hospital particular, outros no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo).
Coordenadora Pedagógica, Simone Maulaz Elteto foi quem convenceu o estudante autor do atentado a parar com os disparos de arma de, até a chegada de socorristas, policiais e os pais do aluno, dois militares.
O caso foi investigado pela Delegacia de Apuração de Atos Infracionais (Depai), que investiga situações em que a autoria é de menor de idade. O delegado Luiz Gonzaga Júnior disse, antes de ser decretado o sigilo das investigações, que a apuração apontava para outras causas que não fossem bullying. Inicialmente, primeiras informações davam a acreditar que o estudante autor dos disparos sofria violência psicológica. Ele seria vítima de chacotas por mau cheiro nas axilas.
Em audiência no dia 29 de novembro passado, a Juíza da Vara da Infância e Juventude Ítala Calnaghi decretou pena máxima – três anos de detenção (internação) em um Centro de Internação para Menores Infratores do interior do Estado. A advogada de defesa, Rosângela Magalhães, disse à época da decisão que a família, apesar de ter a possibilidade assegurada pela legislação, não iria recorrer.