Deputado entra com representação no Ministério Público contra Silvio Santos por racismo
Apresentador ignorou votação do público, que escolheu participante negra como melhor intérprete de "Caneta Azul" para premiar concorrente "muito bonita"
O deputado estadual Jesus dos Santos, 35, (PSOL), integrante da bancada ativista -formada por nove militantes políticos de diversas áreas que dividem o mandato em São Paulo- fez uma representação contra Silvio Santos, 89, nesta sexta-feira (13). A causa foi o tratamento dado pelo apresentador a Jennyfer Oliver no quadro Quem Você Tira?, no Programa Silvio Santos (SBT), exibido dia 8 de dezembro.
Em uma competição de calouros, o apresentador ignorou a votação popular do auditório, que escolheu Oliver como melhor intérprete da música “Caneta Azul”, e premiou outra concorrente, Juliani, por tê-la considerado “muito bonita”. O que chamou a atenção dos espectadores é que a cantora preterida pelo apresentador era a única negra no grupo de quatro calouras. Isso levou o público a cogitar racismo por parte de Silvio, hipótese tomada como certa por Jesus.
“Quando um apresentador, dono de um canal que é uma concessão pública, ratifica e continua perpetuando piadinhas racistas, isso passa a ser um problema no qual encontramos aparato constitucional para enquadrá-lo. O crime de racismo é bem nítido quando informa que atos racistas de qualquer forma e grau precisam ser contidos”, afirma o deputado.
A iniciativa aconteceu após uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), da qual também participaram os deputados Leci Brandão, 75, (PCdoB) e Luiz Fernando Teixeira, 57, (PT). Cabe ao Ministério Público apurar os fatos e, se entender que houve racismo, processar Silvio.
Para Jesus, é inadmissível que uma emissora e seu apresentador tenham esse tipo de comportamento. “Partimos do princípio de não tolerar mais que nossas crianças que assistem a esse programa, pessoas em processo de formação, tenham [acesso a] conteúdos que não estão coerentes com os passos que a sociedade deve dar”.
O deputado diz ainda que, embora venha tentando falar com Oliver, ainda não conseguiu contatar a cantora. “Ela está em um lugar desprivilegiado para tentar contrapor a narrativa de um cara que é mega milionário no nosso país. Ela é o elo fraco dessa corrente. Como papel do parlamento nos cabe zelar pela nossa Constituição”.
É importante destacar que a medida foi possível sem a necessidade da presença da participante que teria sofrido discriminação, porque a representação está fundamentada no crime de racismo, e não de injúria racial. Procurada pela reportagem, a assessoria do SBT não se manifestou sobre o caso até a conclusão deste texto.