Fórmula 1

Designer restaura e entrega a Wilsinho Fittipaldi o único carro brasileiro na F-1

Na zona leste de São Paulo, uma galeria de arte exibe os trabalhos do designer…

Na zona leste de São Paulo, uma galeria de arte exibe os trabalhos do designer Adhemar Cabral. Para muitos, o local reproduz a fábrica dos sonhos de qualquer amante de automobilismo. Entrar no ateliê é como fazer uma viagem ao passado e encontrar réplicas e restaurações de antigos carros usados pelos maiores nomes do Brasil na mais popular categoria do esporte a motor, a Fórmula 1.

O desafio do momento na oficina é restaurar o único carro brasileiro que já correu nas pistas de F-1: o Copersucar-Fittipaldi, construído em 1976. E como conta Adhemar, nenhum projeto é impossível de ser realizado, desde que você consiga colocá-lo no papel. Na prática, o designer foi responsável por dar vida ao carro que já foi usado pelos pilotos Wilson Fittipaldi Jr e seu irmão Emerson (bicampeão mundial de Fórmula 1) e ainda Ingo Hoffmann.

O ex-piloto Wilsinho Fittipaldi, hoje com 75 anos, viu o carro pela primeira vez após a restauração na semana passada e se emocionou. “A sensação de ver este carro novamente é a mesma de quando acompanhamos sua fabricação. Foi uma euforia. Nunca imaginei vê-lo outra vez nessas condições. Está impecável”, disse Wilsinho à reportagem do Estado .

Ele confessou ter lembrado das corridas da época. O carro é um orgulho para a família Fittipaldi. “O trabalho não poderia ter ficado melhor. Sabe o que eu acho? Que está Top”, brinca.

Ao lado da mulher Rita Reis Fittipaldi, que chorou ao ver o Copersucar restaurado, pelo valor sentimental que o carro tem para a família, Wilsinho verificou todos os detalhes do automóvel. “Ele não sabia da restauração, tudo foi planejado para uma surpresa. Fiquei sabendo antes e foi difícil guardar segredo”, conta Rita.

“Esse carro é uma história resgatada do automobilismo. Aqui no Brasil, infelizmente, as pessoas têm memória curta. Elas esquecem de tudo. Essa foi a única equipe de F-1 do Brasil e, com certeza, não terá outra. Queremos preservar essa história. Temos de mostrar isso para outras e outras gerações”, completa.

A escuderia Copersucar-Fittipaldi disputou 104 GPs, o primeiro deles na Argentina. Quando viu o carro, Wilsinho não se conteve. Pediu para ligá-lo. Ouviu o mesmo barulho que costumava acompanhá-lo durante as corridas e prometeu novidades. “Em função do que foi feito, da perfeição desta restauração, posso dizer para vocês que vêm coisas novas por aí. Mas não vou revelar”, disse o ex-piloto.

Adhemar Cabral agradeceu a Wilsinho e afirmou que esse é um dos seus melhores projetos. “É difícil falar da emoção de restaurar um carro desses. É o único carro brasileiro de Fórmula 1. Estar aqui ao lado do Wilsinho, ter reconstruído o carro e ainda receber elogios… Nossa! Não tenho palavras. Esse é um dos trabalhos mais emocionantes que já fiz. É um troféu que vou guardar para sempre.”

Sem revelar os valores da reconstrução do Copersucar, o designer explica que precisou da ajuda de 15 funcionários para realizar o trabalho, feito em cerca de seis meses. Em seu ateliê, uma pequena réplica chega a custar R$ 3 mil. Para um carro de tamanho real, os valores variam de R$ 80 mil a R$ 400 mil.

O Copersucar de 1976 será levado para o Museu Fittipaldi, aberto em outubro por Paulo Loco, colecionador, fã de automobilismo e amigo da família Fittipaldi. Por enquanto, o local, na Barra Funda, em São Paulo, não está aberto ao público, mas deve receber visitas de pequenos grupos em breve. “O museu ficou espetacular. Não imaginava que tínhamos tantas coisas dos carros O local me trouxe ótimas recordações. Levar o nosso carro para lá é uma felicidade”, garante Wilsinho.

PASSO A PASSO – Adhemar Cabral se valeu de 15 profissionais dos seus 50 para restaurar o Copersucar. O designer pontuou o trabalho como “muito difícil”. O veículo chegou em seu ateliê em condições precárias. “As dificuldades foram grandes porque o carro chegou destruído e tudo foi refeito aqui”, conta.

O carro passou por todas as estações da galeria de Adhemar, como espaço para pintura, modelagem e até um local específico para “adesivar” os modelos. Precisou de seis meses para acabar. Algumas peças do veículo foram substituídas.

“O chassi permanece o mesmo, o motor foi trocado por um Motor Ford 302, V8. Foi o maior desafio entre todos os trabalhos que já realizamos”, admite. “A emoção de ver o meu trabalho pronto também é grande. Sou apaixonado por isso. Para todos nós, foi uma satisfação enorme. Todo mundo trabalhou com muita alegria e paixão no carro”, comenta o designer. Aos 49 anos, Adhemar era um menino quando Wilsinho pilotava o carro que ele restaurou.

Grandes nomes da F-1 como Lewis Hamilton, Fernando Alonso, Felipe Massa e Rubens Barrichello têm miniaturas de carros feitos pelo artista da zona leste. Entre os seus projetos está uma réplica da McLaren MP4-8, de Ayrton Senna.