Meio ambiente

Desmatamento na Amazônia chega a 3ª maior marca para o mês de outubro

Ano de 2022 vem apresentando sucessivos números elevados de destruição

Amazônia tem setembro com maior número de queimadas desde 2010 (Foto: Agência Brasil)

Assim como tem acontecido desde o começo de 2022, a Amazônia teve desmatamento significativo em outubro. Os 813,2 km² de mata derrubada são o terceiro maior valor para o histórico recente do Deter, programa do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), com início em 2015.

A taxa de desmate no mês passado ainda deve aumentar, porém, considerando que o dado do Inpe só recebeu atualização até 28 de outubro.

O número vem a público às vésperas da COP27, a conferência da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre mudanças climáticas, em Sharm el-Sheikh, no Egito. Mais uma vez, o desmatamento será um tema sensível para o governo Jair Bolsonaro (PL) na conferência —que deve procurar, quando possível, evitar o assunto e focar no Brasil como um país de energias verdes.

Espera-se para breve também a divulgação da taxa Prodes de desmatamento, o programa do Inpe que mede o desmate anual no bioma. No ano passado, o dado do Prodes já estava disponível durante a COP26, mas só foi divulgado pelo governo Bolsonaro depois do evento.

O Deter não tem o objetivo de medir desmatamento, mas, sim, de auxiliar políticas públicas de combate ao desmate. Porém, a partir dos seus dados é possível observar tendências de destruição.

Para Erika Berenguer, pesquisadora sênior das universidades de Oxford e Lancaster, no Reino Unido, ainda não é possível confirmar altas históricas para o fim deste ano.

“As conversas na região eram de que se devia aproveitar o máximo enquanto o presidente estivesse no poder para continuar desmatando impunemente, mas há uma questão climática no meio”, afirma. Ela se refere à temporada úmida na Amazônia. Com as chuvas, a derrubada fica mais difícil. “Mas com um Deter alto, a gente sabe que o Prodes vai ser alto”, diz.

Desde o início de 2022, pelo menos, os dados mensais de desmate apontados pelo Deter têm sido elevados e, em vários casos, os mais elevados do histórico recente para um dado mês. Janeiro, fevereiro, abril, junho e setembro foram recordes, por exemplo. Agosto ficou pouco abaixo do recorde de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro.

Vale mencionar que todos os maiores números mensais de desmatamento registrados pelo Deter ocorreram sob a administração de Bolsonaro. Os dados do histórico recente têm início em 2015, quando houve uma atualização nos sensores do programa Deter que impossibilita uma comparação adequada com anos anteriores, onde havia uma precisão inferior.

Bolsonaro, desde o início de seu governo, tem minimizado a importância dos dados de desmatamento e até mesmo acusado o Inpe de estar a serviço de outros interesses. Uma dessas situações de acusações sem provas levou à exoneração de Ricardo Galvão.

Na época, o presidente havia afirmado que os dados do Inpe não correspondiam à verdade e sugeriu que Galvão poderia estar a “serviço de alguma ONG.” Ricardo Galvão, que concorreu ao posto de deputado federal na última eleição, mas não foi eleito, respondeu aos ataques.

Apesar de antes criticar os dados do Inpe e afirmar que a maior parte da Amazônia está intocada —o que é falso—, durante os debates para a eleição presidencial, Bolsonaro usou tais dados para afirmar que o desmatamento e as queimadas era maiores durante governos anteriores.

A afirmação não chega a ser falsa, mas falta contexto. Enquanto outros governos, em geral, receberam uma situação com desmate mais elevado, houve ações que derrubaram os níveis de destruição. Enquanto isso, durante o governo Bolsonaro, o país viu os níveis de desmate explodir e ultrapassar mais de 10 mil km² de mata destruída por ano.

Segundo Rodrigo Castro, membro da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e diretor da Fundação Solidaridad no Brasil, o período de transição entre governos vai priorizar outros temas, o que deve manter os números altos pelo menos até o fim do ano.

“Infelizmente, até o fim do ano não teremos uma possibilidade de arrefecimento dessa tendência, mas que ela se consolide e que estejamos voltando a um cenário de 15 anos atrás”, diz ele, que aponta para uma integração mais robusta entre os entes da federação no enfrentamento ao desmatamento.

Brenda Brito, pesquisadora do Imazon, segue na mesma linha. “Os estados têm peso no controle do desmatamento. É importante que tenham metas ambiciosas.”

A integração entre os entes da federação é uma chave para um cenário mais difícil, segundo Alexandre Prado, especialista em economia verde do WWF-Brasil.

“É uma batalha mais complexa do que há 20 anos. Hoje o processo tem muito mais atores e uma ligação entre eles. Há 20 anos isso foi sendo reduzido sucessivamente, um pouco a cada ano, e não será diferente agora”, diz ele.

Procurado para comentar os números e ações para reduzir a tendência, o Ministério do Meio Ambiente disse que a responsabilidade de investigar crimes ambientais é do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que não respondeu até a publicação desta reportagem.