Desmatamento recorde em outubro contradiz discurso do Brasil na COP26
Segundo o sistema Deter, do Inpe, foram derrubados 877 km² de floresta amazônica, o maior número para outubro desde que o levantamento começou a ser feito
A área de alertas de desmatamento em outubro foi a maior para o mês em cinco anos, mostram dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) divulgados nesta sexta-feira (12).
Segundo o sistema Deter, do Inpe, foram derrubados 877 km² de floresta amazônica, o maior número para outubro desde que o levantamento começou a ser feito, em 2016. O índice ficou 5% acima do de outubro de 2020.
O número contradiz o discurso do governo Bolsonaro, que, nas reuniões e palestras durante a COP26, Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, afirmou que o desmatamento ilegal já estava sendo combatido com aumento de recursos e de patrulhamento.
Procurado para falar sobre o motivo do aumento no desmate, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, não respondeu, segundo sua assessoria, porque estava envolvido nas negociações finais do mercado de carbono.
A delegação brasileira vinha sendo criticada por ativistas climáticos por não divulgar o Prodes, dado oficial do desmatamento, também medido pelo Inpe. Com base em números de agosto de um ano a julho do ano seguinte, ele costuma estar disponível no começo de novembro.
Entidades ambientais estimam que esse cálculo anual, mais preciso que o Deter, também mostre um desmatamento muito semelhante ao do ano anterior e superar os 10 mil km².
No período 2019-2020, foram derrubados 11.088 km² de floresta, um recorde na década.
A falta de controle no corte ilegal da floresta pode prejudicar as negociações feitas na conferência climática pelo Itamaraty, que foi elogiado por adotar uma posição mais flexível e procurar consensos que permitissem concluir a regulamentação do Acordo de Paris.
“Nas últimas duas semanas, vimos o governo brasileiro dizer na COP26 que tem o desmatamento sob controle. Mas o Brasil real é o que os satélites mostram”, afirmou Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Segundo ela, o fato de que o desmate aumentou mesmo com mais chuvas que o previsto mostra que as atuais ações do governo federal não estão funcionando. “É possível mudar o quadro, mas é preciso agir imediatamente”.
“As emissões acontecem no chão da floresta, não nas plenárias de Glasgow”, afirmou Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “E o chão da floresta está nos dizendo que este governo não tem a menor intenção de cumprir os compromissos que assinou na COP26.”
Entenda o levantamento
O Deter é um levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia, usado para alertar a fiscalização e o controle de desmatamento e degradação florestal. Com base em imagens de satélite, ele identifica e mapeia em tempo quase real desmatamentos, degradação e exploração de madeira em áreas a partir de três hectares (cerca de três quarteirões).
Por causa da resolução menor usada nas imagens e da presença de nuvens, o sistema captura apenas parte das alterações ocorridas. Como a cobertura de nuvens varia ao longo do ano, a comparação de um mês com o mesmo período no ano anterior é mais precisa que o contraste com o mês anterior.