"Não admito racismo"

Detido sob ofensa de “vai gritar lula lá na África” estava em casa quando foi levado por PMs

O africano afirma que foi um dos policiais que disse a frase de cunho preconceituoso

'Não vou admitir', diz homem negro preso por PM sob gritos de 'vai gritar Lula na África' (Foto: Divulgação - PM)

O homem negro, de 33 anos, que foi detido por policiais militares sob ofensa de “vai gritar Lula lá na África”, negou que estava fazendo boca de urna, em Novo Gama, no Entorno do Distrito Federal. Ao Mais Goiás, O homem, que preferiu não se identificar, falou que fazia um churrasco no quintal de casa quando foi algemado pelos PMs por declarar apoio ao candidato do PT.

À reportagem, o homem explicou que é africano e mora há oito anos no Brasil. Ele nem mesmo tem direito ao voto no país, mas como qualquer pessoa, “tem o direito de torcer por um resultado”.

Durante o domingo (2), quando acontecia a votação pelo 1° turno, o homem acordou cedo e comprou todos os itens para fazer um churrasco entre amigos e familiares na casa onde mora. O imóvel fica há quase 200 metros de um colégio eleitoral, no Residencial Brasília.

Após ter dito palavras de apoio a Lula dentro de casa, o homem afirma que um policial entrou no imóvel e lhe deu voz de prisão. “Eu e meus vizinhos conversamos por uns 20 minutos com o policial e eu pedi, e pedi com todo respeito, que ele saísse do meu lote, pois eu não havia feito nada de errado. Mesmo assim, ele chamou os reforços para me algemar”, conta.

O africano afirma que foi um dos policiais que disse que ele devia “gritar Lula lá na África”. Ele afirma que chegou a responder à frase de cunho preconceituoso, dizendo ao policial que ele teria que assumir a responsabilidade por dizer aquilo. “Viver esse tipo de barbaridade no século XXI é lamentável. Não podemos admitir qualquer tipo de racismo, de violência, contra qualquer ser humano. Eu não aceito”.

O homem chegou a ser levado para o 19° Batalhão da PM. Lá, ‘uma apuração minuciosa foi feita’ e, chegou-se a conclusão de que não haviam elementos suficientes para prendê-lo. Isso porque, não havia sido registrado nenhum documento gráfico que comprovasse a suposta boca de urna cometida por ele.

“Eu agradeço demais ao comandante, porque ele ouviu as duas versões e chegou a conclusão de que aquilo não fazia sentido. Sou grato a ele”, afirma a vítima. Também segundo o homem, quando os PMs foram levá-lo de volta para casa, pediram para que ele não comentasse o caso.

“As pessoas ficam com medo de denunciar [casos de racismo]. Medo do que? Estamos aqui para viver e, em nenhuma circunstância, podemos admitir racismo”, disse ao portal.

Racismo cometido por policial

Após as imagens circularem nas redes sociais, o Ministério Público (MP) pediu à Polícia Militar explicações e as identidades dos envolvidos, além de instaurar um procedimento para investigar o fato. O MP disse ainda que repudia e atua em diversas frentes no combate ao racismo.

Em nota, a Polícia Militar disse que, assim que ficou sabendo, determinou a abertura de um procedimento administrativo para apurar a circunstância do caso e afastou o policial militar das suas atividades operacionais até o final das apurações. A PM disse que “não compactua com nenhum tipo de conduta contrária aos preceitos das leis”.

O diretório estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) também se manifestou sobre a situação e exigiu apuração por parte do governo de Goiás. “Não vamos permitir intimidação, perseguição política e policial aos apoiadores do Lula em Goiás. Vivemos num Estado Democrático de Direito e exigimos respeito à liberdade de escolha e expressão da população”, afirmou.