Devoção e gratidão movem fiéis durante a Romaria do Divino Pai Eterno
Fé, devoção e o desejo de ter pedidos atendidos são os principais motivos que levam…
Fé, devoção e o desejo de ter pedidos atendidos são os principais motivos que levam milhares de romeiros ao Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia. A arquiteta Mariana Barbosa de Sousa Costa tem um motivo a mais: gratidão. Ela atribui a cura do câncer que afligia sua mãe a uma promessa feita ao Divino Pai Eterno, e está decidida a voltar à Basílica todos os anos, enquanto a recebedora da graça estiver viva.
Neste ano, Mariana saiu da fazenda da família, em Turvânia, rumo a Trindade, no domingo, dia 18. São 120 quilômetros a serem percorridos, num trajeto que deve levar cinco dias para ser completado.
“Estamos todos com muita fé. Está mais difícil que no ano passado — sempre há contratempos e as coisas nunca saem exatamente como a gente imagina –, mas temos certeza que vai dar tudo certo”, afirma a devota.
A comitiva da qual Mariana faz parte já existe há uma década e meia. A mãe dela não foi a primeira a receber uma bênção especial. “Minha tia e meu primo participam há 15 anos da romaria. A promessa deles começou com o vovô, que estava muito ruim no hospital, e eles fizeram a promessa de que iriam em comitiva todos os anos enquanto ele estivesse vivo”, relata. O avô morreu em 2016, pouco depois de a mãe de Mariana ser diagnosticada com câncer no intestino. Com a melhora no estado de saúde dela, a tradição continua, com a participação de familiares e amigos.
Neste ano, a comitiva é menor: enquanto em 2016 faziam parte 42 pessoas, neste, são 31. Juntos, eles percorrem trajetos que variam de 14 a 25 quilômetros por dia. A rotina começa às 5h da manhã e vai até por volta das 13h, com apenas uma pausa para a refeição nesse período. “Quando dá esse horário nós comemos paçoca, bolacha, biscoito, quitanda, frutas. Depois continuamos andando até as 16h ou 17h”, explica Mariana.
A tarefa não é fácil e exige preparo físico. No ano passado, a arquiteta até fez um treino especial pensando na romaria, com uma rotina de academia e caminhadas, mas em 2017 as coisas saíram um pouquinho diferentes. “Acabou que não consegui por conta do trabalho, então estou sentindo mais dores, achando mais difícil”, confessa.
Acordar cedo, andar debaixo do sol, sentir no corpo os reveses do esforço… nada disso desanima a fiel. “É uma tradição muito fervorosa. Só quem tem muita fé consegue participar, do contrário não dá conta”, declara.
Devoção
A aposentada Alda Cunha, aos 78 anos, também tem história com a Festa do Divino. Nascida e criada em Trindade, foi na Igreja Matriz de Trindade onde aconteceram os maiores marcos de sua vida, como o casamento, os festejos das bodas e o batismo dos filhos. “Foi o Padre Pelágio quem me batizou. Ele também casou a minha mãe”, conta ela orgulhosa.
Originária de uma família fervorosa, Alda participa do festejo desde que se entende por gente. Mesmo septuagenária, ela não tem pretensão de parar. “Vou por devoção mesmo. Tudo que peço para o Divino Pai Eterno sou atendida”, diz. “Costumo dizer que o Divino é o primeiro amor da minha vida. O marido vem depois”, afirma aos risos.
O marido de dona Alda, inclusive, no alto de seus 83 anos, também acompanha as cerimônias rigorosamente, apesar das pontes de safena e do marcapasso. Não há problema de saúde que os segure. “O Divino dá tanta força. Eu tenho problema nos joelhos, mas aguento a novena inteirinha. Comungo, rezo e nem sinto cansaço”, comenta a senhora.
Os quatro filhos, oito netos e quatro bisnetos dela também herdaram o gosto. “Todos casaram e foram batizados aqui. Todos são católicos, graças a Deus”, diz dona Alda.
Neste ano, a aposentada sabe bem o que fazer durante o evento: “Tem que rezar bastante a agradecer tanta graça”, revela. “E também pedir para o Divino Pai Eterno abençoar esse nosso Brasil, porque nós estamos precisando”, completa.
Trabalho árduo
Para atender romeiros como Mariana e Dona Alda, a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe) realizou todo um trabalho de preparação. “Estamos desde o mês de janeiro empenhados em organizar tudo para que o romeiro possa ter, durante os nove dias de novena e um de Festa, uma boa acolhida, um espaço favorável à oração, com segurança, onde ele possa realmente agradecer e pedir bênçãos para sua vida”, afirmou o reitor do Santuário, padre Edinisio Pereira.
A Romaria 2017 homenageia Maria, a Santa Mãe de Deus com o tema “Maria: serva humilde e fiel ao Pai Eterno”. A escolha foi inspirada pela celebração do Ano Nacional Mariano proclamado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em comemoração aos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, no Rio Paraíba, em São Paulo. Além disso, o tema está em comunhão com a Igreja em todo o mundo, que celebrou, em maio de 2017, o centenário das aparições de Nossa Senhora aos três pastorinhos, em Fátima, Portugal.
A expectativa é que, em 2017, a romaria reúna 2,5 milhões de pessoas. Para atender a esse público foi necessário o empenho de 2 mil voluntários e colaboradores. Cerca de 500 padres foram convidados para o evento, entre diocesanos e das Províncias Redentoristas do Brasil.
Serão realizadas 110 missas, 45 novenas, 27 orações do terço e 11 procissões, além de centenas de batizados e confissões, alvoradas e vigílias. Ainda ocorrem encontros de jovens, desfile dos carreiros e também de cavaleiros e muladeiros. “É um trabalho muito pensado, planejado e prazeroso, uma vez que temos a oportunidade de nos renovar na fé, não somente o romeiro. Isso nos ensina e nos mostra que estamos no caminho certo”, afirma o padre Edinisio.
Sobre a programação da Romaria 2017, o reitor destacou que o principal diferencial será a participação dos jovens. “O romeiro terá a programação de todos os anos. Inicia-se sempre com a Alvorada Festiva, às 5h, seguida de missas e novenas de hora em hora, no Santuário Basílica e Matriz. Este ano, em especial, teremos uma programação voltada aos jovens. Temos também programações culturais no Cineteatro, de modo que engloba tudo, a oração e o entretenimento”, pontuou.
A Prefeitura de Trindade também fez preparativos para o evento. “Fizemos um planejamento de segurança pública e saúde pública. Termos postos de saúde montados na cidade toda, a limpeza urbana está reforçada com equipes trabalhando 24h”, salientou o prefeito Jânio Darrot. “Toda a nossa preocupação com segurança é para que seja, como em todos os anos, uma Festa tranquila, sem ocorrências graves, onde as pessoas possam vir e professar a sua fé”, disse.
Por parte do Corpo de Bombeiros, o objetivo principal é restar serviços de prevenção ostensiva ao longo da GO-060, rodovia dos romeiros, nos principais pontos da cidade e nos locais com grande concentração de público. Equipes da corporação vão se revezar durante 24 horas durante os dez dias de festa e duplas de socorristas também estarão presentes nos eventos (em locais estratégicos) de maior aglomeração.
A maior preocupação dos bombeiros é com os maus súbitos que acometem os peregrinos, como destaca o tenente-coronel Emerson Divino Gonçalves. “São pessoas que desmaiam, têm queda de pressão e fraqueza. Por isso, passamos algumas orientações aos romeiros como fazer a caminhada em horários de sol mais frio, se hidratar ao logo do percurso, alimentação leve e roupas adequadas. Durante a estadia aqui em Trindade, buscar andar com identificação do local de hospedagem, ter o cuidado com velas nas procissões e nas pousadas”, ressaltou.
O policiamento também será reforçado em Trindade durante o evento, com mais de 2 mil homens distribuídos na cidade. De acordo com o coronel do 22º Batalhão da Polícia Militar, Renato Brum, serão empregados câmeras de monitoramento, aeronave e equipes do batalhão de Choque, do Graer e do Giro, além da Polícia Rodoviária. “A nossa maior preocupação é a segurança para manter a paz na cidade e orientação para o peregrino é não ostentar objetos e tomar cuidado com carteiras, bolsas. Qualquer ocorrência, podem nos acionar. A PM está pronta para atender a sociedade em qualquer situação com todo apoio necessário”, declarou.