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Dia Mundial da Fotografia: a jornada visual de André Dib e o poder da imagem documental

Fotógrafo que registra paisagens, fauna e flora, já venceu prêmios no Brasil e no exterior e teve trabalhos publicados na revista National Geographic e no jornal The Guardian

Neste 19 de agosto, celebra-se o Dia Mundial da Fotografia, uma arte que captura não apenas imagens, mas também histórias, emoções e realidades muitas vezes desconhecidas. Para marcar a data, o Mais Goiás conversou com André Dib, uma das vozes mais influentes da fotografia documental no país. Vencedor de 15 prêmios no Brasil e no exterior, Dib já teve trabalhos destacados em conceituadas publicações como National Geographic Brasil, The Guardian, O Globo, e Folha de São Paulo, entre outros. Ele também já produziu conteúdo para a WWF-Brasil, Itaú e ICMBio. O fotógrafo, que já participou de diversas expedições pelo mundo documentando paisagens, fauna, flora e o modo de vida de povos e comunidades tradicionais, compartilhou sua trajetória, desafios e reflexões sobre o poder da imagem em tempos de mudança.

Paixão pela Natureza

Apaixonado pela vida ao ar livre, para Dib, a fotografia não foi o ponto de partida, mas sim uma consequência de sua paixão pela natureza. “A paixão pelo estilo de vida outdoor veio primeiro”, conta. “Primeiro vieram as trilhas, a busca pelo mundo natural, e logo a ânsia de documentar essas belezas”.

Essa busca o levou a lugares remotos e inexplorados, onde a lente da câmera se tornou uma extensão de seu olhar e de sua alma. André já esteve na Antártida mais de uma vez, no Oriente Médio e em outros pontos isolados do globo. Também já documentou algumas das principais montanhas brasileiras, tendo escalado os picos mais altos do Brasil.

Desafios em Territórios Inóspitos

A força das imagens capturadas em locais remotos e desafiadores se tornou a marca registrada da trajetória de André Dib. Seu trabalho se concentra na natureza vibrante e na forma como o ser humano se integra a ela.

Planejar e executar expedições fotográficas em locais remotos não é tarefa fácil. Por isso, Dib descreve com entusiasmo a logística envolvida em uma de suas expedições mais desafiadoras: “Já acompanhei cientistas numa cadeia de montanhas isoladas no Amazonas, conhecidas como Serra do Imeri. Nos deixaram lá de helicóptero e, depois de 13 dias, voltaram para nos buscar”, relembra.

Para o fotógrafo, cada expedição, seja uma demanda específica ou um projeto autoral, traz suas próprias peculiaridades. Entre os muitos desafios enfrentados, imagens de animais se destacam. “Fotografia de fauna exige muito conhecimento”, explica ele.

Uma das experiências mais marcantes para o profissional foi a busca por uma onça-preta na Amazônia, que demandou mais de uma semana em campo. “Foi uma espera longa, mas o momento em que finalmente conseguimos capturar a imagem foi indescritível.”

Nem todos os desafios enfrentados por Dib foram técnicos. Alguns envolveram riscos físicos e mentais significativos, como na ocasião em que acompanhou o antropólogo Pedro Viana na Selva Central do Peru.

“Percorremos, durante 15 dias, os caminhos mais intrincados da floresta, em trilhas indígenas de difícil acesso, em busca dos últimos Ashaninkas que vivem em isolamento. Além da natureza rude, tivemos que atravessar zonas onde grupos narcoterroristas ainda atuam”, relembra.

Apesar dos perigos, André perseverou, guiado por seu compromisso de documentar culturas e ambientes em risco de desaparecer.

A Força da Fotografia

Dib acredita que a fotografia tem o poder de tocar o público para questões ambientais urgentes. “A fotografia tem o poder de sensibilizar as pessoas, seja através da beleza das imagens desse mundo natural, ainda preservado, ou através do fotojornalismo, onde utilizamos a imagem como ferramenta para denunciar crimes ambientais e injustiças sociais.”

Com o avanço das tecnologias digitais e das redes sociais, a fotografia passou por uma transformação significativa. Sobre isso, André Dib reconhece tanto os aspectos positivos quanto negativos dessas mudanças.

“Existe uma vulgarização no uso excessivo das imagens, mas ao mesmo tempo uma democratização do ato de fotografar”, observa. “Ainda assim acredito que a fotografia documental continuará a ter um papel crucial em narrar histórias e despertar consciências”, acrescenta.

Quando indagado sobre uma foto que marcou sua carreira, o fotógrafo menciona uma imagem de Dona Anita, apanhadora de flores sempre-viva no Alto Jequitinhonha, Minas Gerais. “Ela era um símbolo de resistência e pureza, e ao mesmo tempo, seu olhar trazia as contradições de uma sociedade desigual.”

A fotografia de Dona Anita não apenas capturou uma imagem, mas também despertou em André uma profunda reflexão sobre a realidade do Brasil rural, levando-o a se dedicar ainda mais ao fotojornalismo.

Legado e Futuro

Sobre como gostaria que seu trabalho fosse lembrado, André Dib reflete: “Hoje estou fotografando paisagens que começam a desaparecer, povos que estão sendo esmagados pelo avanço do agronegócio mais predatório. Espero que esse trabalho conscientize as pessoas e, de certa forma, as estimule a mudar o rumo disso.”

Para os aspirantes a fotógrafos, o profissional oferece um conselho: “Fotografar é um ato político. Desenvolva uma linguagem autoral que faça as pessoas refletirem sobre as pessoas, sobre a natureza e o mundo que as cerca.”

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