Diagnóstico precoce do câncer de mama pode salvar 95% das pacientes
Ruffo de Freitas Júnior, médico mastologista, defende o autoexame e a mamografia periódicas como prevenção; Edina Pereira Pinto, 44 anos, conseguiu diagnosticar a doença cedo e otimizou o tratamento
O diagnóstico precoce do câncer de mama pode salvar 95% das pacientes. Mais comum entre elas, a doença pode chegar a 200 mil mulheres em 2022, segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Destas, 11.280 no Centro-Oeste e cinco mil em Goiás.
Em outubro, mês que tem início nesta quinta-feira (1o), ocorre a campanha Outubro Rosa, que visa a conscientização para a prevenção e controle da doença e que, neste ano, será restrita as plataformas digitais.
Apesar da taxa positiva de cura, o câncer de mama foi a segunda causa de óbito mais frequente entre as mulheres no passado, segundo o Datasus: 18 mil óbitos. Isto, porque somente 24% das pessoas com a doença a identificam precocemente, segundo o Observatório de Oncologia.
“O câncer é uma corrida contra o tempo. Sabemos, por exemplo, que a mamografia consegue detectar a doença até dois anos antes dela se tornar clinicamente evidente. O que, além de aumentar consideravelmente as chances de cura, diminui os efeitos tóxicos das terapias sistêmicas e as mutilações das mamas”, comenta o mastologista Rubens José Pereira, que atua no Setor de Ginecologia e Mama (SGM) do Hospital de Câncer Araújo Jorge (HAJ).
Assim, ele aponta que a descoberta tardia prolonga o tempo da mulher em hospitais e, consequentemente, aumenta muito os gastos do SUS com o tratamento do câncer de mama. Ele lembra que, em 2019, o SGM realizou quase 25 mil consultas ambulatoriais e Sistema Único de Saúde cerca de 3 mil cirurgias.
Prevenção
Ruffo de Freitas Júnior, médico mastologista (que estuda glândulas mamárias), afirma que, em Goiás, menos de 20% da capacidade dos mamógrafos do SUS é utilizada. “Temos, então, a capacidade de aumentar em 80% a assistência sem gastar nada”, relata. Destaca-se que, em 2019, foram feitas no Estado 10.230 mamografias.
Um estudo do Observatório de Oncologia apontou que Goiás tem 49% dos diagnósticos realizados de forma tardia. A pesquisa, que analisou o panorama de atendimento das mulheres com câncer de mama, no âmbito do SUS, entre 2015 e 2019, também evidenciou que as pacientes demoram mais de três meses para começarem o tratamento: o problema está no tempo gasto até que a paciente seja encaminhada para a rede especializada.
Informações do HAJ dão conta que, no País, o tempo médio para o início do tratamento é de cerca de 83 dias, sendo 76 dias para a quimioterapia, 78 para cirurgia e 148 de radioterapia.
Autoexame e outras medidas
Ao Mais Goiás, Ruffo ressaltou, como ações que favorecem o diagnóstico precoce, o autoexame e a já citada mamografia. Sobre o primeiro, o mastologista destaca que é importante a mulher conhecer o corpo e perceber o que está acontecendo, se há alguma mudança. “Se verificar alguma diferença que antes não tinha, um nódulo, por exemplo, deve procurar a atenção de saúde, pelo SUS ou de outra forma.”
Esse autoexame pode ser feito mensalmente. Por ser mais simples, o toque deve ser feito a partir do momento que a mulher começa a menstruar, após o ciclo. Para aquelas que retiraram o útero ou já passaram pela menopausa, ele sugere a escolha de uma data fixa.
Acerca da mamografia, ele diz que o exame não é perfeito, mas é o melhor disponível e tem mostrado possibilidades reais de salvar vidas. “A recomendação das sociedades de Mastologia, Ginecologia e Radiologia, é que a mamografia comece a ser feita, anualmente, a partir dos 40 anos e até os 74”, expõe.
Ele expõe, também, que existem mulheres, que têm histórico familiar e realizaram um teste genético que mostra mutação. “Um gene alterado”, informa. Para estas, além da mamografia, ele recomenda a ressonância magnética das mamas.
Mais recomendações
Ruffo reforça que é necessário, de fato, a prevenção. Ele destaca que a obesidade, o hábito de consumir álcool e a não realização de atividade física são fatores de risco para o câncer de mama e outros tipos, além de outras doenças. “É preciso uma conscientização para mudança no estilo de vida. Praticar exercícios, ter boa alimentação, rica em verduras e frutas, reduzir o álcool…”
Questionado sobre “eles”, o médico afirma que para cada cem mulheres, um homem terá câncer de mama. “Os fatores de risco são os mesmos das mulheres. Mas como a mama do homem é menor, não há necessidade de mamografia. Mas é importante que ele se auto examine, que passe a mão no peito e veja se tem caroço ou área que está doendo. Isso é obrigação de todos”, diz e reafirma: “Tendo alteração, tanto homens como mulheres, é preciso procurar o mastologista o mais breve possível.”
Paciente
A operadora de caixa Edina Pereira Pinto, 44 anos, descobriu o câncer de mama, em 2013, depois de sentir um nódulo no seio. Ela, antão, procurou um médico e verificou que o tumor estava em sua fase inicial.
Com isso, ela pode tratar a doença somente com sessões de radioterapia e quimioterapia. Infelizmente, um ano depois ela teve a notícia que o câncer retornou. Porém, com a experiência bem-sucedida do passado a esperança foi maior que o medo. “Em 2015 passei por uma mastectomia e já fiz a reconstrução mamária em seguida. Hoje faço apenas acompanhamento”, celebra.