Discussões sobre os reflexos da Operação Carne Fraca dominam o primeiro dia da ExpoPec 2017
Para muitos dos envolvidos no setor agropecuário, houve exagero na forma com que as apurações da Polícia Federal foram tratadas
A repercussão gerada pela Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal na última sexta-feira (17), dominou os assuntos no primeiro dia da Exposição das tecnologias voltadas para o desenvolvimento da pecuária (ExpoPec), nesta quinta-feira (23). Para muitos dos envolvidos no setor agropecuário, houve exagero na forma com que o caso foi tratado.
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, destacou que as irregularidades constatadas na operação envolviam um número ínfimo de empresas e agentes do Ministério da Agricultura. “São fatos isolados. No Brasil nós temos 5 mil unidades frigoríficas e apenas 21 estão sob suspeita. O ministério tem quase 11 mil colaboradores e só 33 sob suspeita”, afirmou.
A Operação Carne Fraca foi deflagrada para desarticular uma organização criminosa integrada por fiscais agropecuários que recebiam propina para emitir certificados sanitários sem fiscalização. Para disfarçar carnes vencidas, alguns frigoríficos teriam utilizado componentes químicos para alterar a aparência dos produtos.
José Mário assegurou que a pecuária brasileira foi construída “a duras penas e com muito trabalho”, fundamentando-se na ciência e na tecnologia, “além da dedicação e do amor dos envolvidos” para o seu desenvolvimento. Por isso, ele lamenta que as generalizações causadas pela repercussão das investigações prejudiquem todo o setor.
“Quiseram fazer uma pirotecnia com o que há de melhor no País”, disse. Os resultados, aponta Schreiner, são a redução do consumo interno e as suspensões temporárias das exportações já anunciadas por diversos países. “Os prejuízos ainda estão no início”, alerta.
De acordo com o presidente, cabe agora aos agentes do setor tomarem iniciativas para evitar que a crise criada se aprofunde e se alastre. “A agropecuária é o setor que vem segurando o País. Zelar pela pecuária é zelar por toda a população brasileira”, declarou.
Apesar das críticas, José Mário fez questão de ressaltar que defende com veemência as apurações e a punição aos autores de irregularidades que venham a ser constatadas.
Na mesma linha, o presidente do Sindicato Rural de Porangatu, Gustavo Castro Dourado, defendeu, durante discurso na abertura da ExpoPec 2017, o rigor nas investigações das irregularidades levantadas durante a operação. Ele acredita que as apurações serão, a longo prazo, benéficas para a pecuária.
“Os nossos pecuaristas brasileiros cumprem com todos os protocolos sanitários necessários para garantir a qualidade da carne e do leite produzido, em acordo às mais exigentes legislações de saúde animal do mundo”, afirmou. “Não é possível nem aceitável gerar incertezas ou inseguranças aos milhões de consumidores de carne do Brasil ou do exterior”.
Ele celebrou o fato de que empresas e funcionários apontados como autores de irregularidades tenham sido punidos. “Então tudo isso foi positivo, pois confere com absoluta certeza ao consumidor que nós produzimos a carne mais segura e saborosa do mundo”, pontuou.
Já o prefeito de Porangatu, Pedro Fernandes, destacou a importância de um evento como a ExpoPec par ajudar a desmistificar a má fama que recaiu sobre a pecuária neste momento. “Eu acredito que crise se vence com muito trabalho. E esse trabalho está sendo feito aqui pela ExpoPec, que é o que vai dar continuidade à segurança do nosso produto”, afirmou. “Somos igual a fênix: Vamos ressurgir das cinzas, dar a volta por cima e o País voltará a ser líder nas exportações de proteína animal no mundo”, concluiu.
Palestras
O diretor executivo da Estratégia PCI (Produzir, Conservar e Incluir) do governo do estado do Mato Grosso, Fernando Sampaio, foi um dos palestrantes do primeiro dia da ExpoPec. No evento, ele defendeu a importância do investimento em gestão.
Para o diretor, é fundamental que os produtores estejam sempre atentos ao mercado. “É necessário sempre acompanhar o que está acontecendo. Avaliar o que existe lá fora e dentro no país. As práticas que estão dando certo e as que não estão tendo resultado. Isso tudo faz parte de uma visão estratégica que poderá garantir a sustentabilidade do negócio”, disse.
O palestrante também ressaltou que o mercado deve estar pronto para momentos de desbalanço, como o que ocorre atualmente no País. “Isso vai acontecer sempre. Já passamos pela questão da doença da vaca louca e outras tantas que causaram problemas na pecuária. Mas o setor consegue se levantar. A carne é forte, e não fraca. E todos sabem disso. O produtor precisa ter essa visão estratégica para conseguir se desvencilhar desses obstáculos que surgem no caminho”, ponderou.
Um dos destaques da noite, o médico Drauzio Varella esteve no evento para palestrar sobre a importância da carne, rebatendo as afirmações de que seu consumo seria prejudicial à saúde humana. “A carne vermelha foi essencial para a sobrevivência da espécie”, disse. “A humanidade sempre passou fome, desde os primórdios. Como o povo vivia nas cavernas? Vivia às custas da carne, mas aí, na metade do século XX, se demonizou a carne, dizendo que seria responsável por ataques cardíacos, derrames cerebrais, doenças cardiovasculares de forma geral, só que isso nunca foi demonstrado. Não existe nenhuma evidência de que isso seja verdade”, assegurou.