Dólar fecha em R$ 5,16 com incertezas sobre inflação americana
Moeda, que encerrou no maior patamar desde 27 de março, chegou à máxima de R$ 5,18 durante a quinta-feira
O dólar não para de subir. Só nos últimos 30 dias, a alta foi de aproximadamente 4%. E nesta quinta-feira, depois de ter alcançado a máxima de R$ 5,1881, a moeda americana fechou com ganho de 0,32% ante o real, cotada a R$ 5,1687. Esse é o maior patamar desde 27 de março deste ano.
Não há, no entanto, uma perspectiva de quando a sequência de valorizações da divisa poderá ser interrompida. Segundo especialistas, tudo depende do cenário externo e, em especial, da economia dos Estados Unidos.
Enquanto, no Brasil, o mercado está confortável com o andamento das propostas econômicas no Congresso, com a inflação mais controlada do que antes e com a taxa Selic em queda, o foco dos investidores se volta para as economias desenvolvidas.
De olho no mercado de trabalho
Esta semana foi marcada por diversos indicadores sobre o mercado de trabalho nos EUA. Há, no entanto, grande expectativa pela divulgação nesta sexta-feira do Payroll — o principal indicador de empregos da economia norte-americana por incluir desde trabalhos agrícolas e autônomos até cargos militares.
Isso porque, quando o mercado de trabalho está aquecido, fica mais difícil controlar a inflação e, consequentemente, o Federal Reserve (o banco central americano) precisa adotar uma postura mais rígida para combater os preços elevados, como anunciar novas altas na sua taxa de juros.
Em um cenário com muitas vagas abertas, mais trabalhadores são empregados com salários mais altos. Essas pessoas passam a ter maior renda disponível para consumo. Com mais consumidores interessados em ir às compras, os preços sobem, ou seja, a inflação aumenta.
Em geral, para conter essa alta, os bancos centrais costumam elevar as taxas de juros. Assim, o crédito, do parcelamento do cartão de crédito ao financiamento de um imóvel, fica mais caro, fazendo com que as pessoas optem por não gastar tanto para não ter uma dívida cara.
Bruno Komura, da Potência Capital, acredita que, caso o mercado de trabalho se mostre mais forte que o esperado, as bolsas possam desabar ainda mais e o rendimento da renda fixa americana possam disparar, influenciando o câmbio:
— Acredito que o dólar feche a R$ 5,10 no fim do ano.
Laura Moraes, economista da Neo Investimentos, alerta que o contexto faz com que o dólar se fortaleça não só diante do real.
— Em um mês, o peso chileno desvalorizou 4,8% e o mexicano, 4,6%. Nesse sentido, até moedas de outros países desenvolvidos sofreram, embora em menor magnitude. Por exemplo, a desvalorização do euro foi de 1,8% e o yen do Japão foi de 0,5% — calcula.
Mas o que isso tem a ver com o Brasil?
Enquanto consumir passa a não ser mais tão interessante quando as taxas de juros estão altas, o oposto acontece com os investimentos: deixar o dinheiro guardado em aplicações de renda fixa se torna mais vantajoso por causa dos rendimentos maiores.
Os treasuries americanos, títulos de dívida do governo, estão pagando retornos com níveis recordes desde 2007, aproximadamente 4,70%, o que leva os estrangeiros a fazerem o cálculo do risco-retorno. Com isso, acabam migrando suas poupanças de investimentos mais arriscados em economias emergentes para ativos seguros nos Estados Unidos.
Com mais gente querendo vender o real e comprar dólar para migrar o dinheiro para fora do país, a cotação da divisa americana sobe.