Dona da marca Starbucks no Brasil entra com pedido de recuperação judicial
Dívida é de R$ 1,8 bilhão. Pedido da SouthRock Capital foi feito no Tribunal de Justiça de São Paulo
Dona no Brasil de marcas como Starbucks, Eataly e Brazil Airport Restaurantes, a SouthRock Capital protocolou pedido de recuperação judicial na 1ª Vara de Falências da Justiça de São Paulo. A empresa alega dívidas de R$ 1,8 bilhão e a decisão de recorrer à recuperação judicial foi tomada “para proteger financeiramente algumas de suas operações no país e ajustar seu modelo de negócio à atual realidade econômica”.
A empresa justifica que a crise econômica no Brasil, resultado da pandemia, a inflação e as taxas de juros elevadas agravaram os desafios do negócio. Mas há um agravante: o pedido de recuperação judicial foi acelerado porque, na semana passada, a empresa perdeu a licença para usar a marca da rede de café no Brasil.
A informação da suspensão da licença foi enviada a Justiça no pedido de recuperação judicial. Houve atrasos no pagamento do licenciamento que, segundo a SouthRock, já vinham sendo negociados com a licenciadora.
A SouthRock explica que no dia 13 de outubro, a Starbucks Coffee International Inc. encaminhou o documento “Notice of Termination of Licensing Agreements” (“Notificação de Rescisão Starbucks”). Por ele, foi declarada a imediata rescisão dos acordos de licença para uso da marca Starbucks celebrados entre as partes. A SouthRock tem 187 lojas da marca no Brasil.
“Os acordos de licença Starbucks tidos por rescindidos são justamente os instrumentos pelos quais foi garantido aos requerentes o direito de exploração e operação das lojas de varejo da marca Starbucks no Brasil”, diz a SouthRock na petição enviada à Justiça paulista.
A SouthRock argumenta que a manutenção das atividades é “absolutamente essencial” para viabilizar a reestruturação do passivo. O faturamento bruto da Starbucks, é de R$ 50 milhões e “representa relevantíssima parcela do fluxo de caixa consolidado” do grupo, diz a petição. O escritório Thomaz Bastos, Waisberg, Kurzweil, que representa SouthRcok, pede que seja mantido o direito de uso da marca, evitando queda no fluxo de caixa.
Nas redes sociais, já há relatos de lojas fechadas e demissões.
“O que está acontecendo com a Starbucks Brasil ? Ontem tentei tomar café e pelo menos 3 lojas fechadas. É o facão chegando aos funcionários”, diz um dos comentários.
Sobre a suspensão da licença, a SouthRock informou que segue operando a marca Starbucks no Brasil em estreita colaboração com seus parceiros comerciais. A empresa não comentou demissões, mas na petição do pedido de recuperação judicial há menção de “ajuste na força de trabalho e no número de lojas operantes”.
“Alinhamentos sobre licenças fazem parte do processo de Recuperação Judicial e são realizados diretamente com esses parceiros”, informou a empresa em nota.
Sobre a conjuntura econômica, a SouthRock deu a seguinte explicação à Justiça para o pedido de recuperação judicial:
“O baixo grau de confiança e alta instabilidade, bem como pela volatilidade das taxas de juros e constantes variações cambiais desequilibram o mercado e atingem fortemente o empreendedor brasileiro”, diz o pedido apresentado pela empresa.
Os ajustes a serem feitos pela companhia incluem a revisão do número de lojas operantes, do calendário de novas aberturas, de alinhamentos com fornecedores e stakeholders (partes interessadas), bem como de sua força de trabalho tal como está organizada atualmente, diz a empresa, que também opera a marca Subway, mas que ficou fora do pedido de recuperação judicial.
Queda de 95% nas vendas
No pedido de recuperação judicial, a empresa informa queda de venda de 95% durante 2020, 70% durante 2021 e 30% durante 2022. A empresa alega ter sido atingida pela inadimplência de seus parceiros comerciais.
Também menciona dificuldade de conseguir crédito para capital de giro e cita a alta dos preços de insumos para o varejo e das dificuldades de manutenção de lojas físicas durante a pandemia. Tudo isso afetou sua capacidade de pagamento, diz a companhia na petição.
“Diante do delicado cenário econômico-financeiro, não restou alternativa que não o ajuizamento do pedido de recuperação judicial não apenas para proteger o seu interesse privado, mas também para garantir a continuidade de sua atividade empresarial, manter os postos de trabalho, a produção de bens e o recolhimento de tributos”, justifica a empresa, observando que a crise é passageira e tem condições de ser resolvida.
Reestruturação já tinha começado
A companhia já tinha começado seu processo de reestruturação com a contratação de consultores externos. A empresa reforça seu compromisso com os negócios em curso e com todas as partes envolvidas em meio à instabilidade do mercado.
Em nota, a SouthRock informou que, enquanto esses ajustes estruturais são implementados, “todas as marcas continuarão operando e entregando os produtos exclusivos e as experiências únicas que cada uma delas oferece aos consumidores que visitam suas lojas todos os dias”.
Fundada em 2015, a SouthRock promoveu a expansão de marcas internacionais no país de alimentação com franquias. A Brazil Airport Restaurants inaugurou suas primeiras lojas de aeroporto em 2017 e atua em alguns dos terminais mais movimentados do Brasil.
Atualmente, são 25 pontos localizados em São Paulo, Rio, Brasília, Florianópolis, Belo Horizonte. A empresa também controla a Brazil Highway com seis restaurantes nas principais rodovias do estado de São Paulo.
Em 2018, a SouthRock tornou-se a master licenciada da Starbucks e TGI Fridays no país. A operação rede de cafés Starbucks foi vendida no Brasil, naquele ano, por um valor não revelado para a SouthRock, fundada por Ken Pope, que foi sócio da Laço Management. O acordo de licenciamento fechado entre as duas empresas deu à SouthRock o direito de desenvolver e operar as lojas da Starbucks no país.
Em 2019, a Starbucks expandiu sua operação inicialmente focada em São Paulo e Rio, para Santa Catarina, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais. E, em 2022, a SouthRock passou a operar o centro gastronômico Eataly, em São Paulo.