Dono de hospital recebe PF a tiros em ação que mira governador do Amazonas
Investigação apura suspeitas na contratação de hospital privado pelo governo do Estado para funcionar como hospital de campanha
A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira uma nova fase da operação sobre desvios na aplicação de recursos de combate à Covid-19 pelo governo do Amazonas. Um dos alvos de mandado de prisão temporária, o empresário Nilton Costa Lins Júnior recebeu a tiros os policiais federais durante a ação realizada em sua residência. Nenhum policial chegou a ser atingido, segundo fontes que acompanharam o caso, e o empresário acabou preso.
Nilton Lins é um dos donos do grupo empresarial que leva o nome de sua família e que possui um hospital privado em Manaus, que foi requisitado pelo governador do Amazonas Wilson Lima (PSC) para receber pacientes com Covid-19, sob um contrato de três meses no valor de R$ 2,6 milhões que previa a instalação de estrutura de hospital de campanha. Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), houve direcionamento à contratação do hospital privado, já que um outro hospital possuía estrutura pronta para receber ampliação de 300 leitos.
Na sessão de julgamento do Superior Tribunal de Justiça nesta quarta, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo comentou o caso.
— Gostaria de comunicar que tivemos um incidente bastante sério. A Polícia Federal foi recebida a tiros pelo filho do Nilton Lins, em uma situação bastante constrangedora e perigosa. Nós também temos um foragido, que é o Marcellus Campello. Foi a primeira vez que eu, em 30 anos, vi alguém receber a tiros uma busca e apreensão determinada por um ministro – afirmou.
No início do ano, o empresário também se envolveu em outra polêmica sobre suspeitas de furar a fila da vacinação. Suas filhas Gabrielle Kirk Lins e Isabelle Kirk Lins postaram fotos em redes sociais se vacinando em janeiro, logo no início da aplicação do imunizante. As duas são médicas recém-formadas e tinham sido nomeadas em cargos comissionados na prefeitura de Manaus na véspera do início da vacincação na cidade, o que levantou suspeitas de que a nomeação ocorreu apenas para justificar a vacinação. O Ministério Público chegou a abrir procedimento para investigar os fatos.
Entenda a operação
Além do empresário Nilton Lins, o secretário de Saúde, Marcellus Campêlo, também foi alvo da operação da Polícia Federal desta quarta-feira. Os policiais cumprem mandados de prisão temporária do secretário, que não havia sido encontrado pela manhã, além de busca e apreensão contra o governador Wilson Lima (PSC) e outros alvos. Campêlo foi preso apenas pela tarde, após ter se apresentado às autoridades.
A ação foi autorizada pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Francisco Falcão e solicitada pela Procuradoria-Geral da República (PGR). É a quarta fase da Operação Sangria, que já tinha cumprido buscas contra o governador nas fases anteriores. Nesta quarta-feira, a corte especial do STJ julgaria o recebimento da primeira denúncia do caso, o que poderia tornar Wilson Lima réu por desvios na saúde durante a pandemia, mas o caso acabou sendo adiado depois de um pedido da defesa dos acusados. O governador também entrou na mira da CPI da Covid e foi convocado para prestar depoimento sobre o assunto.
Marcellus é o segundo secretário de Saúde do Amazonas a ser preso. Sua antecessora, Simone Papaiz, foi presa em junho do ano passado em uma das fases da operação. A PF também cumpre outros cinco mandados de prisão temporária, contra representantes das empresas suspeitas de envolvimento nos desvios.
Nesta nova fase, a PGR apura irregularidades na contratação de um estabelecimento privado, o Hospital Nilton Lins, para recebimento de pacientes com Covid-19, pelo valor de R$ 2,6 milhões para três meses de funcionamento. Segundo a investigação, o governador teria direcionado a contratação do hospital sem observar os requisitos legais. Também há suspeitas de que contratos com empresas para fornecer material para a estrutura temporária do hospital estariam superfaturados, como apontou a PGR. “Houve não apenas diversas irregularidades relativas à contratação em si, bem como a prática de superfaturamento, mediante o pagamento por serviços não prestados”, escreveu a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo no pedido de buscas.
O ministro também autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Wilson Lima e dos outros alvos da operação.
Em sua decisão, o ministro Francisco Falcão classificou de “impressionante” o fato de a atuação do grupo criminoso ter continuado mesmo após a primeira fase da Operação Sangria, no ano passado.