Doria diz que governo federal quer repassar incompetência ao Butantan
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), rebateu nesta sexta (19) as críticas do…
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), rebateu nesta sexta (19) as críticas do governo federal de que o Instituto Butantan tem atrasado a entrega de vacinas e afirmou que o Ministério da Saúde quer “repassar a incompetência” da pasta.
Dirigindo-se diretamente a Elcio Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde, Doria afirmou que “é inacreditável que o Ministério da Saúde queira atribuir ao Butantan a responsabilidade pela sua incompetência, sua ineficiência e sua incapacidade, que está acarretando a falta de vacinas nas cidades, nos estados e no país”, disse.
Na quinta (18), o Butantan e o Ministério da Saúde trocaram acusações em relação aos prazos de entrega da vacina Coronavac. O ministério afirmou que a dificuldade em manter o cronograma inicial “está em o Butantan conseguir cumprir as entregas das doses previstas em contrato”. Em vídeo, Elcio Franco afirmou que “fica muito difícil planejar sem ter a confirmação de que vamos receber”.
Nesta sexta, o governo paulista reagiu. Afirmou que Franco, “de saúde, não entende. Pode entender de outra coisa. De saúde, não tem competência nem habilitação para falar”.
O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que “causa espécie” a fala do ministério. Segundo ele, a importação da China de insumos para a produção de novas doses que ocorreu no começo de fevereiro deveria ter sido feita na primeira quinzena de janeiro, e creditou o atraso ao desgaste diplomático entre o Brasil e a China. Familiares e partidários do presidente Jair Bolsonaro protagonizaram atritos com o maior parceiro comercial do país desde o começo da atual gestão.
Covas afirmou que até 31 de março o Butantan terá entregado 27,1 milhões de doses ao governo federal. Em abril, serão mais 18,9 milhões, a depender da chegada de novos lotes de matéria prima, somando as 46 milhões de doses acordadas inicialmente.
De maio a agosto, a previsão é entregar mais 54 milhões de doses, mas isso também depende da chegada de insumos.
“Vamos colocar a responsabilidade em quem tem responsabilidade”, afirmou Covas, apresentando uma série de ofícios enviados ao governo federal desde julho do ano passado com ofertas de venda da Coronavac, que não foram respondidos.
“Ofertamos nessa oportunidade [em julho] 60 milhões de doses da vacina prontas para entrega ainda em 2020 e 100 milhões para serem entregues em 2021. Não tivemos resposta”, disse.
“Fizemos novos ofícios com o mesmo teor em agosto, outubro e dezembro. A resposta saiu com a assinatura do contrato, no dia 7 de janeiro, um mês e pouco atrás”, afirmou.
Covas disse ainda que o Instituto e o governo estão analisando a nova proposta de compra de mais 30 milhões de doses pelo Ministério da Saúde.
Fim da reserva de doses Nesta sexta, em reunião com prefeitos, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, orientou que os municípios não reservem mais metade das doses da vacina para a segunda aplicação (os imunizantes precisam de duas doses para serem efetivos).
Em entrevista à imprensa, o governo paulista afirmou que, caso a medida seja oficializada em documentos, pretende adotá-la.
Regiane de Paula, coordenadora de Controle de Doenças da Secretaria da Saúde, afirmou que, se confirmado, “a partir de amanhã nós já iniciaremos uma nova estratégia de vacinação”, avançando para outras faixas etárias.
Segundo o coordenador do Centro de Contingência da Covid-19, Paulo Menezes, se a vacinação chegar aos idosos com mais de 75, a redução de mortes pela doença pode chegar a 40%. Se todas as pessoas com até 60 anos forem vacinadas, a redução em internações e UTIs chega a 50%. “O centro de contingência recebe com muita satisfação essa notícia”, afirmou.
A decisão, no entanto, não é consenso entre cientistas, que temem que a segunda dose seja postergada caso não haja vacinas suficientes, e os testes clínicos foram feitos com intervalos específicos.
João Gabbardo, também do centro de contingência, diz que “não há unanimidade nem mesmo dentro da equipe”, mas que defende “que devemos vacinar o mais rapidamente todas as pessoas com mais de 60 anos de idade”. “Julgo que o risco de atrasar algumas semanas a segunda dose é muito menos prejudicial do que ficarmos com as vacinas guardadas e as pessoas morrendo por Covid.”
Reclassificação
O estado regrediu as regiões de Barretos e Presidente Prudente para a fase vermelha do Plano São Paulo, a mais restritiva, que demanda fechamento de atividades não essenciais. Por outro lado, avançaram as regiões de Franca, para a fase laranja, e Sorocaba, para a fase amarela.
Na fase amarela, o governo paulista vai permitir que restaurantes sirvam bebidas alcóolicas até as 22h, e não mais até as 20h, desde que os clientes estejam sentados e a lotação seja restrita a 40% da capacidade.
Segundo o governo, a ocupação de UTIs está em 66,7% no estado. Hoje, há 6.147 pessoas internadas em UTIs, segundo o governo, número próximo ao recorde já registrado na pandemia, de 6.250, no ano passado.
Ao todo, 1.932.017 pessoas já foram vacinas no estado de São Paulo. 1.585.212 receberam apenas a primeira dose e 346.805 receberam as duas doses.