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Dormir mal aumenta gordura ligada a doenças cardiovasculares, diz estudo

Sono de em média quatro horas por dia eleva a gordura abdominal e a visceral

O que pode ser a causa da demência? (Foto: Pixabay)

Uma noite de sono mal dormida pode trazer prejuízos além do cansaço no dia seguinte. Pesquisadores do Mayo Clinic, nos Estados Unidos, descobriram que a falta de um sono adequado provoca um aumento de 9% na área total da gordura abdominal e de 11% na gordura visceral. Os resultados foram publicados na revista científica Journal of the American College of Cardiology.

As descobertas preocupam os pesquisadores especialmente em relação ao aumento de gordura visceral. Isso porque esse acúmulo de gordura acontece entre os órgãos internos do abdômen e é ligado diretamente a um aumento no desenvolvimento de doenças cardiovasculares e metabólicas.

“Isso sugere que o sono inadequado é um gatilho previamente não reconhecido para a deposição de gordura visceral, e que o sono de recuperação, pelo menos a curto prazo, não reverte esse acúmulo da gordura. A longo prazo, essas descobertas sugerem que o sono inadequado contribui para as epidemias de obesidade, doenças cardiovasculares e metabólicas”, afirma o professor de medicina cardiovascular do Mayo Clinic, Virend Somers, um dos autores principais da pesquisa, em comunicado.

Segundo os responsáveis pelo estudo, a prática de se dormir menos tem crescido especialmente devido a turnos de trabalho, aparelhos eletrônicos e redes sociais terem passado a ocupar uma parte cada vez maior da rotina noturna. Além disso, eles destacam que há uma tendência em se alimentar mais durante um período muito longo em que o organismo permanece acordado, ao passo que não há um aumento proporcional nas atividades físicas.

“Nossos achados mostram que o sono encurtado, mesmo em indivíduos jovens, saudáveis e relativamente magros, está associado a um aumento na ingestão de calorias, um aumento muito pequeno no peso e um aumento significativo no acúmulo de gordura dentro da barriga”, explica Somers.

O estudo envolveu doze pessoas saudáveis que passaram por dois períodos de análise de 21 dias cada. Em cada um, parte dos participantes dormiram de forma normal – em média nove horas – e o outro grupo teve o sono restringido a quatro horas diárias. Enquanto isso, os pesquisadores monitoraram indicadores como consumo de energia, gasto energético, peso corporal, composição do corpo, distribuição de gordura – incluindo gordura visceral – e biomarcadores de apetite.

Durante o período de sono reduzido, os pesquisadores também observaram que os participantes consumiram aproximadamente 13% mais proteína e 17% mais alimentos gordurosos.

Outros malefícios de se dormir mal

Uma pesquisa realizada pela Associação Brasileira do Sono (ABS) em 2019 mostrou que 65% da população brasileira tinham problemas de qualidade no sono. A Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos recomenda que, em média, dos 18 aos 64 anos, o adulto durma de sete a nove horas por dia. Essa quantidade é maior para crianças e adolescentes.

— Porém existem pessoas que ficam satisfeitas com menos de sete horas e pessoas que precisam de mais de nove. O sono é um problema quando tem sintomas que mostram a sua má qualidade, como ronco, sonolência excessiva diurna, dores nas articulações da mandíbula e despertar a noite inteira. É mais importante focar nesses pontos que na quantidade — explica o doutor em psicobiologia e pesquisador do Instituto do Sono, Gabriel Natan.

E não é de hoje que os especialistas ressaltam as consequências negativas de um sono de baixa qualidade. Além do aumento da gordura, outros malefícios são um risco elevado para problemas cardiovasculares, diabetes e doença coronariana, comprovado em estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Medicina Jichi, no Japão.

— Tem também as consequências na saúde mental, porque a pessoa privada de sono vai ter problemas de concentração, de atenção, de memória, além da insônia aumentar as chances de desenvolvimento de ansiedade e depressão a longo prazo. Hoje sabemos também que pessoas que não dormem bem ao longo de anos têm risco elevado para doença de Alzheimer — acrescenta Natan.

Isso porque durante o sono existe um mecanismo do cérebro chamado de sistema glinfático que atua limpando substâncias tóxicas do Sistema Nervoso Central (SNC). Um estudo de pesquisadores do laboratório de neuroimagem dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH) mostrou que um desses elementos prejudiciais é uma proteína chamada beta-amilóide. Em excesso, ela se junta formando placas que já foram ligadas ao diagnóstico de doença de Alzheimer.

Como melhorar o sono

Natan explica que para se dormir melhor é preciso acostumar o corpo a isso porque o cérebro leva um tempo para desacelerar. Portanto, o sono não é algo instantâneo e dicas como afastar-se de fatores estressantes, dos excessos de luz e do celular ao menos uma hora antes do horário de dormir são uma boa estratégia.

O objetivo é que durante esse tempo o corpo vá entendendo que está chegando o momento de adormecer. Para isso, é preciso também que ele veja a cama como um ambiente destinado a isso. Logo, o pesquisador explica que trabalhar nela, atividade comum em tempos de home office, é extremamente desaconselhado pois leva o seu corpo a deixar de interpretar aquele local como um lugar de descanso.

Outras estratégias para melhorar a qualidade do sono são evitar o café depois das 17h e praticar exercícios físicos em horários mais afastados da hora de dormir. Além disso, Natan afirma que, se a pessoa estiver com problemas para adormecer, virando-se de um lado para o outro na cama, o ideal é levantar e fazer outra atividade, como ler um livro, e retornar apenas quando o sono aparecer.

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