EM 14 DIAS

Duas crianças brasileiras são atingidas em guerra pelo controle do narcotráfico entre Brasil e Paraguai

Uma morreu e a outra teve parte do nariz arrancado por tiros de fuzis

Duas crianças brasileiras foram atingidas por tiros durante guerra pelo controle do narcotráfico entre Brasil e Paraguai em 14 dias. O fato aconteceu próximo a Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul. Segundo a Polícia Nacional do Paraguai, apesar de serem brasileiras, elas moram do lado paraguaio. Uma das vítimas morreu e a outra teve parte do nariz arrancado.

A Polícia Nacional do Paraguai informou que a primeira foi Brenda Micaela Arguello González, de 6 anos, que teve parte do nariz arrancado após ser atingida por três tiros de fuzil enquanto brincava na frente da própria casa, no último dia 20, em Pedro Juan Caballero, cidade vizinha a Ponta Porã.

De acordo com o relato da polícia, Brenda foi ferida no momento em que um homem teria sido alvo de um atentado. Ele foi alvejado e morto com vários tiros de fuzil e de pistola. Uma mulher de 36 anos, também foi atingida por um tiro de raspão e foi socorrida.

Conforme o pai da garota, Alcides Gonzalez, a filha já está em casa e se recupera bem depois de passar um período internada em um hospital de Dourados, no Mato Grosso do Sul. Ele disse que a menina passou por um procedimento cirúrgico para recuperação do nariz e ainda informou que um dos três projéteis ficará alojado no corpo de Brenda. Segundo o hospital universitário, a menina foi avaliada por uma equipe médica e deve passar ainda por outros procedimentos cirúrgicos.

A segunda vítima, 9 anos e foi morta junto com o próprio pai dentro de um veículo na última sexta-feira (4), no município de Zanja Pytá, próximo a linha internacional. A mãe da menina, de 30 anos, também estava no carro e ficou ferida. A família foi atacada por atiradores que ainda não foram identificados.

A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) informou que do lado sul-mato-grossense, até esta terça-feira (8), não foi registrado nenhum homicídio doloso com crianças como vítimas neste ano.

Pânico causado pelo tráfico

O promotor paraguaio, Marco Amarilla, disse que as execuções são bastante parecidas, assustam os moradores da região causando um cenário de insegurança e tem feito novas vítimas que não tem nenhuma ligação com os alvos dos assassinos. “Geralmente os criminosos chegam até as vítimas de carro ou motocicletas. Premeditados, os atentados acontecem até mesmo a luz do dia e os tiros, que de comum são de fuzil ou pistolas, só param quando existe a certeza da morte”.

Conforme o delegado Alcides Braun, que atua em Ponta Porã, na região da linha internacional, usa-se muito o fuzil para garantir as execuções.

“Os projéteis dessa arma acabam transfixando o alvo, mesmo as que não acertam, essas balas continuam a trajetória por longo percurso. A maioria das grandes execuções ocorrem com fuzil. É uma arma que dispara os projéteis em alta velocidade e com muita energia. Então o próprio veículo não consegue segurar a munição e atravessando esse, acaba acertando quem está próximo”, disse,

O delegado disse ainda que os atentados geralmente são compostos por dois lado atiradores. Na dinâmica do crime, todos eles disparam ao mesmo tempo, o que dificulta a vítima sair com vida. “Nesse caso, muitos projéteis se perdem e acabam atingido inocentes que geralmente não têm nenhuma ligação com o alvo da execução, como foi o caso das duas meninas recentemente atingidas por tiros de fuzil”.

Vítimas inocentes

Em outubro de 2019, um adolescente que não teve a idade revelada foi flagrado enquanto chorava sobre o corpo do pai, que foi executado com tiros de fuzil, em Pedro Juan Caballero, no Paraguai.

A Polícia Nacional do Paraguai disse que a vítima, o paraguaio Virgilio Veras, de 41 anos estava sentado na frente de casa quando dois homens chegaram em uma caminhonete e fizeram os disparos, que atingiram a cabeça da vítima, usando um fuzil calibre 7.62 e uma pistola calibre 9 mm

Segundo uma testemunha que preferiu não se identificar, o filho de Virgilio estava na escola no momento do atentado e, ao saber que o pai tinha sido morto, correu para o local. Em prantos, o jovem se jogou sobre o corpo do pai.

Antes de morrer, o homem estava na frente da residência com alguns amigos tomando tereré, uma bebida típica da região. Ele não resistiu aos ferimentos e morreu antes do socorro chegar, de acordo com o registro policial.

O Conselho Tutelar de Ponta Porã informou que não são só as crianças vítimas diretas da violência imposta pelos criminosos na região de fronteira dos dois países, cada vez mais adolescentes se tornam alvos diretos do crime organizado e são recrutados para o tráfico de drogas.

Segundo uma conselheira tutelar, que não será identificada por motivo de segurança, centenas desses jovens, foram apreendidos este ano no município. “Eles vem de vários estados do Brasil. Eles não conhecem o outro lado da realidade. Geralmente, muito deles tem entre 13 e 14 anos”.

Ainda de acordo com a profissional, há semana que chegam até sete meninos ao conselho Tutelar. Eles, geralmente, são flagrados com drogas ou a caminho do Paraguai em busca de entorpecentes.

*Com informações do G1