Petrolão

E-mails provam que Lula e Dilma poderiam ter interrompido o propinoduto

Documento comprovaria que a Lula e a então ministra da Casa Civil sabiam do esquema, diz revista Veja


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Um e-mail enviado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, para Dilma Rousseff, à frente da Casa Civil, em setembro de 2009 alertou o Planalto de que o Tribunal de Contas da União (TCU) queria paralisar três obras da Petrobras por ter encontrado irregularidades. O documento, apreendido pela Polícia Federal em um computador na sede da Petrobras, foi divulgado pela revista Veja desta semana.

Na mensagem, direcionada à “Senhora Ministra Dilma Vana Rousseff”, Costa destaca que dados do TCU recomendam a paralisação das obras nas refinarias Abreu e Lima (Pernambuco) e Getúlio Vargas (Paraná) e no Terminal Porto de Barra do Riacho, no Espírito Santo. No texto, o ex-diretor relata que seria formada uma Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso para apurar as suspeitas. Ele relembrou, ainda, que em 2007 o TCU propôs a paralisação de quatro obras da estatal, o que foi vetado pelo Congresso. Esta afirmativa sugere que a investigação não foi levada adiante após intervenções políticas.

De acordo com a publicação, a quebra de hierarquia de Costa ao escrever diretamente para o Planalto, comprovaria a preocupação em manter vivo o esquema de desvio de dinheiro da Petrobras.

Questionados pela revista sobre o e-mail, assessores de Dilma responderam que encaminhou a suspeita para a Controladoria-Geral da União para analisar as suspeitas; determinou que um grupo de acompanhamento examinasse o relatório junto com o Ministério de Minas e Energia e a Petrobras; e participação em reunião entre representantes do TCU, CMO, Petrobras e do Ministério de Minas e Energia, depois da suspensão das obras da Abreu e Lima no Orçamento 2010. Todos os órgãos entraram em um consenso sobre a viabilidade de regularizar as pendências na Refinaria. A presidente não se manifestou.

Na sexta-feira, uma conversa entre Meire Poza, contadora do doleiro Alberto Youssef, com o advogado Carlos Fernando Braga, indicado por um pool de empreiteiras, e uma pessoa não identificada veio à tona. No diálogo, a contadora afirmou que a presidente Dilma Rousseff vai cair se Costa revelar tudo o que sabe.

A operação iniciou em 17 de março em seis estados e no Distrito Federal, com a prisão de pelo menos 24 pessoas, entre elas o doleiro Alberto Youssef. Dias depois, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa foi preso pela Polícia Federal. Em abril, ambos foram indiciados por lavagem de dinheiro, sob a acusação de terem desviado recursos da Petrobras. Os dois foram figuras centrais no início da Operação Lava-Jato.

Em agosto, Paulo Roberto Costa aceitou um acordo de delação premiada com a Justiça. Os depoimentos do ex-diretor causaram grande impacto na investigação. Ele revelou que a compra da refinaria de Pasadena envolveu um esquema de corrupção com pagamento de propinas, sendo US$ 1,5 milhão para ele (R$ 3,8 milhões). Em setembro, Costa delatou pelo menos 32 deputados e senadores e um governador. Os políticos teriam recebido 3% de comissão sobre o valor de cada contrato firmado pela Petrobras durante a sua gestão.

Em outubro, foi a vez de Youssef aceitar um acordo de delação premiada. O doleiro afirmou que pagou R$ 1 milhão para a campanha de 2010 da ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR), que foi eleita senadora naquele ano.

Em novembro, a Polícia Federal cumpriu 85 mandados judiciais, incluindo 25 de prisão. Entre os detidos estavam o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e dirigentes de grandes empreiteiras.