Acusado de assédio, governador de NY sofre pressão para deixar o cargo
Ameaçado por um processo de impeachment, ele perdeu o apoio da cúpula do partido no Estado
A procuradoria do Estado de Nova York acusou na terça-feira, 3, o governador democrata Andrew Cuomo de assédio sexual contra ao menos 11 mulheres, entre elas uma policial que fazia sua segurança pessoal. As acusações aumentaram a pressão para o governador deixar o cargo. Ameaçado por um processo de impeachment, ele perdeu o apoio da cúpula do partido no Estado, bem como do presidente e amigo Joe Biden.
As investigações da procuradoria indicam que Cuomo assediou sexualmente funcionárias e ex-funcionárias do governo, numa violação de leis estaduais e federais sobre abuso sexual.
O relatório divulgado pela procuradoria e elaborado por dois advogados independentes afirma também que o governador manteve um comportamento sistemático de abuso, com toques indesejados e comentários inadequados contra mulheres no ambiente de trabalho
A investigação foi coordenada pela a procuradora-geral do Estado, Letitia James, e tem 165 páginas, durou 5 meses e interrogou 179 testemunhas.
O presidente Joe Biden defendeu a renúncia de Cuomo. A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer, que é do Estado de Nova York, fizeram o mesmo.
Biden, que quando as acusações surgiram no início do ano evitou se manifestar, contribuiu para o isolamento do governador de Nova York. “Acredito que ele deve renunciar”, disse o presidente
Na Assembleia Legislativa de NY, o presidente da Casa, Carl Heastie, que é democrata, disse que Cuomo não tem mais condições de permanecer no cargo e prometeu abrir um processo de impeachment contra ele o quanto antes.
Desrespeito
No relatório, as testemunhas dizem que Cuomo, de 63 anos, assediou várias mulheres, muitas das quais jovens, envolvendo-se em toques indesejados, beijos, abraços e comentários impróprios.
As testemunhas descrevem também o ambiente da sede do governo de NY, que fica em Albany, no interior do Estado, como tóxico e marcado por uma cultura de medo e intimidação imposta pelo governador a seus assessores, o que, para os investigadores, contribuiu para os assédios.
Anne L. Clark, uma das advogadas responsáveis pelo relatório divulgado pela procuradoria de NY, disse que a conduta do governador claramente atende o padrão legal usado para determinar o assédio de gênero no local de trabalho.
“As mulheres também descreveram para nós o fato de o governador procurá-las, olhá-las fixamente, olhá-las de cima a baixo ou fitar seu peito ou nádegas”, disse ela.
Ainda de acordo com a advogada, Cuomo rotineiramente interagia com as mulheres de maneiras que focalizavam seu gênero, às vezes de maneira sexualizada. “Elas consideravam esse comportamento humilhante e ofensivo”, acrescentou.
Outro lado
O governador se defendeu dizendo num comunicado que os fatos são muito diferentes do que foi apresentado no relatório. “Eu nunca toquei ninguém de uma maneira inapropriada ou tive um comportamento sexualmente inadequado”, disse Cuomo.
O governador argumentou ainda que tem tendência a abraçar ou beijar as pessoas na bochecha, gestos que ele descreveu como “destinados a transmitir calor, nada mais”.
Cuomo ainda apresentou fotos mostrando-o abraçando e beijando membros do público e líderes poderosos. “Eu faço isso com todo mundo”, disse ele. “Preto e branco, jovem e velho, heterossexual e LGBTQ, pessoas poderosas, amigos, estranhos, pessoas que encontro na rua.”
A legislação de NY inclui flertes indesejados e piadas de conteúdo sexual no ambiente de trabalho no rol de crimes que podem ser enquadrados como assédio sexual, independentemente da intenção do acusado.
Em 2019, Cuomo patrocinou uma lei que facilitou para que vítimas de assédio comprovassem seus casos na Justiça. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.