Ainda é cedo para estimar impacto da Carne Fraca na agropecuária goiana, diz gerente da Faeg
Por enquanto, tampouco é possível dizer se haverá alguma alteração no preço da carne em decorrência das investigações
O gerente de assuntos técnicos e econômicos da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Edson Novaes, acredita que ainda seja cedo para avaliar os impactos que a Operação Carne Fraca, da Polícia federal, terá sobre a economia goiana ou brasileira. De acordo com ele, tampouco é possível dizer se haverá alguma alteração nos preços das carnes em decorrência das investigações.
A Operação Carne Fraca foi deflagrada na última sexta-feira (17) para desarticular uma organização criminosa integrada por fiscais agropecuários que recebiam propina para emitir certificados sanitários sem fiscalização. Cerca de 30 empresas fornecedoras de grandes frigoríficos estão sendo investigadas. Além disso, 33 fiscais federais também estão sob investigação.
As investigações apontaram que os frigoríficos envolvidos no esquema criminoso “maquiavam” carnes vencidas com ácido ascórbico e as reembalavam para conseguir vendê-las. A carne imprópria para consumo era destinada tanto ao mercado interno quanto à exportação. Em decorrência do que foi divulgado, diversos países suspenderam a importação da carne brasileira, entre eles aliados importantes, como Chile, China e União Europeia.
Segundo Edson, a situação atual deixa os empresários do setor apreensivos, mas o mercado da carne no Brasil enfrenta problemas desde 2015. “Com a crise econômica houve queda da demanda e também tem a questão da valorização do real, que impactou na queda da exportação da carne bovina, suína e de aves”, explica. O gerente acrescenta que o mercado também foi afetado por uma queda na oferta de carne bovina por falta de gados para reposição nos últimos anos. Com o mercado com dificuldades de crescimento, as investigações podem complicar o quadro ainda mais.
Apesar disso, ainda está cedo para analisar como o Estado e o País serão afetados por uma possível mudança no mercado de consumo interno e pelos embargos impostos por outros países em decorrência das denúncias. “Países como o Chile e a Coreia do Sul fizeram suspensões preventivas. Eles estão apenas aguardando os resultados das investigações”, pontua.
Para os consumidores que tinham a esperança de que o reboliço ao menos provocasse uma queda no preço dos produtos de proteína animal, a perspectiva não é tão animadora. “Desde a sexta-feira não notamos nenhum impacto na cotação da arroba do boi e da vaca”, relata Edson.
Impacto
Caso haja um forte impacto na demanda, Goiás poderia ser afetado diretamente, já que, ainda que em desaceleração, uma fatia expressiva de sua economia se baseia na produção e exportação de carne. Dados referentes a 2016 apontam que o Estado gerou um total de R$ 10 bilhões com produtos bovinos, suínos e de frango. Esse total representa 25% de todo o Valor Bruto de Produção (VBP) de Goiás, que é de pouco mais de R$ 40 bilhões.
Em 2016, no Estado foram produzidas 731.414 toneladas de carne bovina, 165.359 toneladas de carne suína e 802.072 toneladas de carne de frango. Do montante, 25% foram destinados ao mercado interno, 50% à exportação para outros Estados e 25% foram enviados a outros países, gerando mais de US$ 1,2 bilhão. Os principais compradores são China, Rússia, Hong Kong, Itália e Chile, muitos dos quais já suspenderam as importações.
Goiás também tem fatias expressivas do rebanho do País. São 22 milhões de cabeças de gado (10% do total nacional, de 215 milhões), 2 milhões de suínos (5% dos 40,3 milhões em todo o País), 64,1 milhões de galináceos (4,8% de toda a criação do Brasil, de 1,3 bilhão) e 145 mil ovinos (1% dos 18,4 milhões no território nacional).
Justamente para evitar que esses números sejam negativamente afetados pela repercussão das investigações, Edson ressalta que a Faeg defende uma apuração incisiva das irregularidades constatadas. “Economicamente é muito importante para o Estado de Goiás que isso seja resolvido o quanto antes. Por isso apoiamos a operação da Polícia Federal para que os fatos sejam apurados e os responsáveis sejam punidos de forma rígida e exemplar”, declara.
Ele afirma também que o setor pecuário goiano é um dos mais seguro do mundo, cumprindo todos os protocolos – internos e de outros países — para garantir carne de qualidade ao consumidor. Prova disso é o fato apontado por ele de que, das 115 unidades de processamento de carne no Estado, apenas uma foi interditada.
“Não podemos deixar que um fato isolado desse prejudique os produtores rurais”, diz Edson. “É preciso punir os culpados para que possamos separar o joio do trigo”, conclui.