IMPACTO DO CORONAVÍRUS

Banco Mundial prevê queda de 5% na economia brasileira em 2020, maior retração em 58 anos

A organização defendeu que governos devem centralizar os prejuízos da economia. Para a região como um todo, que inclui os países caribenhos, a expectativa é de uma retração de 4,6% em 2020

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), sancionou hoje a lei que permite a antecipação de feriados municipais e cria um feriadão, começando amanhã, para tentar aumentar os índices de isolamento social na capital e diminuir o contágio pelo novo coronavírus.

O Banco Mundial prevê uma retração de 5% na economia brasileira em 2020. A previsão foi publicada neste domingo (12) no relatório “A economia nos tempos da Covid-19” que estuda a situação da América Latina e do Caribe na crise causada pela pandemia do coronavírus. Se confirmada, será a maior retração desde 1962.

A expectativa para os próximos anos é positiva. A previsão para 2021 é uma retomada no crescimento de 1,5%, seguida de outro aumento de 2,3% em 2022.

Para a região como um todo, que inclui os países caribenhos, a expectativa do Banco Mundial é de uma retração de 4,6% em 2020. Todos os países, com exceção da República Dominicana e da Guiana, devem ter uma queda no PIB neste ano. Para 2021 e 2022, a expectativa é de dois crescimentos seguidos de 2,6%.

O relatório ressalta que a região será afetada por uma queda “dramática” na demanda de produtos, principalmente de commodities, da China e dos países do G7.

Ao mesmo tempo, a queda nos preços do petróleo também terão efeitos grandes em países exportadores do produto. O setor aéreo também deve sofrer bastante, com os cancelamentos em massa de voos.

O economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e Caribe, Martin Rama, disse que a situação econômica na região já era difícil antes do choque do coronavírus, com instabilidades sociais em vários países no ano passado, como Chile e Bolívia. Além disso no início do ano os países enfrentaram queda dos preços do petróleo.

Por isso, Rama entende que o coronavírus traz uma “nova dimensão” para os problemas econômicas da região, com um fenômeno novo, um choque na oferta.

– Temos experiência com um choque financeiro e um choque de demanda, mas agora temos um choque de oferta, com muita gente não podendo trabalhar pela contenção da epidemia, teremos um problema de três frentes – afirmou.

Atuação dos governos

No relatório, o Banco Mundial defende que as perdas econômicas devem ser centralizadas nos governos, porque só eles podem servir como um “garantidor de última instância”.

No entanto, a organização ressalta a importância da transparência da atuação dos governos na economia e da necessidade da elaboração de um plano que seja possível de executar e tenha prioridades claras.

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“Dada a falta de recursos (em países da região), é importante comunicar como essas perdas serão gerenciadas. Uma decisão nesse sentido iria coordenar as expectativas e ajudar os agentes econômicos a se ajustar para um novo cenário, servindo como um contrato social sobre como gerenciar a crise”.

Programas sociais

O Banco Mundial ressaltou que as características econômicas da região formam barreiras para a efetividade de programas do governo. A alta informalidade no mercado de trabalho e o espaço fiscal curto fazem com que a construção correta de políticas públicas seja “crucialmente importante”.

Destacando que muitas famílias vivem com o dinheiro somente para o dia, o Banco Mundial ressaltou que a primeira linha de resposta à crise deve utilizar as redes de proteção social que já existem e aumentá-las, para aumentar a velocidade das medidas. No Brasil, o auxílio de R$ 600 aprovado pelo Congresso vai utilizar os dados do Cadastro Único, além de registrar mais pessoas.

Enquanto o isolamento social estiver em vigor, a organização também sublinhou a importância dos programas de distribuição de alimentos.

Proteção de empregos

O relatório também destaca que os governos precisam agir em várias frentes para proteger o mercado de trabalho.

Para as grandes empresas, o relatório sugere que governo pode dar apoio enfático por meio de injeção de recursos em troca de um compromisso de manter os empregos.

Em pequenos negócios, essa ação pode ser feita por bancos, com, por exemplo, uma garantia ou um compartilhamento de risco dos financiamentos com o governo.

Nessa questão, o governo brasileiro disponibilizou uma linha de financiamento de R$ 40 bilhões voltada para a folha de pagamento de pequenas e médias empresas. O Tesouro Nacional é responsável por 85% dos recursos e outros 15% serão aportados pelos bancos.

Crise financeira

Apesar do setor financeiro estar numa “posição forte” na região, o Banco Mundial não exclui a possibilidade de uma crise causada pela pandemia. Para evitar que isso aconteça, a organização defende que os governos devem proteger os sistema de pagamentos e coordenar o mercado.

O relatório exemplifica: simplificação de renegociação de dívidas e flexibilização regulatória podem ser efetivas para evitar que a crise afete o setor. Em um cenário de piora da situação, medidas como o adiamento do cronograma de pagamentos e até moratória podem ser considerados.

Ressaltando que o processo deve ser feito com transparência e cuidado, o Banco Mundial também cita que os governos deverão estar abertos à possibilidade de comprar ações de empresas estratégicas.

No mesmo sentido, o governo poderá precisar recapitalizar bancos e absorver ativos no mercado.

“O processo de adquirir e gerenciar ativos precisa ser percebido como transparente e profissional para manter a confiança nos governos. Isso também pode permitir com que os chefes de governo possa tomar medidas necessárias e urgentes sem temer problemas com a Justiça no futuro”.

Um projeto que está tramitando no Senado autoriza o Banco Central (BC) a comprar títulos públicos e crédito direto no mercado. A medida foi aprovada na Câmara, mas tem causado discussão entre senadores que querem uma regulação maior do processo para, então, aprovar a proposta.

Segundo o BC, essa seria uma maneira da autoridade monetária atuar direto no mercado, dando liquidez, ou seja, permitindo que haja recursos suficiente para irrigar os negócios.

Isolamento social

Para o estudo, o Banco Mundial também analisou o impacto do isolamento social nos países. Os resultados mostram que o “isolamento horizontal”, quando toda a população fica em casa, “sempre resulta em menos casos de Covid-19 do que o distanciamento seletivo”.

A pesquisa também indica que o quanto antes medidas de isolamento, seja o seletivo ou o total, sejam adotadas, mais efetivas elas são.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro tem defendido o relaxamento das medidas de isolamento social, defendidas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).