ECONOMIA

BC sobe novamente a Selic em 1,5 ponto, a 9,25% ao ano

Conforme sinalizado na reunião anterior, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a taxa…

Conforme sinalizado na reunião anterior, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a taxa básica (Selic) novamente em 1,5 ponto percentual, a 9,25% ao ano, nesta quarta-feira (8).

No comunicado, o BC indicou nova alta de mesma magnitude para próxima reunião, em fevereiro, para 10,75% ao ano.  A taxa é a maior em quatro anos, quando atingiu 9,25% em julho de 2017, ainda no governo de Michel Temer (MDB).

Na reunião anterior, em outubro, o BC elevou a taxa também em 1,5 ponto percentual e indicou que faria nova alta da mesma magnitude em seguida.

A decisão veio em linha com as projeções do mercado. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que todos os analistas consultados esperavam elevação de 1,5 ponto na Selic.

De acordo com o relatório Focus desta semana, em que o BC divulga projeções do mercado, economistas esperam que os juros fechem 2022 a 11,25% ao ano. ​

“O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária”, pontuou o texto da autoridade monetária.

Com a Selic acima de 8,5% ao ano, o cálculo do rendimento da poupança muda e passa a ser de 0,5% ao mês mais a TR (Taxa Referencial) para todas as cadernetas. A Taxa Referencial, que estava zerada, volta a subir com a nova Selic, o que também gera impacto na correção do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) e de financiamentos imobiliários atrelados à taxa.

O ciclo atual de alta da taxa básica é o mais agressivo desde 2002, com elevações bruscas, e é o que terá maior diferença entre a taxa inicial e a final desde a criação do sistema de metas para inflação, em 1999. O choque de juros é uma resposta do BC à escalada de preços observada desde o fim do ano passado e às sucessivas revisões para cima das expectativas de inflação para o próximo ano.

Apesar de não ter acelerado o passo, o comunicado trouxe tom mais duro com relação ao aperto monetário. O Copom admitiu pela primeira vez que as expectativas estão desancoradas e indicou que continuará subindo juros não só até que a inflação desacelere, mas que também as projeções do mercado para os próximos anos estejam ao redor da meta.

O BC reforçou que a Selic deve chegar a nível “significativamente contracionista”. Ou seja, bem acima do juro neutro (que não aquece nem contrai a economia). “O Copom considera que, diante do aumento de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista. O comitê irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, pontuou.

Para este ano, há consenso no mercado e no BC de que a inflação deve estourar a meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) em 3,75% —com 1,5 ponto percentual de tolerância para cima e para baixo.

Segundo o Focus, o indicador deve ficar em 10,18% em 2021, 4,93 pontos percentuais acima do máximo permitido. Há um mês, a projeção era de 9,33%.

No horizonte relevante —para quando o BC entende que a política monetária faz efeito— as expectativas de inflação vêm crescendo. Para 2022 e 2023 as projeções estão em 5,02% e 3,50%, respectivamente, ambas acima do centro das metas para os períodos, de 3,5% e 3,25%.

Para o próximo ano, o número já está acima do máximo permitido no intervalo de tolerância, que é de 5%. As projeções do BC para inflação são de 10,2% para 2021, 4,7% para 2022 e 3,2% para 2023. A análise foi feita com a taxa de juros da pesquisa Focus e taxa de câmbio partindo de R$ 5,65.

O mercado espera que a Selic avance a 11,75% ao longo de 2022 para depois iniciar um ciclo de queda, com 11,25% até dezembro e 8% ao fim de 2023 —além dos confirmados 9,25% para este ano.

“Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 16,7% para 2021, 3,8% para 2022 e 5,2% para 2023. Adotam-se bandeira tarifária ‘escassez hídrica’ em dezembro de 2021 e a hipótese de bandeira tarifária ‘vermelha patamar 2’ em dezembro de 2022 e dezembro de 2023”, afirmou o texto, em relação às medidas que impactam a conta de energia para mitigar os efeitos da crise hídrica.

Apesar de ter decidido não acelerar o ritmo de aperto monetário, o BC manteve o foco na inflação de 2022 e de 2023. Alguns economistas avaliavam que para levar o próximo ano à meta o Copom teria que elevar os juros mais rapidamente.

No comunicado, o Copom afirma que sua decisão reflete seu cenário básico “e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023”.

A escalada de preços no país começou no fim do ano passado decorrente de uma série de choques, como mudança na demanda por alimentos na pandemia, problemas em safras com chuvas e geadas, elevação nos preços das commodities acompanhada de desvalorização do real, e agora a crise hídrica, que encareceu a conta de luz do brasileiro.

O cenário foi agravado pela percepção do mercado de piora no regime fiscal, quando o governo pode ser negligente com as contas públicas.

Sobre o risco fiscal, o BC enfatizou dados melhores recentes, mas ponderou que questionamentos em relação ao arcabouço fiscal “elevam o risco de desancoragem das expectativas de inflação, mantendo a assimetria altista no balanço de riscos”. Para a autoridade monetária, isso leva à maior probabilidade de inflação acima do projetado em seu cenário básico.

A economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, ressaltou que embora o quadro inflacionário ainda seja preocupante, as recentes e consecutivas revisões para baixo das projeções de crescimento da economia para o próximo ano levaram o BC a não acelerar o ritmo de alta de juros.

“Contudo, o comunicado enfatizou o tom de alerta, principalmente no que diz respeito ao cenário fiscal e possíveis impactos que um descontrole nos gastos poderia ter sobre a inflação. Ou seja, segue a mensagem de que o BC fará o possível, com mais aumento de juros pela frente, para conter qualquer avanço mais expressivo da inflação”, avaliou.

Para Consorte, há espaço para que a Selic chegue a 12% no próximo ano. O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, disse que o comunicado veio em tom “hawksh”. “Não poderia deixar de ser frente as expectativas de inflação condicionais da autoridade”, ressaltou. Para ele, a Selic deve alcançar o pico de 12,25% ao longo de 2022.

Hawk significa falcão em inglês e é um jargão usado entre economistas para apontar postura contracionista do BC, mais agressiva e com tendência a subir juros. Ao contrário, quando é considerado dove, pombo em inglês, a autoridade monetária adota um discurso mais brando e expansionista, com intenção de cortar juros ou de subir menos.

Paloma Brum, analista de investimentos na Toro, também viu no comunicado um tom mais duro com relação às expectativas de inflação. “Os dirigentes do BC endossaram que estão comprometidos em manter uma política monetária contracionista, não somente com o objetivo de controlar a inflação, mas também até que as expectativas de inflação sejam reancoradas”, analisou.

A sócia-fundadora da casa de análise Nord Research, Marilia Fontes, reconhece que as expectativas de inflação estão desancoradas. “No comunicado anterior o Copom falava que ‘neste momento’ era apropriado avançar em território significativamente contracionista, que dá a ideia de que é temporário e sem convicção. O termo foi retirado e o tom ficou mais austero”, avaliou.

O controle da inflação é a principal atribuição da autoridade monetária. Para isso, o BC define a meta da taxa básica de juros. ​ Quando a inflação está alta, o Copom sobe os juros com o objetivo de reduzir o estímulo na atividade econômica, o que diminui o consumo e equilibra os preços. Caso contrário, o BC pode reduzir juros para estimular a economia.

O comunicado ressaltou ainda que a inflação ao consumidor continua elevada. “A alta dos preços foi acima da esperada, tanto nos componentes mais voláteis como também nos itens associados à inflação subjacente”, afirmou.

O comitê reiterou que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco tanto para cima e quanto para baixo. “Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico”, destacou.

“Por outro lado, novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os prêmios de risco do país”, completou.

Em relação à atividade econômica, o BC disse que indicadores divulgados desde a última reunião mostram novamente uma evolução “moderadamente abaixo da esperada”.

No cenário externo, segundo o comunicado, o ambiente se tornou menos favorável para economias emergentes. “Alguns bancos centrais das principais economias expressaram claramente a necessidade de cautela frente à maior persistência da inflação, tornando as condições financeiras mais desafiadoras para economias emergentes”, afirmou.

Além disso, o BC destacou a possibilidade de nova onda da Covid-19 durante o inverno e o aparecimento da variante ômicron, que adicionam incerteza quanto ao ritmo de recuperação nas economias centrais.