Economia

Bolsa fecha perto da estabilidade com mercado atento ao quadro fiscal

Dólar voltou a ganhar força frente ao real, com uma leve alta de 0,15% nesta terça, a R$ 5,2600 para venda.

Foto: Reprodução - Freepik

Após oscilar durante boa parte do dia perto da estabilidade, a Bolsa de Valores brasileira, a B3, fechou a sessão desta terça-feira (8) em leve alta, acompanhando o movimento das ações nos Estados Unidos.

O Ibovespa, principal índice de ações do mercado acionário, avançou 0,21%, aos 112.234 pontos, com os investidores atentos à PEC dos Combustíveis no Senado e o risco de deterioração do quadro fiscal.

Nos Estados Unidos, o dia foi de valorização destacada para as principais ações nas Bolsas, em especial de tecnologia. O S&P 500 terminou o pregão em alta de 0,84%, enquanto o Nasdaq avançou 1,28%, e o Dow Jones teve ganhos de 1,06%.

Já o dólar, que na véspera havia fechado em queda de 1,3%, no menor nível em quase cinco meses, voltou a ganhar força frente ao real, com uma leve alta de 0,15% nesta terça, a R$ 5,2600 para venda.

No mercado de juros futuros, as taxas operaram em forte alta na esteira da ata do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), vista como mais dura pelo mercado, bem como devido ao aumento na percepção do risco fiscal.

A PEC dos Combustíveis de autoria do senador Carlos Fávaro (PSD-MT), classificada como kamikaze pelo Ministério da Economia por seu potencial impacto bilionário para as contas públicas, foi alvo de duras críticas de grandes investidores.

A proposta de desoneração dos combustíveis foi descrita como uma medida completamente equivocada e de caráter populista pelo economista-chefe da gestora Verde Asset, Daniel Leichsenring. Segundo ele, trata-se de uma tentativa do governo de reverter a “absoluta impopularidade”.

“A proposta de eliminar os impostos sobre os combustíveis é um desvario completo, e não resiste a 1 minuto de considerações sobre sua qualidade ou conveniência”, escreve o economista, na carta de gestão dos fundos da Verde Asset divulgada nesta terça.

“Em Brasília, a PEC Kamikaze segue gerando desconforto entre os investidores, com Paulo Guedes passando a se referir à medida como uma ‘bomba fiscal’, em que o governo pode renunciar a um valor de até R$ 110 bilhões em arrecadação”, aponta a equipe de análise da Guide Investimentos, em relatório.

Caio Megale, economista-chefe da XP, diz que a ata do Copom do BC (Banco Central) trouxe um tom visto como mais inclinado à manutenção do ciclo de aperto monetário, devido aos riscos fiscais no cenário.

“O Banco Central parece reconhecer o potencial impacto negativo de iniciativas relacionadas a isenções fiscais, como as relativas aos preços dos combustíveis”, diz Megale.

Após a divulgação da ata de tom considerado mais duro pelos investidores, o BofA (Bank of America) revisou de 11,25% para 12,25% sua projeção para a taxa Selic no final do ciclo, em maio deste ano.

“A ata da última reunião tem uma mensagem mais agressiva do que o comunicado divulgado junto com a decisão. O BC afirmou que a desaceleração do ritmo de alta é o caminho mais adequado para alcançar a convergência da inflação para a meta e reancorar as expectativas, mas deu a entender que haverá mais ajustes à frente, em vez de um final em março como esperávamos”, dizem os analistas do BofA.

No mercado de juros futuros, os contratos para janeiro de 2024 avançaram de 11,37% na véspera para 11,57%, enquanto os papéis com vencimento em 2027 passaram de 11,11% para 11,25%.

Além das preocupações no cenário doméstico, os preços das commodities em queda nesta terça em escala global arrastam junto papéis com peso relevante na B3.

As ações preferenciais da Petrobras, por exemplo, recuaram 1,00%, e as ordinárias tiveram desvalorização de 1,44%, na esteira da queda de 1,8% do preço do barril do tipo Brent, referência mundial. Apesar do ajuste recente, a commodity segue nos níveis mais altos de preços desde meados de 2014.

Os analistas da Guide assinalaram que o mercado segue monitorando as movimentações dos líderes de Estados Unidos, França, Alemanha, Ucrânia e Rússia, em busca de um desfecho diplomático frente à mobilização de tropas russas nas fronteiras com o país do Leste Europeu.

Pietra Guerra, especialista de ações da Clear Corretora, acrescenta que a redução da liquidez global nos mercados também é um ponto que segue no radar dos investidores internacionais.

“Na Europa, o destaque foi a fala da presidente do BCE (Banco Central Europeu), Christine Lagarde, que discursou nesta segunda e reforçou que o BC estaria aberto para encerrar as compras de ativos e aumentar a taxa de juros antes do final do ano. Isso como resposta para esse aumento global da inflação que a gente já vem acompanhando”, afirma a especialista da Clear.