Bolsas despencam com avanço do coronavírus e papéis da Petrobras e Vale nos EUA caem 7%
As principais Bolsas globais tiveram fortes quedas nesta segunda-feira (24) com o surgimento de novos…
As principais Bolsas globais tiveram fortes quedas nesta segunda-feira (24) com o surgimento de novos surtos de coronavírus em vários países fora da China, especialmente na Itália. Na Europa, índices tiveram a pior queda desde 2016 e o ouro, ativo de segurança, foi ao maior patamar desde 2013.
Nos Estados Unidos, o índice que replica o Ibovespa em dólares caiu 5%. Os recibos de ações da Petrobras negociadas na Bolsa de Nova York despencaram 6,7%. Os da Vale, 7,5%.
O risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos subiu 7%, para 99 pontos, maior valor desde 11 de fevereiro.
Como a Bolsa de Valores de São Paulo está fechada devido ao feriado de carnaval, as ações e o dólar não foram negociados no Brasil.
Na Itália, são mais de 220 contaminados pela infecção e sete mortos. O país tornou-se o terceiro maior surto nacional do mundo depois da China e da Coreia do Sul. Mais de 50 mil pessoas permanecem em quarentena no país.
A última vítima da doença foi registrada em Lodi, na região da Lombardia, próximo a Milão, centro financeiro da Itália. Investidores temem o impacto da doença na região, que também é próxima do sul da Alemanha, da Suíça e da Áustria, regiões que compõem um importante polo industrial da Europa.
“Se um bloqueio em pequenas áreas da Itália fosse ampliado, haveria interrupções muito mais significativas para fabricantes europeus, como os de automóveis alemães”, afirma Florian Hense, economista europeu do Berenberg Bank.
Os novos casos de coronavírus levaram o governo italiano a suspender as aulas, fechar pontos turísticos e isolar cidades e tiveram repercussão em países vizinhos, que tentam evitar que a circulação de pessoas no continente dissemine o vírus.
Segundo o mais recente boletim da Organização Mundial da Saúde, divulgado no domingo (23), o número de casos do covid-19 confirmados no mundo chegou a 78.811. A China concentra 77.042 deles, com 2.445 mortes. Em outros países, o número de óbitos era de 17. Segundo a organização, o número de casos está diminuindo na China, embora tenha aumentado em outros lugares.
A Bolsa de Milão caiu 5,4% e foi a 23.427 pontos, menor patamar desde 31 de janeiro. O risco-país da Itália medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos subiu 12,2% e foi para 111 pontos, maior patamar desde 27 de janeiro.
O índice Stoxx Europe 600, que reúne as maiores empresas da Europa, recuou 4%. A Bolsa da Alemanha, referência da potência industrial da Europa, também caiu 4%.
O índice de volatilidade VIX, saltou para 24,68 pontos, nível mais alto desde 2018, com uma alta de 44,5%, a maior valorização percentual desde 2017. O indicador baseado em opções tende a subir quando os mercados caem e os investidores buscam contratos semelhantes a seguros para proteger suas carteiras.
Na Coreia do Sul, que relatou sua sétima morte por coronavírus, o índice de ações Kospi caiu 3,9%. Foi sua maior queda em um dia desde 2018. No domingo, o país elevou o alerta de doença infecciosa para vermelho, o nível mais alto, pela primeira vez desde o surto de gripe suína H1N1 em 2009.
“Isso pode servir de alerta para o Japão e outras economias asiáticas vulneráveis ao impacto do vírus e colocará em risco a realização dos Jogos Olímpicos em Tóquio, já que o Japão tem um envelhecimento da população”, diz Margaret Yang, analista da CMC Markets.
Segundo especialistas, crianças, idosos e pacientes com baixa imunidade podem apresentar manifestações mais graves do coronavírus.
Nesta segunda, os mercados no Japão também ficaram fechados.
Nos Estados Unidos, os índices acionários tiveram a maior queda percentual desde 2018, período marcado por tensões comerciais com a China e temor de investidores de uma alta na taxa de juros. Dow Jones caiu 3,6%, S&P 500, 3,3% e Nasdaq, 3,7%.
Com aversão a risco, investidores vendem ativos mais arriscados, como ações, e buscam investimentos mais seguros, como títulos do Tesouro. O movimento em manada faz os índices acionários despencarem e os papéis de renda fixa ficarem mais caros, o que diminui o seu rendimento.
Nesta sessão, o rendimento do título do Tesouro americano de dez anos caiu 6,4%, para 1,378% ao ano, próximo à mínima histórica de 2016. O rendimento do título de dois anos despencou 7%, para 1,26% ao ano. O ouro subiu 1,8%, US$ 1.657,53 a onça troy (31,1 gramas).
As ações de companhias aéreas e relacionadas a viagens foram particularmente afetadas. A American Airlines caiu 8,5%, a Norwegian Cruise Line Holdings, 8,4% e a Booking Holdings –operadora da Priceline e Kayak– caiu 6,7%.
“A recuperação de ativos de refúgio, como o ouro, reflete a crescente demanda por segurança durante um período de incerteza. As coisas provavelmente vão piorar antes de melhorar”, afirma Yang, da CMC Markets.
Enquanto isso, o petróleo Brent caiu 4%, para US$ 56 o barril. Desde o início do surto de coronavírus, o preço da matéria-prima caiu 14% devido a preocupações dos investidores de que o a doença minaria a demanda por petróleo à medida que a atividade industrial desacelera na China.
O movimento de queda no mercado veio após semanas de novos recordes nos índices dos EUA. Na semana passada, os ganhos começaram a desmoronar na semana passada, à medida que ficava cada vez mais claro que o surto de coronavírus interromperia as cadeias de suprimento globais mais do que se previa inicialmente.
A Apple foi a primeira grande empresa dos EUA a informar que não vai cumprir sua estimativa de receita neste primeiro trimestre por causa da epidemia, que afeta produção e demanda na China.
A empresa disse que, apesar do fato de as instalações de produção na China terem sido reabertas, elas estão num ritmo mais lento que o esperado.
Várias outras empresas, incluindo Procter & Gamble e Royal Caribbean Cruises, seguiram o exemplo, alertando que a epidemia deverá impactar seu desempenho financeiro.
A preocupação do mercado piorou no fim de semana, depois que uma onda de casos foi relatada na Coreia do Sul e no Irã, além da Itália, levando ao fechamento de escolas em partes dos três países, enquanto as autoridades tentam manter os recentes surtos sob controle.
“Acho que [este fim de semana] abriu os olhos da comunidade de investimentos e definitivamente abriu os olhos da Organização Mundial de Saúde”, diz Carter Henderson, gerente de portfólio no Fort Pitt Capital Group nos Estados Unidos.
“Claramente, essa liquidação hoje é bastante dramática, e não há dúvida de que a liquidação nos EUA foi precipitada pelo que está acontecendo na Europa. O medo tomou conta do continente”, afirma Chris Zaccarelli, diretor de investimentos da Independent Advisor Alliance.
As quedas ocorreram um dia depois que o Grupo das 20 principais economias alertou que o surto de coronavírus representa um sério risco para a economia global.
Na China, autoridades e economistas alertam que uma paralisação prolongada do país pode prejudicar a manufatura global e custar ao mundo até US$ 1 trilhão (R$ 4,4 trilhões) em produção perdida.
O contágio, que reduziu a manufatura, as exportações e o consumo chineses neste ano, poderá ameaçar o crescimento global, já que fábricas em todo o mundo dependem de uma cadeia de suprimentos vinculada à China para muitos produtos intermediários e acabados.
Em outras partes da Ásia, os índices de referência de ações em Hong Kong e Cingapura caíram 1,8% e 1,2%, respectivamente. Na Austrália, o índice S&P/ASX 200 caiu 2,3%.