Brics é importante para retomada da economia brasileira, dizem especialistas
A 9ª cúpula do bloco ocorrerá entre 3 e 5 de setembro na cidade chinesa de Xiamen e terá como um dos temas o fortalecimento da cooperação econômica entre os países-membros
O Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, tem papel relevante para a retomada da economia brasileira, na avaliação de especialistas entrevistados pela reportagem. A 9ª cúpula do bloco ocorrerá entre 3 e 5 de setembro na cidade chinesa de Xiamen e terá como um dos temas o fortalecimento da cooperação econômica entre os países-membros.
O cientista político e coordenador do departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Maurício Santoro, disse que o grupo reúne três dos maiores parceiros comerciais do Brasil e tem influência na definição de regras econômicas internacionais que podem favorecer o país.
“O grupo é importante para o Brasil, sobretudo em termos da possibilidade de ampliação de seus mercados de exportação para os demais integrantes. China, Índia e Rússia estão entre os dez maiores parceiros comerciais brasileiros. Os chineses, sozinhos, já compram 25% de tudo o que o Brasil vende no exterior”, disse Santoro.
Grandes populações
O diretor do Centro de Cooperação do Brics da Beijing Normal University, professor Wang Lei, também avaliou como importante o bloco das economias emergentes na retomada do crescimento do Brasil.
“O Brics é uma plataforma muito importante para o Brasil recuperar sua economia assim como para participar na governança econômica global. Todos os membros são mercados enormes, especialmente China e Índia com uma grande população. Esses dois países ainda têm um acelerado crescimento econômico e precisam de matéria-prima, recursos naturais e alguns produtos industrializados”, disse o analista chinês.
Wang Lei acredita que o Brasil está na direção correta ao implementar “profundas reformas econômicas” e abrir concessões em aeroportos e portos. “Alguns países, como a China, têm grandes reservas internacionais e o Brasil pode se beneficiar ao abrir seu mercado para o investimento externo em setores como agricultura, petróleo, minério e infraestrutura”.
O especialista chinês disse, no entanto, que há desafios para a cooperação entre os membros do Brics por causa da competição por mercados domésticos e externos. Ele citou, como exemplo, a concorrência em produtos manufaturados, como automóveis, entre China e Brasil na América Latina.
Para o cientista político Maurício Santoro, o desafio mais imediato para a agenda global do bloco é a tensão na fronteira entre China e Índia, “uma relação bilateral delicada e sensível que pode fragilizar bastante o Brics”.
Pequim tem acusado tropas indianas de entrarem em uma área em disputa entre China e Índia em uma região fronteiriça montanhosa conhecida como Doklam. Os dois vizinhos também têm enfrentado tensões nas relações comerciais.
O professor Wang Lei considera a disputa pela fronteira uma questão desafiadora para a cúpula de Xiamen. “É realmente ruim para o ambiente da cúpula. Há uma responsabilidade dos outros membros de promover a confiança estratégica e a construção da compreensão mútua”.
Outro desafio apontado é a instabilidade doméstica de alguns dos integrantes do Brics, o que enfraqueceria a capacidade de ação internacional do grupo. “A Rússia lida com as sanções resultantes de sua anexação da Crimeia e com os efeitos da crise econômica. O Brasil mergulhou em gravíssima recessão e instabilidade política. A África do Sul sofre com o desgaste do governo [Jacob] Zuma, em meio a denúncias de corrupção e divisões no partido governante”, disse Santoro.
Perspectivas
Em relação a questionamentos na comunidade internacional sobre a relevância atual do grupo, a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Ana Flávia Granja e Barros, diz que o Brics “nunca foi tão robusto”.
“Penso que houve um período de ceticismo em função da eleição de [Donald] Trump, porque a China planejou conquistar os espaços deixados por Trump nos ditos mega-acordos comerciais, na América Latina e nas agendas multilaterais, cuja tônica central foi a questão do clima. Então muitos pensaram que a China poderia largar o Brics, ao menos por algum tempo. Porém, o presidente Xi Jinping, ao contrário, investiu em diversas iniciativas internacionais ao mesmo tempo”, disse a professora.
Segundo a especialista, o Brics precisa ser visto como uma iniciativa política que tem “todas as condições de funcionar neste momento”, porque a China, que ocupa a presidência rotativa do bloco, tem investido no agrupamento para fortalecê-lo. “Neste ano, houve mais de uma centena de eventos relacionados ao Brics na China”.
Para o professor e pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisas Brics (Brics Policy Center), Sérgio Veloso, o sistema internacional passa por um momento de reorganização. “A retração dos Estados Unidos em fóruns e organizações internacionais devido à eleição de Donald Trump abriu um espaço enorme para a expansão de uma nova onda de globalização protagonizada e sustentada pela China. A importância do Brics passa pela forma como o grupo vai saber surfar essa nova onda”.