Calor recorde, galinha estressada e preço mais baixo: por que é hora de comer ovo
Preços caem 5% no atacado. Temperatura alta dificulta armazenagem e obriga produtores a darem descontos para vender mais rápido
A onda de calor que atinge o Brasil impacta não só o consumo de energia dos brasileiros, mas também o preço dos alimentos. As altas temperaturas combinadas com a maior oferta das granjas tornou mais baratos os ovos, em meio a uma estratégia dos produtores para reduzir estoques.
A pressa se deve à influência do calor na produção de ovos. Galinhas ficam mais estressadas e tendem a botar ovos menores e com cascas mais frágeis, portanto mais perecíveis.
De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), ontem uma caixa com 30 dúzias de ovos brancos era vendida no atacado por R$ 134,13, valor 5% menor que o praticado no mesmo dia da semana anterior.
Analista de mercado de aves e ovos do Cepea, Juliana Ferraz explica que tradicionalmente o fim do mês é um período de menor procura por proteínas. Além disso, o calor influencia na qualidade do produto:
— O calor influencia na qualidade e também no tamanho dos ovos. As galinhas estão produzindo ovos menores e com casca mais frágil. E para não ficar com esse produto por muito tempo no estoque, os produtores estão dando maiores descontos — explica Ferraz.
Conjunção de fatores
Fundador da Ovos Mantiqueira — uma das maiores produtoras de ovos do Brasil —, Leandro Pinto comenta que o calor sozinho não é responsável pela queda nos preços dos ovos. Para ele, há uma junção de fatores como baixa dos custos da ração e maior oferta do produto no mercado.
— Não foi só o calor. A maior causa é a baixa nos custos do milho e soja. Em agosto os dias começam a ficar maiores e isso interfere no comportamento das aves, que começam a colocar ovos mais cedo. A maior parte das vendas acontece nos primeiros dez dias do mês, depois disso reduz. Então tem bastante oferta para uma menor procura nesse período
Redução temporária nem sempre chega à gôndola
De acordo com dados do IPCA-15, os ovos subiram 11,67% no acumulado deste ano até 15 de setembro. Entretanto, em setembro houve uma queda de 3,77%.
Matheus Peçanha, economista do FGV IBRE, explica que esse movimento é consequência de um bônus de produtividade e que a onda de calor ajuda a liberar esses estoques.
— Desde a segunda semana de julho o preço do ovo tem caído com consistência na semana nacional. A gente teve um bônus de produtividade e parece que a onda de calor ajuda, porque os ofertantes precisam liberar os estoques mais rapidamente. Mas nas próximas semanas só vai ficar esse bônus. A gente deve começar a ver esse acumulado zerar um pouco mais é só a partir do ano que vem — avalia.
Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin explica que nem sempre os consumidores chegam a ver redução do preço na gôndola.
— Por vezes essa mudança de preços não impacta diretamente o consumidor. Vale lembrar que há uma margem de lucro no varejo e atacado que é bastante importante. Às vezes há uma redução de preço para o produtor que tem que apressar suas vendas ou aumento momentâneo de alojamento que acabou acontecendo e os supermercados não repassam essa diminuição para a população — diz.
Ele acrescenta que essa queda de preços, no entanto, é temporária já que especialistas esperam que a temperatura se estabilize. O consumo no início de outubro e com a proximidade das festas de fim de ano deve também aumentar o consumo de ovos.
Exportação em alta
A redução observada nos preços dos ovos não tem relação com as exportações do item. Na comparação entre agosto desse ano com o mesmo mês de 2022, houve crescimento de 381,6% no número de produtos embarcados, informa a ABPA. Mesmo com a alta das remessas ao exterior, a oferta no mercado interno está alta.
No acumulado desse ano, de janeiro a agosto, foram mais de 21 mil toneladas exportadas, número 178,5% maior que nos oito primeiros meses de 2022.
Entre os principais destinos para as exportações de ovos do Brasil o destaque é para o Japão, que importou 9,2 mil toneladas nesse período. Número 1.164% maior que o realizado no mesmo período do ano anterior. Taiwan e Chile completam o pódio de maiores exportadores.