Caminhoneiros prometem greve nesta segunda (1), mas paralisação não é consenso
Os caminhoneiros reclamam da alta do preço de combustíveis e são contra a política da Petrobras, baseada na paridade com os preços internacionais
Caminhoneiros de todo o país prometem iniciar nesta segunda-feira (1) uma greve por tempo indeterminado. A adesão à paralisação, porém, não é consenso, e a extensão do movimento ainda é incerta.
Às 7h de hoje, o Ministério da Infraestrutura e a PRF (Polícia Rodoviária Federal) divulgaram boletim informando que todas as rodovias federais tinham fluxo livre, sem pontos de retenção. No mesmo horário, caminhoneiros faziam uma manifestação que interditou duas faixas da Rodovia Castello Branco, na altura de Barueri (SP), no sentido Capital, mas com pauta diferente daquela apresentada pelas entidades que convocaram a greve.
As principais entidades à frente da convocação são a CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística), a ANTB (Associação Nacional de Transporte no Brasil), e o CNTRC (Conselho Nacional de Transporte Rodoviário de Cargas).
Outras entidades são contra a manifestação, inclusive algumas que participaram da greve de 2018, como a CNTA (Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos) e a Abrava (Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Autônomos).
Onde haverá paralisação?
O CNTRC afirma que a orientação é que os caminhoneiros e apoiadores fiquem parados em casa, por causa da pandemia do novo coronavírus. A instrução está no ofício que a entidade enviou ao governo e autoridades na sexta-feira (29) notificando sobre a greve.
Orienta, também, motoristas “que estejam em trânsito” e “lideranças e colaboradores que estejam em apoio na pista, nos pátios, nos pontos de parada e nos piquetes de informação” a seguirem as normas de saúde, como distanciamento social e uso de máscara e álcool gel.
O Conselho diz ser formado por 26 entidades da categoria, entre sindicatos, associações e cooperativas representativas dos transportadores rodoviários de cargas, congregando 40 mil caminhoneiros.
A CNTTL afirma que há 800 mil caminhoneiros em sua base e que a greve tem apoio de outras 13 entidades representativas da categoria.
José Roberto Stringasci, presidente da ANTB (Associação Nacional de Transporte no Brasil) —uma das entidades que apoia a paralisação, afirma que haverá pontos de manifestação em todo o Brasil.
Uma liminar concedida pela Justiça Federal do Rio no sábado (30) proíbe os caminhoneiros em greve de bloquear, mesmo que parcialmente, a rodovia BR-101, que margeia o litoral do país, no estado, desde Paraty, no litoral sul, a Campos, no litoral norte.
Em São Paulo, o Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu liminar na sexta-feira (29) proibindo bloqueios da Rodovia Presidente Dutra, trecho da BR-116 que liga São Paulo ao Rio.
Greve divide entidades
O tamanho do apoio à greve, porém, ainda é incerto. A categoria é muito pulverizada, com diversas lideranças e entidades representantes. Algumas delas são publicamente contrárias à paralisação.
A CNT (Confederação Nacional do Transporte), representante de empresas do setor, afirmou na quinta-feira (28) que não apoia nenhum tipo de paralisação, em nota assinada pelo presidente Vander Costa.
“Se houver algum movimento dessa natureza, as transportadoras garantem o abastecimento do país, desde que seja garantida a segurança nas rodovias”, diz a nota.
A CNTA, que participou da greve de 2018, também disse que não participará do movimento deste ano, assim como a Abrava.
O presidente da Abrava, Wallace Landim, conhecido como “Chorão”, afirmou em nota que está acontecendo um uso político dos caminhoneiros.
“A Abrava não participará da paralisação do dia 1º de fevereiro por entender que estão tentando utilizar a categoria dos caminhoneiros como massa de manobra e perdendo o objetivo de luta de direitos da categorias”, disse.
Apesar de contrárias à greve, quase todas as entidades possuem as mesmas pautas de reivindicações.
O que querem os caminhoneiros?
Os caminhoneiros reclamam da alta do preço de combustíveis e são contra a política da Petrobras, baseada na paridade com os preços internacionais.
Outros pontos questionados são os baixos preços dos fretes e o descumprimento da lei que prevê o piso mínimo de fretes, medida cuja constitucionalidade está para ser analisada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Também pedem mudanças na BR do Mar, o marco regulatório do transporte marítimo, que incentiva a navegação por cabotagem, ou seja, entre os portos do país, além de melhores condições de trabalho, incluindo alterações nas regras de jornada e aposentadoria especial.
Bolsonaro pediu que caminhoneiros não parem
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez um apelo no sábado (30) para que os caminhoneiros não entrem em greve.
“Fiz apelo aos caminhoneiros. Sabemos dos problemas deles. Se tivesse condições, zeraria PIS/Cofins óleo diesel, que está em R$ 0,33, mas vamos tentar zerar pelo menos, mas não é fácil”, afirmou Jair Bolsonaro
Ele também afirmou que conversou com o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, mas que não interfere na política de preços.
Na quinta-feira, o presidente da estatal afirmou que a ameaça de paralisação não é problema da Petrobras.
Um áudio do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, dizendo que não atenderá a pauta da categoria circulou em grupos de WhatsApp de caminhoneiros nos últimos dias, de acordo com Chico Alves, colunista do UOL.