ILEGAL OU IMORAL?

Casa de espetáculos sueca mantém shows ao vivo, na contramão do mundo

“Foi especial, tentamos agir como se fosse um show normal”, diz a vocalista Lina Paasijoki,…

“Foi especial, tentamos agir como se fosse um show normal”, diz a vocalista Lina Paasijoki, integrante da banda de hard rock The Hypnagogics, sobre uma apresentação realizada na Plan B, na pequena cidade de Malmö, na Suécia, provavelmente a única casa de espetáculos da Europa funcionado durante a pandemia do coronavírus.

Enquanto outros países vetam a realização de eventos culturais, o club Plan B continua a pleno vapor, conforme noticiou a revista britânica “NME”. O espaço, no entanto, recebe no máximo 40 visitantes por noite — bem menos que sua capacidade, de 350 pessoas. E também não há aglomeração no balcão, a turma do bar é que vai até o cliente, na pista.

Da cidade vizinha Kristianstad, a banda The Hypnagogics foi uma das atrações na programação.

— Tocamos lá numa sexta-feira (dia 10/4). Havia cerca de 40 pessoas. Talvez menos. Na Suécia, ainda é legal se reunir com 40 pessoas — diz a vocalista Lina Paasijoki. — Não sei de outras salas de espetáculos abertas no país.

A cantora conta ainda que chegou a imitar, no palco, a publicação de Cardi B no Instagram sobre a pandemia, que viralizou: “Coronavírus! Essa merda está ficando real!”.

Você participaria de um show socialmente distanciado? Um risco desnecessário ou, mais ainda, loucura mesmo?

Para o público da Plan B, nenhuma das duas opções é a resposta. Uma frequentadora de 28 anos afirmou à “NME”que “não é um risco enorme porque não há muitas pessoas”. Sua amiga, de 31, segue outro raciocínio: “As pessoas estão levando (o coronavírus) muito a sério. Qualquer pessoa que esteja doente ou tenha algum sintoma está ficando em casa. Então, sinto que aqueles que saem são seguros para estar por perto”.

O número de casos confirmados de Covid-19 na Suécia chegou a, ao menos, 14.777 casos confirmados e 1.580 mortes, índices bem mais elevados que os vizinhos Noruega, Dinamarca e Finlândia. Em entrevista ao canal de TV SVT2, o primeiro-ministro sueco Stefan Löfven (Partido Social-Democrata) reafirmou que as regras de confinamento lá são mais brandas.

Imoral ou ilegal?

A maioria dos espaços de música na Suécia começou a fechar na segunda semana de março, e o fundador e proprietário do Plan B, Carlo Emme (“ironicamente, não há plano B para a Plan B”), segundo contou a “NME”, entrou em contato com as autoridades antes de reabrir em 7 de abril. “É mais do que apenas um trabalho; é a nossa vida”, disse Emme à publicação.

De acordo com o primeiro ministro Stefan Löfven, as diretrizes atuais do governo sueco permitem reuniões de 50 pessoas ou menos, bares e restaurantes podem abrir, mas devem oferecer apenas serviço de mesa. Ou seja, o Plan B não está quebrando regra alguma.

“É bizarro ver uma banda subir ao palco e sentir a onda de euforia que a música ao vivo gera, depois de semanas sem isto. No início, ninguém sabe ao certo como reagir; algumas pessoas trocam olhares nervosos, outras olham para os telefones. Ninguém ousa tossir”, relatou um frequentador em comentário no perfil do Plan B no Instagram.

A sala de espetáculos foi inaugurada em 2014 originalmente como uma gravadora, e só em 2018 virou um clube de rock, mas sem permissão para servir bebida alcoólica. A liberação só veio no ano seguinte. Como resume Carlo Emme na reportagem, “um jeito incomum de fazer as coisas e sobreviver”.

O avanço da Covid-19 obrigou artistas do mundo inteiro a cancelarem ou adiarem shows programados para os meses de março, abril e maio. O oncologista e bioeticista americano Zeke Emanuel afirmou, esta semana, ao jornal “The New York Times”, que eventos marcados por aglomerações, como shows e partidas esportivas, provavelmente serão os últimos a voltar à normalidade. Para ele, a expectativa mais realista é que só voltem ao normal no segundo semestre de 2021.rimeiro ministro sueco Stefan Löfven (Partido Social-Democrata) assumiu que as regras de confinamento lá são mais brandas.