TRAGÉDIA

Chuvas deixam ao menos 93 mortos e mais de mil desaparecidos na Alemanha

Inundações também atingiram Holanda e Bélgica, onde há ao menos 15 vítimas

Inundações também atingiram Holanda e Bélgica, onde há ao menos 15 vítimas (Foto: reprodução/G1)

Ao menos 93 pessoas morreram e ao menos 1.300 estão desaparecidas na Alemanha, em decorrência das chuvas que, de acordo com especialistas, não têm precedentes no país. O alto número de pessoas não localizadas foi confirmado pelas autoridades alemãs na noite desta quinta (15).

No entanto, como a comunicação está prejudicada, as autoridades contam com a possibilidade de os desaparecidos estarem seguros, mas inacessíveis.

O volume de água fez vários rios transbordarem nesta quinta, atingindo casas, derrubando árvores, inundando porões e levando parte da população a subir nos telhados para tentar se proteger.

“É uma catástrofe! Há mortos, desaparecidos e muitas pessoas ainda em perigo. Todos os nossos serviços de emergência estão em ação 24 horas por dia e arriscando suas próprias vidas”, disse Malu Dreyer, primeira-ministra do estado de Renânia-Palatinado.

Na Renânia do Norte-Vestfália, o estado mais populoso do país, ao menos 43 pessoas morreram, algumas afogadas em porões inundados, entre as quais dois bombeiros que trabalhavam no resgate de vítimas. Mais abaixo no rio Reno, as chuvas mais fortes já medidas em 24 horas causaram inundações em Colônia e Hagen, enquanto em Leverkusen 400 pessoas tiveram que ser evacuadas de um hospital.

Em Wuppertal, os moradores disseram que seus porões foram inundados, e a energia, cortada. Em todo o país, ao menos 200 mil residências tiveram o fornecimento de eletricidade interrompido, de acordo com uma nota divulgada pela principal distribuidora de energia da Alemanha.

Centenas de soldados foram convocados para ajudar as equipes de resgate, com tanques para limpar as estradas bloqueadas pelos deslizamentos de terra e para recolher árvores caídas. Diversos helicópteros também trabalharam para resgatar pessoas ilhadas nos telhados das casas.

“Fiquei totalmente surpreso. Pensei que um dia entraria água aqui, mas nada parecido com isso”, disse Michael Ahrend, morador de Ahrweiler, à agência de notícias Reuters. “Isso não é uma guerra, é simplesmente a natureza atacando. Finalmente devemos começar a prestar atenção nisso.”

No vilarejo de Schuld, dezenas de casas foram reduzidas a pilhas de destroços, outras dezenas correm risco de desabar, e parte das principais vias de acesso ficou bloqueada por entulho e árvores caídas.

“O que eu vivi? Foi catastrófico”, disse o aposentado Edgar Gillessen, 65, morador de Schuld. “Todas essas pessoas que moram aqui, eu conheço todas. Tenho muita pena delas, perderam tudo. Um amigo tinha uma oficina ali, nada ficou de pé. A padaria, o açougue, acabou. É assustador. Inimaginável.”

Na cidade de Mayen, as ruas foram completamente inundadas. O chefe local dos bombeiros disse que nunca presenciou inundações tão fortes, e a polícia pediu que os moradores enviem vídeos e fotos que possam fornecer pistas de amigos e familiares desaparecidos.

A primeira-ministra Angela Merkel, que está nos EUA, disse, por meio de seu porta-voz, estar chocada com as dimensões da catástrofe. “Minha solidariedade vai para os parentes dos mortos e desaparecidos. Agradeço aos muitos voluntários incansáveis ​​e aos serviços de emergência do fundo do meu coração.”

Horas depois, em entrevista coletiva em Washington, onde se encontrou com o presidente dos EUA, Joe Biden, Merkel disse que representantes de outros países também expressaram solidariedade e ofereceram ajuda ao governo alemão. Ela também afirmou estar trabalhando com seus ministros das Finanças e do Interior para determinar como oferecer assistência de modo mais eficaz aos afetados.

“Vocês podem confiar que todos os âmbitos do governo —federal, estadual e local— unirão forças para fazer tudo o que puderem para salvar vidas, evitar perigos e aliviar dificuldades”, disse.

Armin Laschet, premiê da Renânia do Norte-Vestfália e candidato à sucessão de Merkel nas eleições gerais de setembro, visitou a região atingida e culpou o aquecimento global pela gravidade do cenário.

“Vamos ser confrontados com tais eventos repetidamente, e isso significa que precisamos acelerar as medidas de proteção do clima, nos níveis europeu, federal e global, porque as mudanças climáticas não estão confinadas a um estado”, disse ele.

Annalena Baerbock, representante do Partido Verde que aparece em segundo lugar nas principais pesquisas de intenção de voto, também fez um alerta a respeito das mudanças climáticas e cobrou agilidades das autoridades na assistência às vítimas.

“As pessoas que estão diante das ruínas de sua existência porque seus pertences e suas casas foram simplesmente arrastados devem agora ser ajudadas rapidamente e sem burocracia”, disse.

Meteorologistas disseram que mais chuvas fortes são esperadas até o final da semana devido a um sistema climático de baixa pressão que abrange também França, Bélgica, Holanda e Luxemburgo.

Na Bélgica, ao menos 15 pessoas morreram em decorrência das fortes chuvas, e uma menina de 15 anos está desaparecida depois de ter sido arrastada pela correnteza de um rio que transbordou. Na cidade de Pepinster, as águas do rio Vesdre inundaram as ruas. Ao menos dez casas desabaram, e os moradores de mais de mil residências tiveram que ser evacuados.

Na Holanda, um cenário semelhante danificou dezenas de casas na província de Limburg, no sul do país. Várias casas de repouso precisaram ser esvaziadas às pressas para evitar uma tragédia maior.