A volta do dragão

CNC: com inflação alta, volume de vendas para o Dia das Mães cai

Volume de vendas deve chegar a R$ 14,4 bilhões

CDL diz que 94% dos consumidores de Goiânia vão às compras no Dia das Mães (Foto: Jucimar de Sousa - Mais Goiás)

O volume de vendas do comércio varejista para o Dia das Mães deverá chegar a R$ 14,42 bilhões, uma queda de 1,8% em relação à movimentação financeira real, isto é, descontada a inflação, do ano anterior, segundo estimativas da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em 2021, o volume de vendas chegou a R$ 14,68 bilhões.

A estimativa leva em conta a inflação elevada e os juros em alta, avaliou hoje (5), em entrevista à Agência Brasil, o economista da CNC Fabio Bentes, responsável pela pesquisa.

“Não poderia ser diferente, diante das condições atuais de consumo, quando a gente está com uma inflação de dois dígitos já há algum tempo, taxas de juros no maior patamar dos últimos cinco anos e a gente tem um rendimento médio da população apresentando queda real de 6%, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”, disse Bentes.

“Não daria para esperar crescimento diante dessas condições. Ainda que se considere a reabertura total do comércio, o consumidor está com o bolso ainda prejudicado pela inflação alta, juros em alta e, principalmente, pela questão do mercado de trabalho, que precisa ser melhor endereçada”, completou o economista.

Apesar da redução projetada para a data, o número é superior aos R$ 8,8 bilhões registrados em 2020, no auge da pandemia de covid-19, quando grande parte dos estabelecimentos estava fechada. “O varejão do Dia das Mães estava fechado, em maio de 2020, e a gente estava lutando para criar condições de reabertura”, lembrou Fabio Bentes.

“Em 2021, o cenário já era melhor e, em 2022, apesar de a pandemia ainda existir, ela está mais enfraquecida. O problema é a conjugação de fatores de consumo, que não têm sido favoráveis para a expansão das vendas”, completou Bentes.

Variação positiva

A pesquisa da CNC revela que, pela primeira vez, nenhum dos 26 itens que compõem a cesta de bens e serviços avaliados deverá ter retração, na comparação com o ano anterior. A variação média desses itens, da ordem de 10,6%, deverá ser a maior da série histórica iniciada em 2013, pressionada pela inflação corrente. Os itens medidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), acumulado em 12 meses, destacam as variações nos preços de eletrodomésticos, como refrigeradores (+27,8%) e fogões (+24,9%). Do mesmo modo, itens de mobiliário associados à data comemorativa também tendem a apresentar variação significativa (+19,4%), o que deverá desestimular a busca por esses produtos, especialmente considerando a tendência recente de elevação do custo do crédito.

Levantamento efetuado pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) identificou que, em maio de 2021, a taxa de juros básica da economia brasileira estava em 3,5% ao ano. Dez meses depois, os juros básicos já se situavam em 11,75% ao ano. No mesmo período, a taxa média de juros das principais operações de crédito saltou de 5,88% ao mês (ou 98,5% ao ano) para 6,57% ao mês (ou 145,9% ao ano).

O ramo de vestuário, calçados e acessórios, que costuma responder pela maior fatia das vendas, deve seguir liderando este ano, com previsão de faturamento de R$ 6,69 bilhões, avanço de 1,4% em relação ao registrado no ano passado. Por outro lado, os segmentos de utilidades domésticas e eletroeletrônicos (R$ 2,33 bilhões) e móveis e eletrodomésticos (R$ 2,29 bilhões) devem apresentar quedas de 9,3% e 9,5%, respectivamente.

Maior aumento

Da mesma maneira, pesquisa efetuada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) com base em 31 produtos e serviços do Índice de Preços ao Consumidor – Mercado (IPC-M) sinalizou que os presentes e serviços mais procurados para o Dia das Mães tiveram, nos últimos 12 meses, o maior aumento registrado para essa cesta nos últimos 20 anos, de 9%, ligeiramente abaixo da inflação acumulada no período, de 10,37%. Em 2003, o reajuste foi de 10,83%.

De acordo com a sondagem, os serviços lideraram a inflação, com alta de 13,79%, puxada pelas passagens aéreas, cujos preços evoluíram 72,83%. Ainda na cesta de serviços, restaurantes subiram 8,13%, hotéis (5,72%), excursões e tours (4,54%) e salões de beleza (4,19%), embora ficassem abaixo da inflação geral.

Segundo o pesquisador e economista do Ibre Matheus Peçanha, assim como no ano passado, as atrações culturais continuam sendo as melhores opções para um bom programa com as mães, porque apresentam ainda preços próximos da estabilidade. Entre elas estão shows (0,12%), cinemas (1,33%) e teatros (1,42%).

Matheus Peçanha avaliou que a retomada pós-pandemia exerce papel importante nessa dinâmica. “O setor turístico apresentou um incremento na demanda que estava reprimida desde a pandemia da covid-19 e os preços estão refletindo isso. No caso dos restaurantes, ainda há o agravante do custo dos alimentos, que tem sido o foco da inflação recente”, disse.

Já entre a cesta dos presentes mais dados às mães nesse período, o economista informou que a cesta de 22 bens duráveis e semiduráveis teve crescimento médio de 4,25%. As maiores altas foram observadas, em especial, nos eletrodomésticos e no setor têxtil: cama, mesa e banho (11,04%), geladeira e freezer (8,73%), máquina de lavar roupas (7,5%), micro-ondas (6,75%) e roupas femininas (6,62%). Em contrapartida, os menores aumentos foram constatados em itens como perfume (0,15%), computadores e periféricos (0,34%), celulares (0,65%), artigos de maquiagem (0,92%) e fogão (1,97%).