Com classe dividida, líderes de caminhoneiros decidem não aderir à paralisação
Em reunião com lideranças da categoria em Catalão neste domingo, houve consenso de que esse não era o melhor momento para um novo protesto
Líderes dos caminhoneiros, em reunião comandada por Wallace Landin, conhecido como Chorão e um dos principais representantes do setor, decidiram não aderir a uma eventual nova paralisação da categoria neste momento. Os trabalhadores avaliavam a medida após o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Fux suspender as multas para empresas que não cumprissem as tabelas de preço mínimo para o frete.
Em reunião com lideranças da categoria em Catalão (GO) neste domingo (9), houve consenso de que esse não era o melhor momento para uma nova paralisação. Ao grupo, Chorão disse que a decisão não cabia a ele, e sim a todos os presentes.
Entre os motivos apontados pelos participantes para não parar agora estão a promessa de que a AGU (Advocacia Geral da União) entrará com recurso contra a liminar de Fux e a iminente posse do governo de Jair Bolsonaro (PSL), do qual esperam boa vontade. Além disso, participantes lembraram que o final de ano é de baixo movimento do setor, o que deixa os caminhoneiros em maior dificuldade financeira e diminui o efeito de uma eventual paralisação.
Durante a discussão, caminhoneiros afirmaram que a responsabilidade por fazer a tabela do frete ser cumprida também é da categoria, que precisa negar ofertas com valor abaixo do exigido pela tabela. Por outro lado, os caminhoneiros presentes no encontro esperam que aconteçam pelo país alguns movimentos isolados nos próximos dias.
“Catalão não vai aderir a esse movimento, que deve ser isolado. Vão dizer que Catalão é frouxo. Nós já mostramos que aqui não tem frouxo nenhum, nós já fechamos a pista, se precisar a gente vai parar, não vai carregar frete abaixo do preço”, disse Chorão na reunião.
À reportagem, ele disse acreditar que a multa não é a única forma de fazer a tabela do frete ser cumprida. Ele espera que a ANTT (Agência Nacional dos Transportes Terrestres) passe a exigir de todos os caminhoneiros uma DTE (Documento de Transporte Eletrônico), que seria obrigatória em todo transporte de mercadorias.
Esse documento só seria obtido se o preço praticado estivesse dentro do exigido pela lei –caso contrário, o sistema eletrônico poderia travar sua emissão. Chorão também defende união dos trabalhadores para fazer a lei ser cumprida:
“Nós, da categoria, temos de lutar por nossos direitos. Não precisa fechar rodovia, não precisa fazer nada. É só não levar carga abaixo do piso mínimo.”
A Abcam (Associação Brasileira de Caminhoneiros) disse estar monitorando se haverá paralisação da categoria, que segue dividida sobre se deve ou não tomar a medida neste momento. A medida provisória editada pelo governo de Michel Temer em maio que instituiu a tabela do frete foi aprovada pelo Congresso em julho e sancionada pelo presidente em agosto.
Na decisão que suspendeu as punições para quem não a seguir, Fux atendeu a um pleito da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) para analisar com urgência um pedido de medida cautelar que visava suspender a tabela do frete. O magistrado destacou, na decisão, informações do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que afirmam que o tabelamento gerou “entraves e prejuízos”.