Com ração em granjas e soja indo para porto, setor agrícola inicia retomada
Com passagem liberada nas estradas, cerca de 1/3 de frigoríficos voltaram a funcionar. Cálculo da CNA aponta prejuízo de mais de R$ 6 bi em razão de bloqueios rodoviários
Com a desobstrução parcial das estradas nesta quarta-feira (30), o setor agrícola deu início, lentamente, à retomada de suas atividades.
Cerca de um terço dos frigoríficos do país voltou a funcionar e caminhões de soja seguiram para o porto -mas as usinas de açúcar e álcool permaneciam com problemas. A situação deve demorar alguns dias para se normalizar.
Cálculo preliminar da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) aponta um prejuízo de R$ 6,6 bilhões para o setor agrícola por causa da paralisação dos caminhoneiros, mas esse número deve ser atualizado em breve. O setor, que vem sustentando a recuperação da economia brasileira, promete ser um dos mais afetados.
Durante os dez dias de bloqueio das estradas, cujo tráfego só agora começa a se normalizar, 70 milhões de aves morreram de inanição ou canibalismo, 300 milhões de litros de leite foram perdidos e todos os frigoríficos e usinas de cana de açúcar do país pararam de funcionar.
Diante da dimensão das perdas, os produtores de grãos, que vinham apoiando o movimento dos caminhoneiros -porque também são afetados pelo aumento do óleo diesel-, foram obrigados a recuar, principalmente por causa da pressão dos frigoríficos e criadores de animais.
Nas granjas de aves e suínos, onde a situação é mais crítica, começou a chegar de 10% a 30% da ração diária nesta quarta, aliviando a fome dos animais e reduzindo as mortes -que, ainda assim, continuaram a ocorrer.
“O desespero dos bichinhos quando a ração chega é impressionante”, diz Ricardo Santin, diretor-executivo da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
De acordo com a entidade, 46 frigoríficos voltaram a funcionar parcialmente em todo o país e outros seis devem retomar os abates em breve, o que significa 30% do total de 170 plantas. As unidades que retomaram as operações pertencem a diferentes empresas, como Aurora, BRF, Seara e Copacol. O ritmo dos trabalhos, no entanto, é lento.
No setor de soja, que também foi afetado pela paralisação, caminhões com o grão destinado à exportação voltaram a trafegar rumo aos portos, após a desobstrução da estrada perto de Rondonópolis (MT), um dos principais canais de escoamento da produção agrícola país. Na última terça-feira (29), um piquete havia impedido que mais de cem veículos seguissem viagem.
As esmagadoras de soja, no entanto, ainda não retomaram as atividades, conforme a Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais). As fábricas, que produzem óleo e farelo, ainda não têm um estoque de grão suficiente que permita voltar a funcionar com segurança.
As usinas produtoras de açúcar e etanol também não retomaram completamente as atividades, com exceção de algumas fábricas na região de Presidente Prudente (SP). Segundo a Unica (União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo), a moagem da cana foi retomada de forma intermitente. O setor estima em R$ 180 milhões o prejuízo diário provocado pela greve.
As atividades ainda não foram restabelecidas porque as usinas não receberam o diesel necessário para a operação das máquinas, apesar da redução do número de bloqueios nas estradas. O combustível está sendo enviado prioritariamente a serviços essenciais e aos consumidores.
Também não vem sendo possível embarcar o etanol, porque os mesmos caminhões que deveriam chegar com o diesel são aqueles que levam o combustível produzido nas usinas. O etanol que chegou aos postos nesta quarta é do tipo anidro, que já estava no estoque nas distribuidoras. Ainda há pouca disponibilidade de etanol hidratado, que vem direto das usinas, nas cidades.
“Assim que o fluxo de caminhões se normalizar, o setor tem condições de atender à demanda dos consumidores por etanol, porque os estoques nas usinas chegam a mais de 40 dia de consumo, apesar da interrupção da moagem”, diz Antônio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica.