Com reforço de segurança contra extremistas, atos pró-Trump ficam esvaziados
Havia mais policiais e jornalistas que manifestantes nas ruas de Washington e de capitais estaduais
Um grande contingente de agentes das forças de segurança ocupou as ruas de Washington e de outras cidades americanas neste domingo (17), quando estavam marcados uma série de atos em apoio a Donald Trump. De maneira geral, porém, as manifestações atraíram apenas um pequeno número de seguidores do presidente que acreditam nas infundadas acusações do republicano de que as eleições foram fraudadas.
Vários estados americanos acionaram as tropas da Guarda Nacional para aumentar a proteção de seus prédios oficiais. O movimento de reforço veio em resposta ao alerta divulgado pelo FBI (polícia federal americana) sobre o risco de manifestações armadas de grupos extremistas encorajados pelo ataque ao Congresso dos EUA no último dia 6. Até o momento, não houve registro de violência nos atos deste domingo,
As medidas de segurança são uma forma de precaução para que os atos que chocaram o mundo durante a invasão do Capitólio no momento em que congressistas se reuniam para certificar a vitória de Joe Biden não se repitam, mesmo em menores proporções, nos dias que antecedem a posse do democrata, marcada para a próxima quarta-feira (20).
Este domingo era um dos grandes pontos de atenção das autoridades de segurança por ter sido a data escolhida semanas atrás para manifestações em todos os 50 estados organizadas pelo movimento boogaloo, uma milícia de extrema direita que se prepara para uma suposta segunda guerra civil americana.
Havia ainda um estado de alerta especial nas capitais de estados onde a disputa entre Trump e o presidente eleito, Joe Biden, foi mais acirrada, como Michigan e Pensilvânia. Durante o dia, entretanto, o número de manifestantes que foram às ruas nessas cidades foi superado com folga pela quantidade de agentes das forças de segurança e até de profissionais de imprensa.
“Não está acontecendo nada”, disse à agência de notícias Reuters um dos poucos apoiadores de Trump que estavam em frente à assembleia estadual em Harrisburg, capital da Pensilvânia.
Alex, 34, não quis revelar seu sobrenome e disse que esteve em Washington no dia do ataque do Capitólio, mas não chegou a invadir o prédio. No protesto esvaziado deste domingo, ele usava um moletom com os dizeres “Fraude 2020”, ecoando o discurso sem base em evidências de Trump.
Em Lansing, capital de Michigan, as autoridades fecharam ruas, e muitos prédios taparam suas janelas com placas de madeira por medo da violência. Apesar da preocupação, apenas um grupo pequeno de pessoas se reuniu em frente à sede do Legislativo local. Alguns membros portavam fuzis e usavam coletes militares e camisas com estampas havaianas, uma das marcas registradas do movimento boogaloo.
Também havia um integrante com uma bandeira em que se lia “don’t tread on me” (não pise em mim), o lema presente na bandeira de Gadsden, um símbolo que remete à Guerra de Independência dos EUA e hoje está cada vez mais associada ao ultraconservadorismo.
Em Atlanta, na Geórgia, centenas de policiais e tropas da Guarda Nacional cercaram o prédio do Legislativo estadual. Cercas de arame farpado e barreiras de concreto também foram erguidas para proteger o terreno da assembleia local enquanto veículos blindados foram posicionados nas proximidades.
Autoridades em estados como Texas e Kentucky foram além e fecharam completamente o acesso do público aos seus respectivos prédios do Legislativo, em resposta aos alertas emitidos pelo FBI e por outras agências federais.
Diante do temor de que milícias e grupos extremistas armados partam recorram novamente à violência para explorar a frustração dos que acreditam que a derrota de Trump é resultado de uma fraude generalizada, milhares de agentes da Guarda Nacional foram mobilizados para Washington antes da posse de Biden.
Neste domingo, o centro da capital americana tornou-se uma cidade-fantasma. Nas ruas, o que se via eram policiais e soldados com armas em punho dispostos em pontos estratégicos e grandes veículos militares posicionados para bloquear o trânsito.
Ainda não está claro se os reforços na segurança inibirão completamente as manifestações pró-Trump até a posse, mas alguns líderes de grupos extremistas disseram para seus seguidores ficarem em casa alegando risco de que a presença das tropas possa ter sido planejada como uma armadilha para prendê-los.
“Temos que nos preocupar com nossas próprias comunidades”, disse à Reuters o líder da milícia Light Foot, da Pensilvânia, Bob Gardner, justificando sua ausência nas manifestações. “Não nos envolvemos na política.”