ECONOMIA

Comerciantes de Goiás buscam incentivo para manter negócios durante a pandemia

O restaurante especializado em carne de Marcelo Manoel, localizado no bairro Santa Luzia, em Aparecida…

O restaurante especializado em carne de Marcelo Manoel, localizado no bairro Santa Luzia, em Aparecida de Goiânia, estava de vento em popa. Embora fora da rota, contava com faturamento de pelo menos R$ 500 mil por mês e com clientela fiel e qualificada. O ano de 2020 seria para o proprietário o pulo do gato. Iria crescer ainda mais. No entanto, não contava com a pandemia. Além dele, milhares de empresários tiveram dificuldades causadas pelas medidas de combate à Covid-19 e precisaram de ajuda do governo e de entidades ligadas ao setor produtivo.

De acordo com dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), das 618 mil empresas, entre Micro Empreendedores Individuais (MEI) e de pequeno porte, registradas em Goiás, pelo menos 70% tiveram queda substanciais no rendimento durante 2020. As áreas mais afetadas foram alimentação, turismo, economia criativa e beleza. Empresas que ainda hoje necessitam de reestruturação e reorientação.

Marcelo Manoel foi pego pela pandemia no contrapé. O restaurante vinha de uma ascensão e por isso mesmo com investimento alto feito antes da entrada da Covid-19 no país. Com as medidas implantadas a partir de março de 2020 precisou fechar. Com 25 funcionários, acabou se endividando para pagar as contas, além de R$ 200 mil de acertos trabalhistas, empréstimos e contas diárias.

“Trabalho com a margem de lucro pequena, de 40% em um prato. Em Goiânia, no Setor Marista, por exemplo, um restaurante pode tirar 200%. Mas minha qualidade é alta”, diz. “Eu só não fechei porque tinha esse trabalho de longo prazo. Já tinha delivery estruturado e clientela sólida. Mas ainda assim tenho dificuldades. Duas datas comemorativas, como dia das mães e dia dos namorados, já em 2021, usei somente para pagar contas”, afirma.

Sem auxílio do governo

Acostumado a participar de pregões públicos há pelo menos uma década, Erivanildo Pereira, se viu em uma situação ainda pior. Com empresa voltada para fabricação de bandeiras, usadas principalmente em eventos públicos, se viu com a produção praticamente zerada. O empresário diz que não conseguiu junto aos governos federal e estadual nenhum tipo de incentivo. “Não tive auxílio, mas consegui manter todos os 10 funcionários na empresa. O que nos salvou foi o estoque de produtos de pronta entrega já fabricados”, aponta.

A empresária do ramo de publicidade, Suellen Gouveia, também passou por turbulências durante a pandemia. Mas com a empresa toda baseada em casa, avalia que não foi tão impactada pelas medidas de distanciamento social, justamente por já trabalhar de forma remota desde antes das medidas implantadas para combate ao coronavírus. Ela aponta que além disso, sempre buscou orientações para microempresários como ela, junto ao Sesi.

“Empreender para mim foi uma escolha motivada principalmente pelo meu foco de carreira para este momento. Não foi algo decidido por conta de dificuldades. Por isso, já vim munida de saberes que busquei junto a essas entidades voltadas para pequenos empreendedores”, diz.

Perspectivas com a reabertura

Embora impactados de formas diferentes e buscando superar os piores efeitos da pandemia, os três empresários são unânimes em apontar dificuldades ou simplesmente falta de acesso a incentivos dos governos federal, estadual e municipal. A Medida Provisória 1045, de 27 de abril de 2020, que instituiu o programa emergencial de manutenção do emprego e renda, embora tenha segurado parte das contratações, não foi o suficiente.

O presidente da Associação Comercial, Industrial e Empresarial da Região Leste de Aparecida de Goiânia (Acirlag), Maione Padeiro, aponta que na cidade da Região Metropolitana ainda em 2021 todos têm sido impactados principalmente pelo que chama de insegurança jurídica, política e sanitária. Ele avalia que o cenário da pandemia ao não ser controlado de forma satisfatória cria angústias nos empresários, diante da possibilidade de novos fechamentos.

“Muitos empresários fizeram investimentos e temem pelo futuro. Com o avanço da vacinação e consequente queda no número de internações e mortes o cenário é de esperança. A Acirlag bate na porta da Secretaria de Economia para tentar reverter a situação dos impostos e tributos que acumularam durante a pandemia, que é um fator que requer atenção do poder público. Precisamos da união do poder público para reverter a situação, com incentivos para pequeno e micro empreendedores. Estamos lutando para uma retomada”, relata.

Entidades buscam ocupar vácuo deixado pelo governo

Sandro Mabel diz que empresários são responsáveis pela geração de empregos em Goiás (Foto: Fieg – Divulgação)

Na tentativa de ocupar esse vácuo deixado pelos governos, as entidades de classe oferecem opções para tentar orientar empresários e empreendedores. O presidente da Federação das Industrias do Estado de Goiás (Fieg), Sandro Mabel, avalia que Goiás teve um desempenho na geração de empregos graças aos investimentos dos empresários. Além disso, destaca que a capacitação dos trabalhadores facilita as novas contratações.

De acordo com dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a indústria teve saldo positivo de 21.700 postos de trabalho.  “Funcionamos durante a pandemia graças a nossa insistência. Assim, passamos a vender para outros estados e ganhomos mercados, nos ramos da alimentação, higiene e limpeza”, aponta Sandro Mabel.

Para se ter uma ideia, somente em 2021, o Senai já registrou mais de 91 mil matrículas. “Nos próximos anos vamos investir R$ 400 milhões a mais em escolas, laboratórios para que a população tenha acesso a formação qualificada. Estamos apostando em um salto da indústria e do emprego em Goiás”, destaca o presidente da Fieg.

Adaptação

Diretor presidente do Sebrae Goiás, Antônio Carlos de Souza Lima
Diretor presidente do Sebrae Goiás, Antônio Carlos de Souza Lima diz que as empresas precisam se adaptar (Foto: Sebrae – Divulgação)

O diretor superintendente do Sebrae, Antônio Carlos de Souza Lima Neto, avalia que a principal dificuldade encontrada pelos empresários no período é sobretudo se adaptar à nova realidade de e-commerce e aos atendimentos remotos.

Para isso, ele diz que é importante que os empresários e empreendedores estejam atentos e busquem consultoria. Segundo Antônio Carlos, é preciso orientar na tomada de crédito, para manutenção do capital de giro, além da facilitação da acessibilidade, que são as demandas consideradas mais urgentes do período.

“A pandemia e consequente mudança de hábito de consumo, acabaram acelerando uma tendência que já vinha se firmando de digitalização dos negócios. Muitos empresários, que não estavam preparados, foram pegos de surpresa, alguns conseguiram se adaptar, outros tantos não resistiram. O trabalho a ser feito é justamente esse de adaptação à nova realidade”, salienta.