Confrontos entre Israel e Hamas já deixam 83 palestinos e 7 israelenses mortos
Ataques mais recentes de foguetes do grupo islamita, por sua vez, atingiram um prédio perto do centro comercial de Tel Aviv,
Os confrontos entre Israel e o Hamas entraram em seu quarto dia nesta quinta-feira e não dão sinais de cessar. Ao menos 83 palestinos, incluindo 17 crianças, e sete israelenses, entre eles um menino de 5 anos, morreram desde segunda-feira. Em paralelo, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reforçou o número de soldados nas fronteiras com o enclave, deixando-as em “vários níveis de preparação”.
Desde o estopim da onda mais recente de violência, a pior desde a invasão israelense em Gaza de 2014, Tel Aviv afirma que pouco mais de mil dos 1.639 foguetes lançados de Gaza caíram de fato território israelense. A maior parte deles foi interceptado pelo Domo de Ferro, o potente sistema anti-mísseis do país, mas 264 atingiram áreas com construções.
Os israelenses, por sua vez, atacaram cerca de 600 pontos na Faixa de Gaza, afirmando mirar em instalações, túneis, armazéns e casas usados pelo Hamas e por suas lideranças. Na quarta, mataram quatro comandantes do grupo islamita, entre eles Bassem Issa, o chefe do seu braço armado na cidade de Gaza. Há relatos, contudo, de ataques contra áreas civis e campos de refugiados, por exemplo.
Segundo o canal al-Arabiya, Tel Aviv disse aos mediadores egípcios que desembarcaram em Israel que não irão concordar com um cessar-fogo até ao menos sábado. Na noite de quarta, uma reunião do gabinete de segurança, com Netanyahu e outros ministros, terminou com as autoridades decidindo intensificar os ataques. O Hamas, por sua vez, sinaliza estar disposto a parar desde que Israel faça o mesmo.
Desde a noite de quarta-feira, Israel derrubou um prédio residencial de três andares na cidade de Gaza, afirmando que ele pertencia ao Hamas. Nos últimos dias, derrubaram ao menos outros três edifícios com mais de 10 andares, entre eles uma torre, na segunda, que abrigava escritórios da emissora palestina al-Aqsa.
Os ataques mais recentes de foguetes do grupo islamita, por sua vez, atingiram um prédio perto do centro comercial de Tel Aviv, ferindo quatro pessoas. Sirenes tocam várias vezes ao dia em boa parte do país, particularmente nas cidades no Sul, perto da fronteira. Diversas companhias aéreas cancelaram seus voos.
Reforço nas fronteiras
Israel, em paralelo, disse ter reforçado sua presença militar na fronteira, afirmando que seus soldados estão em “vários estágios de preparação de operações no solo”, disse um porta-voz. A manobra, se concretizada, remeterá às incursões feitas pelo país em 2014 e em 2008 e 2009.
As autoridades de Gaza, por sua vez, afirmam que os ataques, que já deixam mais de 480 feridos em seu território, sobrecarregam um sistema de saúde já extenuado pela pandemia de Covid-19. Elas afirmam também que investigam diversas mortes que supostamente ocorreram durante a madrugada devido à inalação de gases tóxicos. Dizem, contudo, que irão esperar o resultado dos testes para tirar conclusões.
Não há registro de novas mortes em Israel desde a noite de quarta (tarde, no Brasil), quando um menino de 5 anos foi morto após um ataque na cidade de Sderot, a cerca de 2 km da fronteira, lançado em represália à morte dos comandantes do Hamas.
As outras mortes israelenses incluem um soldado que patrulhava a região limítrofe com o enclave, um pai e sua filha adolescente em Lod, no centro do país, duas mulheres em Ashkelon e uma terceira nos subúrbios de Tel Aviv, na terça, nos primeiros ataques do Hamas contra a cidade desde 2017.
Simultaneamente, protestos de árabes-israelenses em solidariedade aos palestinos tomam o país, levando Israel a anunciar o reforço do policiamento nas cidades. Durante a noite, grupos de judeus de extrema direita foram vistos em bairros árabes em cidades como Lod, onde foi declarado estado de emergência, Haifa, Acre e Jaffa, onde um homem que enganosamente achavam ser árabe-israelense foi linchado até quase a morte.
— Eu pretendo pôr os militares nas ruas para restaurar a ordem (…). Nós vimos baderneiros árabes pôr fogo em sinagogas, veículos e atacar a polícia. — disse Netanyahu, antes de se dirigir aos judeus. — Eu não me importo se o seu sangue está fervendo, mas você não pode fazer justiça com suas próprias mãos. Você não pode agarrar um cidadão árabe qualquer e tentar linchá-lo. Assim como não podemos deixar os árabes fazerem isso com os judeus.
Despejos de Sheikh Jarrah
O estopim para a escalada foi a violência de segunda-feira na mesquita de al-Aqsa, o terceiro lugar mais sagrado para o Islã, quando a polícia israelense feriu mais de 300 palestinos. A cidade é uma panela de pressão desde o início do mês do Ramadã — que terminou na quarta — devido à ameaça de expulsão das quatro famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, ocupada por Israel em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias.
A Suprema Corte deveria ter decidido na segunda se permitiria um recurso ou se manteria a decisão de expulsar os 30 adultos e 10 crianças, mas adiou o veredicto no domingo para algum momento nos próximos 30 dias.
As quatro famílias palestinas afirmam que vivem na região desde 1950, quando foram realocadas pela Jordânia após serem forçadas a abandonar suas casas em Jerusalém Ocidental e Haifa durante a guerra com os vizinhos árabes que se seguiu à criação do Estado de Israel, em 1948. O temor é que seu despejo, algo que a ONU caracterizou como um possível “crime de guerra”, crie precedentes para expulsões em ampla escala.
Os israelenses que entraram com a ação, por sua vez, dizem que compraram as propriedades legalmente de duas associações judaicas que as haviam adquirido no final do século XIX. Pela lei local, se os judeus puderem provar que sua família vivia em Jerusalém Oriental antes de 1948, teriam o “direito à propriedade”. Não há legislação semelhante que permita aos palestinos fazer o mesmo em Jerusalém Ocidental ou outras partes do que hoje é o território reconhecido de Israel.