Contratação de seguro de vida cresce entre jovens na pandemia
A pandemia fez com que a contratação de seguros de vida aumentasse desde o ano…
A pandemia fez com que a contratação de seguros de vida aumentasse desde o ano passado. O crescimento expressivo na faixa etária até 30 anos é o que mais tem chamado a atenção do mercado, que já começa a lançar produtos pensados especialmente para jovens, com acessórios como assistência pet, coaching e telemedicina.
A grande aposta das operadoras são produtos que, apesar de terem como foco o pagamento aos dependentes do segurado em caso de morte, oferecem benefícios para serem usufruídos em vida.
Foi isso que atraiu o atleta Guilherme Malheiros, de 21 anos, para o contrato de um seguro de vida no início da pandemia. Boa parte de sua renda vem das competições de crossfit.
Com a interrupção dos eventos desde o ano passado, ele percebeu que precisaria de algum tipo de segurança. Por não ter carteira assinada e nem contribuir para o INSS, Malheiros não tem direito a benefícios como auxílios-doença e invalidez.
— Com o seguro, tenho cobertura por morte, invalidez, doenças graves e internação. Meu contrato ainda dá opção de resgatar o dinheiro — diz.
Segundo o vice-presidente da Comissão Atuarial da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), Nelson Emiliano, o mercado se surpreendeu com o aumento de contratações de seguro de vida em um cenário de retração na economia e desemprego.
A pandemia, diz, foi um catalisador, mas a oferta de produtos mais alinhados às necessidades do consumidor também contribuiu, avalia:
— Sem emprego, as pessoas perderam planos de saúde, benefícios previdenciários, e os seguros de vida trazem hoje assistências para doenças graves, internação, incapacidade temporária, cirurgias.
Serviços atraem
O segmento encerrou o ano de 2020 com alta de 11,3% frente a 2019, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep). No primeiro trimestre de 2021, o crescimento é de 14,6% em relação ao mesmo período de 2020, correspondendo a um aumento de R$ 670 milhões na arrecadação de prêmios.
— A idade média de contratação dos seguros de vida tem crescido na faixa etária dos 30 aos 35 anos — diz Emiliano.
A Brasilseg, empresa da BB Seguros, identificou aumento de 204% no público de até 20 anos no ano passado, percentual que subiu para 252% neste primeiro trimestre.
Na faixa até 25 anos o crescimento foi de 81% e na de até 30 anos, de 66% em 2020. De janeiro a março deste ano, as altas foram ainda maiores: 114% e 85%, respectivamente.
Entre os motivos para esse aumento, Rodrigo Caramez, presidente da Brasilseg, destaca o crescimento dos canais digitais e o lançamento de “soluções para a vida”. Ele cita o aumento na contratação de seguros que incluem serviços para animais de estimação, terapia on-line, coaching e locação de equipamentos ortopédicos:
— Um dos benefícios que têm feito muito sucesso entre os jovens é o mapeamento genético. As pessoas têm tido muita curiosidade.
A MAG Seguros registrou alta de 36% no grupo de clientes até 30 anos de idade no primeiro quadrimestre de 2021 ante mesmo período de 2020.
— É um crescimento significativo, considerando um público que sempre foi menos sensível a fazer planos para proteger a renda e a família — aponta Marcio Batistuti, diretor de Varejo da seguradora.
Entre as novidades lançadas pela empresa está um plano com valor mais acessível no qual os beneficiários são os pais, e não os filhos, explica:
— Com o aumento das mortes por Covid-19 entre pessoas mais novas, muitos jovens que contribuem para o sustento dos pais idosos começaram a se preocupar em deixar algum tipo de amparo para eles.
Heverton Peixoto, presidente da Wiz, chama atenção para o aumento da busca ativa por seguros de vida, tradicionalmente adquiridos por oferta do gerente de banco.
— Está deixando de ser um produto ofertado para ser um demandado, e isso tem desafiado o mercado tradicional. O seguro de vida resgatável, por exemplo, foi uma grande evolução — ressalta Peixoto em referência à modalidade que permite o resgate de um percentual do prêmio total pago após um prazo de carência.
Na avaliação dos executivos, o seguro de vida tem perdido a conotação negativa que já teve, por tratar da morte, um assunto ainda tabu.
— As pessoas acordaram para o fato de que seguro faz parte de um planejamento de vida, não é um assunto macabro — analisa Caramez.
Espaço para crescer
Uma pesquisa feita pela Prudential do Brasil, em parceria com o Ibope, em 2019, revelou que 15% dos brasileiros tinham seguro de vida. E só 20% dos entrevistados disseram ter interesse de adquiri-lo em 2020. Entre jovens de 16 a 24 anos, só 12% tinham o seguro e 31% demonstraram interesse na contratação antes da pandemia.
Hoje 10% da base de clientes da Prudential do Brasil são de jovens até 30 anos. Em 2020, quase 20% do total de vendas foram para esse grupo. E o percentual deve seguir em alta.
— O Brasil ainda tem muito espaço para crescimento, especialmente entre jovens e população de baixa renda. Hoje há seguros a partir de R$ 9 mensais — destaca Emiliano, da Fenaprevi.