Debatedores dizem que Brasil deixou papel de mediador na América Latina
Para Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV, historicamente, o Brasil assumia uma posição de liderança que facilitava o diálogo entre os vizinhos
As crises na América Latina têm em comum a ausência do Brasil como liderança da região, concordaram os convidados para o debate promovido pela Folha de S.Paulo na última segunda-feira (11), com o intuito de discutir a conjuntura política do continente.
O evento reuniu Maria Hermínia Tavares de Almeida, pesquisadora do Cebrap, Breno Altman, jornalista e diretor editorial do site Opera Mundi, e Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da FGV. A mediação foi feita pelo editor de Mundo da Folha de S.Paulo, Daigo Oliva.
Para Stuenkel, historicamente, o Brasil assumia uma posição de liderança que facilitava o diálogo entre os vizinhos. Hoje, o contexto é o oposto. “Não temos líderes na região com capacidade e interesse de diálogo.” O caráter antagônico das relações entre países da América Latina foi reiterado por Altman. Na visão do jornalista, o cenário de crise está vinculado ao que ele chama de contradição: a oposição do neoliberalismo à democracia. “Um programa neoliberal só pode ser implementado com a retirada de liberdades democráticas”, afirmou.
Uma leitura conjunta, entretanto, é considerada por Almeida “uma perda de tempo”. Para a cientista política, crises como a da Bolívia, Chile e Equador respondem a fatores internos muito distintos entre si. “Não existe voz única nas ruas. Soluções serão diferentes para diferentes países”, analisou.
Stuenkel também comentou a relação do governo brasileiro com o presidente eleito da Argentina. Jair Bolsonaro lamentou a eleição de Alberto Fernández e disse que não pretende parabenizá-lo. “Demonizar o outro lado é sempre ótimo para as bases, mas quem paga o preço é a América Latina”, disse o professor.