Desânimo com política impacta vendas de itens para a Copa do Mundo em Goiânia
Camisetas, bolas, bandeiras e outros itens podem ter vendas reduzidas este ano. Levantamento realizado pelo Mais Goiás revela baixas expectativas entre lojistas
A menos de 10 dias para o início da Copa do Mundo da Rússia, é parca a movimentação do goianiense para o maior evento do futebol mundial. Seja pelo afamado placar obtido no jogo contra a seleção alemã em 2014, falta de dinheiro ou motivos políticos, o clima ainda é de desânimo, o que tem gerado repercussões negativas no mercado. A expectativa de lojistas, porém, é de que tudo ainda possa mudar com um possível bom desempenho da seleção do campeonato.
Essa é esperança do gerente-geral de uma loja de materiais esportivos Alexandre Sobrosa. Para ele, a situação está “morna” e tem raízes, inclusive na greve dos caminhoneiros. “O pessoal está sem aquela motivação típica de copa. Tivemos várias semanas de episódios econômicos desfavoráveis a qualquer atividade de consumo. A greve dos caminhoneiros traz uma perspectiva pessimista porque tudo fica mais caro”.
No entanto, um sinal de que tudo pode mudar foi o jogo amistoso do Brasil contra a Croácia, em que a Canarinho saiu vitoriosa com placar de 2×0. “Isso repercutiu bem. Foi o primeiro indicativo que tivemos de que as vendas podem melhorar. Tivemos 12 itens vendidos e 32 ligações de procura por camisas oficiais da seleção. O número é grande, porque até então não havíamos registrado nada. Por outro lado, a expectativa com a copa é boa e a movimentação deve começar com os jogos, dependendo do desempenho do time”.
Desânimo
Para o gerente comercial de outra rede de lojas Lucas Botelho de Moura, o clima de desânimo também tem relações com o momento político-econômico do Brasil. No entanto, ele alerta que, desde meados de 2014, com o advento da crise, houve uma mudança no comportamento do consumidor.
Esse clima morno é sentido pelo varejo há algum tempo. Vem mesmo de um cenário econômico e político de incertezas. O consumidor fica com o orçamento comprometido e não tem reserva para itens supérfluos. Todavia, o brasileiro tem deixado essa compra para a última hora. Esperamos que o Dia dos Namorados (12) e a semana após a data sejam de boas vendas. De um modo ou de outro, o comportamento vai se voltar para a copa do mundo”.
Para ele, o momento está aquém das expectativas. “Não existe empolgação, clientes não procuram itens dentro das lojas. Bandeiras e camisas comemorativas estão em baixa. Isso é reflexo da situação econômica, descrença com a política e, talvez, até de um resquício de decepção com o desempenho da seleção em 2014”.
Redução
Para o comprador de materiais esportivos de uma rede de lojas em Goiânia, as vendas estão dentro do esperado, embora este esteja aquém se comparado com a última copa de 2014. “Reduzimos as compras em 50% em relação à última copa, porém está dentro do esperado. Agora o pessoal está mais pé no chão. Apesar de o Tite estar acumulando vitórias, resolvemos fazer uma aposta menor este ano”.
A explicação também está no momento político. “A insatisfação com política também reflete no ânimo das pessoas. Se bem que a tendência que é a mídia fale menos de política agora e mais de futebol. Mas as pessoas estão chateadas e ainda teve a greve dos caminhoneiros que encareceu algumas coisas e comprometeu estoques.
Dia dos Namorados
Embora a decepção com a política seja latente entre os brasileiros, o gerente-geral de outra loja Rogério Augusto afirma que a população não irá deixar a seleção “na mão”. Para ele, o torcedor vai assistir os jogos e acabará entrando no clima. “Por enquanto não estão muito atentos ou empolgados, mas também foi assim em 2014, quando vivíamos outro momento político e econômico. Nossa expectativa é que o movimento se repita este ano, com início da empolgação a partir do Dia dos Namorados”.
Nessa época, revela ele, a camisa oficial da seleção foi o item mais desejado no que se refere a artigos esportivos. “Para homens, esse é um dos melhores presentes. Na copa passada quase esgotamos o estoque. Já estamos vendendo camisas, não ‘tá aquela coisa’, mas registramos algumas vendas e tem gente pesquisando e procurando”.
Posições antagônicas
Proprietário de uma gráfica, Raoni Pires Mendonça tem uma visão mais pessimista desta copa. “Fizemos muitas bandeiras e camisetas na copa passada. Para essa, a coisa tá parada. Temos vendido mais camisas vermelhas do Brasil do que as famosas verdes e amarelas. Fazemos itens para a copa, mas a expectativa é de queda de 50% nas vendas. Acho que o motivo é uma mistura do 7×1 e da associação das camisas amarelas com movimentos políticos. Antes ninguém te julgava, hoje a situação é diferente”.
Na contramão de Raoni, o lojista Fernando Faustino de Miranda tem uma posição otimista para o evento futebolístico. “Tem 20 anos que faço camisetas para a copa e todo ano é a mesma coisa. É morno antes de o evento iniciar, mas depois todo mundo fica louco atrás de produtos. A expectativa de vendas é boa. Copa é quase igual Natal, aquece bem. Esperamos aumento de pelo menos 40% no faturamento”.
Posição institucional
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Goiânia, Geovar Pereira, reforça que o comércio, em geral, está desmotivado, mas explica que o desânimo é natural. “Toda vez, nesse período, é assim. As pessoas deixam para comprar de última hora. Nesse ano, entretanto, a tendência é de que as vendas sejam inferiores à última edição”.
Para ele, o maior motivo é o desequilíbrio econômico do País. “Pequenos e microempresários, principalmente, tem outras preocupações, com folha de pagamento, por exemplo. Isso reflete nas vendas muitas vezes porque também o empresário deixa de comprar por medo de não conseguir pagar ou de não vender. São coisas que trazem transtornos e tem raízes na política”.
Na torcida
O torcedor José Eduardo Castroviejo Vilela (63) possui a mesma visão dos lojistas. Segundo ele, as possibilidades de empolgação com a Copa são mínimas diante de um cenário problemático na política e economia do país. Porém, a torcida será mantida. “Agente não vai deixar de torcer, mas realmente o clima está diferente. Nem parece que vai ter copa. Não se houve comentários e nem se nota expectativas nas pessoas. A gente vai assistir o jogo, mas não há aquele ânimo. Os coisas ruins estão apagando as coisas boas”.