CÚPULA DOS LIDERES SOBRE O CLIMA

Deter o aquecimento global é um imperativo moral e econômico, diz Biden

Xi promete reduzir uso de carvão até 2030; Canadá, Reino Unido e Japão anunciam metas mais ambiciosas de redução das emissões

Foto: reprodução - Twitter

Está acontecendo nesta quinta-feira a Cúpula dos Líderes sobre o Clima, evento organizado pelo presidente americano Joe Biden, que busca estabelecer uma inédita liderança americana no tema climático. Pressionado para adotar compromissos ambientais mais ambiciosos, o presidente Jair Bolsonaro discursa na sessão de abertura, ao lado de outros 26 presidentes e primeiros-ministros, incluindo o próprio Biden, o chinês Xi Jinping e o russo Vladimir Putin. Ao todo, mais de 40 líderes internacionais participarão da conferência de dois dias, incluindo o Papa Francisco.

Biden se compromete a cortar as emissões americanas pela metade

Na abertura de sua Cúpula de Líderes sobre o Clima, o presidente Joe Biden disse que esta é a década decisiva para evitar um cataclisma, afirmando se tratar de um imperativo moral e climático. Usando o evento como o carro-chefe de sua reivindicação de uma liderança global na questão climática, ele afirmou que os EUA respondem por menos de 15% das emissões globais e que “nenhuma nação pode resolver sozinha” o problema da liberação de poluentes.

Biden se comprometeu em cortar pela metade emissões americanas até o fim da década, reduzindo-as de 50 a 52% em comparação com os níveis de 2005, mas não divulgou um plano detalhado de como pretende fazê-lo. A meta anterior, que havia sido firmada pelo então presidente Barack Obama no âmbito do Acordo de Paris, previa uma redução de 26 a 28% até 2025.

— Os sinais são inconfundíveis, a ciência é inegável e os custos na falta de ação continuam a se acumular —disse Biden.

Com o objetivo, que só poderá ser atingido com mudanças significativas nas indústrias e no estilo de vida americano, o líder americano pretende convencer outras nações a adotarem compromissos mais ambiciosos. Isso, a seu ver, é fundamental para que o aumento das emissões seja restrito a 1,5 grau Celsius, como é reivindicado pelo Acordo de Paris.

Complementando a fala de Biden, Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA, afirmou EUA vão mobilizar recursos, do governo e da iniciativa privada, inclusive tecnológicos, para que o mundo atinja seus objetivos ambientais.

Angela Merkel ressalta retorno americano à cena climática

A chanceler Angela Merkel começou seu discurso ressaltando a importância do retorno americano ao debate, após os reveses durante os anos de Donald Trump, que tirou os EUA do Acordo de Paris. Biden retornou ao pacto durante o primeiro dia de seu governo.

Ela ressaltou que a redução das emissões globais é uma “tarefa hercúlea”, que provocará uma mudança completa sobre como fazer negócios. Falando sobre o progresso alemão, disse que o país já reduziu suas emissões em 40% em comparação com os níveis registrados em 1990, e pretende reduzir pela metade a liberação de poluentes, também comparado a 1990. O país zeraria suas emissões em 2050, compromisso assumido por toda a  União Europeia no início da semana.

De acordo com Merkel, a recuperação da economia global após a pandemia do coronavírus deve ocorrer através do investimento em tecnologias renováveis, em vez do uso de combustíveis fósseis. Além disso, reforçou, os países desenvolvidos devem prestar “solidariedade” às nações em desenvolvimento, comprometendo-se com as doações para o fundo que destinará US$ 100 bilhões anuais até 2050 para políticas de adaptação às mudanças climáticas.

Canadá promete neutralidade do carbono até 2050

Justin Trudeau, primeiro-ministro canadense, marcou sua posição lembrando que o meio ambiente só será salvo se houver um compartilhamento de “paz e prosperidade” entre todos os povos do mundo. Ele afirmou que o Canadá tem feito sua parte e anunciou metas ainda mais ousadas para seu país: redução de 40% a 45% das emissões de 2005 para 2030, contra meta anterior de corte de 30%,  e ser um país de emissão líquida zero até 2050. Ele lembrou ainda que precisamos confiar na ciência, que deu provas de sua eficácia ao desenvolver tão rapidamente a vacina contra a Covid-19.

Japão também se compromete com neutralidade do carbono até 2050

O primeiro-ministro do Japão, Yoshihide Suga, começou seu discurso ressaltando a urgência do debate e do combate à emergência climatica. Ele reafirmou o compromisso de atingir a neutralidade do carbono até 2050 e reduzir suas emissões em 46% até o fim da década. A meta, ele disse, demandará esforços, mas faz parte de uma tentativa japonesa de demonstrar sua liderança na questão global, afirmando que trabalha em um plano complexo para garantir que o objetivo seja atingido.

Suga também se comprometeu em avançar em direção a uma energia circular, criando uma economia verde e trabalho. Ele ressaltou que a neutralidade do carbono não será atingida por um só país, demandando compromisso de todo o planeta, especialmente dos países mais poluentes. Destacando sua visita à Washington na semana passada, se comprometeu a auxiliar países em desenvolvimento, em especial na região do Pacífico, e em aumentar suas contribuições para fundos internacionais.

Boris Johnson refende maior empenho das nações desenvolvidas

De acordo com o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, o compromisso com a redução de emissões de gases estufa provocará um “impacto transformativo na luta global contra as mudanças climáticas”. Boris afirmou que os países desenvolvidos têm a obrigação de “fazer mais”.

— Como anfitriões da COP-26 (que ocorrerá em Glasgow, na Escócia, em novembro), queremos ver mais ambições em todo o mundo.Precisamos dos cientistas para que todos os países trabalhem juntos para produzir as soluções tecnológicas que precisamos.

O primeiro-ministro britânico reconhece que há um “desafio político”. Ainda assim, segundo ele, as nações desenvolvidas devem se espenhar para investir ainda mais que US$ 100 bilhões anuais na adaptação de países em desenvolvimento contra as mudanças climáticas. O fundo climático foi estabelecido no Acordo de Paris, em 2015.

Modi cobra atuação de países desenvolvidos no combate à crise climática

Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, foi o primeiro líder mundial a lembrar que o mundo está passando pela pandemia. Ao mesmo tempo em que pedia a cooperação, lembrou que seu país fez sua parte e lembrou que a “pegada ambiental” de seu país é 60% menor que a média global e que sua nação reduziu suas emissões em 24% e superou as metas que havia estabelecido no Acordo de Paris. Afirmando que milhões de pessoas em todo o planeta já sentem os efeitos das mudanças climáticas, Modi cobrou a atuação dos países desenvolvidos

Xi promete neutralidade do carbono até 2060

O presidente chinês, Xi Jinping, se comprometeu nesta quinta a atingir a neutralidade do carbono — ou seja, a emissão zero — até 2060.  Maior poluente do mundo, ele prometeu controlar o consumo de carvão entre 2021 e 2025 e reduzi-lo gradativamente ativamente entre 2026 até 2030. Mais cedo nesta quinta, a agência reguladora de energia da China disse que pretende reduzir a presença do carvão em sua matriz energética para menos de 56% neste ano, mas ainda continua a ser um dos poucos países a aprovar novos projetos que têm o produto como matéria.

Xi reforçou a necessidade de “responsabilidades comuns, mas diferenciadas”, ressaltando que os países desenvolvidos devem aumentar ações para reduzir as emissões de gases estufa em seus países e contribuir para políticas de combate à redução de poluentes nas nações em desenvolvimento.

O conceito de “responsabilidades comuns, mas diferenciadas” já provocou impasses nas conferências climáticas, devido à resistência de nações desenvolvidas em financiar, além de nações pobres, países emergentes, como Brasil e a própria China. Xi defendeu ainda maior multilateralismo no combate à emergência climática e o respeito ao Acordo de Paris — pacto abandonado pelos EUA durante o governo Trump, para o qual Biden retorno no primeiro dia do seu governo.

Secretário-geral da ONU pede que países ricos financiem a transição tecnológica

António Guterres, secretário-geral da ONU, afirmou, em sua fala na cúpula, que a “mãe natureza não pode mais esperar” e, mais que discursos, cobrou ações específicas de todos os países. “Precisamos traduzir as promessas em ação concreta e imediata”, afirmou o líder, lembrando que antes da conferência do clima de Glasgow, prevista para novembro, é preciso ter compromissos claros para prover tecnologia para que todos os países do mundo possam alcançar seus objetivos climáticos e pediu que os países ricos financiem a transição tecnológica.

Abertura começa com apelo para união global

A Cúpula dos Líderes sobre o Clima começou com um vídeo fazendo uma apelo para que o planeta adote compromissos mais contundentes para limitar o aquecimento global a 1,5oC em comparação com os níveis pré-industriais.

— É imperativo que trabalhamos juntos para enfrentar essa crise — disse a vice-presidente Kamala Harris.

https://www.emaisgoias.com.br/comeca-a-cupula-do-clima-promovida-por-joe-biden-acompanhe-ao-vivo/