Dólar fecha sessão perto da estabilidade e acumula alta de 1,86% na semana
Depois de operar em queda firme pela manhã, diante da expectativa de que uma eventual…
Depois de operar em queda firme pela manhã, diante da expectativa de que uma eventual alta mais pronunciada da taxa Selic, na esteira do IPCA-15 de julho, aumente a atratividade da renda fixa brasileira, o dólar ganhou força à tarde e, em meio a muita volatilidade, fechou praticamente estável.
A percepção nas mesas de operação é que o comportamento do dólar no exterior, aliado ao quadro político interno conturbado, acabou levando investidores a realizar lucros e recompor posições defensivas, algo típico em véspera de fim de semana. Além disso, a liquidez é reduzida (cerca de US$ 10 bilhões no contrato futuro para agosto), o que torna o mercado muito suscetível a oscilações mais fortes e abruptas.
Com mínima de R$ 5,1590 pela manhã, quando chegou a recuar mais de 1%, e máxima de R$ 5,2330 (à tarde), o dólar à vista fechou praticamente estável, a R$ 5,2105 (-0,05%). A moeda americana encerra a semana com valorização de 1,86%, em razão, sobretudo, do avanço de 2,64% na segunda-feira, 19, no auge dos temores com eventual impacto da disseminação da variante Delta do coronavírus sobre o crescimento global. Em julho, a alta acumulada é de 4,77%.
Pela manhã, o real esboçou uma rodada de forte apreciação, na esteira da divulgação de alta de 0,72% do IPCA em julho. Apesar de ter desacelerado em relação a junho (0,83%), o índice veio acima das expectativas, de 0,65%, pela mediana do Projeções Broadcast. Além disso, houve uma aceleração do segmento de Serviços, mais sensível ao ritmo da atividade econômica.
Para o sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o resultado do IPCA-15 fez o mercado começar a flertar com a possibilidade de a taxa Selic atingir 7% ou 7,5% no fim do ano, em uma eventual aceleração do ritmo de aperto monetário, de 0,75 ponto para 1 ponto porcentual, já na reunião do Copom em agosto. “Isso aumenta a atratividade da renda fixa e ajuda a tirar um pouco de pressão sobre o dólar, o que explica esse alívio pontual da taxa de câmbio mais cedo”, diz Velho.
Para o economista, uma eventual rodada de apreciação do real esbarra, contudo, em obstáculos externos e domésticos. Por aqui, começa a surgir uma preocupação com a questão fiscal, diante do temor de uma guinada populista do governo Jair Bolsonaro, que deu mais espaço ao Centrão no governo e já se prepara para as eleições de 2022.
“É preciso ver com atenção qual vai ser a proposta orçamentária de 2022 e o tamanho do reajuste do Bolsa família para saber a direção que o governo vai tomar”, diz Velho, ressaltando que o rearranjo ministerial, com o avanço do Centrão, consolida o apoio político ao presidente Jair Bolsonaro e tira o impeachment do radar, mas pode agravar a pressão por gastos.
Velho também destaca que o real pode sofrer com o fortalecimento global do dólar diante da expectativa crescente de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) possa começar a reduzir o ritmo de estímulos monetários. Isso inibiria as operações de ‘carry trade’, apesar de a liquidez seguir farta e da expectativa de taxa Selic mais elevada.
O economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, ressalta que as bolsas americanas se recuperaram da onda de aversão ao risco, mas o índice DXY não “está conseguindo acompanhar”, porque a “verdadeira preocupação do mercado” é com o início da redução de compra de bônus pelo Fed, o chamado ‘tapering’.
“A cepa Delta pode provocar aumento do número de casos, mas não de hospitalizações e mortes, porque as vacinas são eficazes. O que assusta é a inflação nos Estados Unidos e a resposta do Fed”, diz Miraglia, que aposta em início do ‘tapering’ ainda neste ano, o que limitaria espaço para queda adicional do dólar por aqui.